POV Sophia Sinclair O breu da noite parecia engolir cada som, cada sombra, como se o mundo inteiro tivesse parado para assistir o que estávamos prestes a fazer. Gabe estava ao meu lado, postura rígida, olhos varrendo o perímetro com a atenção de quem já viu o pior e sobreviveu. À frente, Enzo falava baixo com Matthias, ambos focados no mapa digital que brilhava na tela do celular. O plano estava claro: infiltrar, identificar e resgatar. Tráfico humano. Algo tão sujo que só de pensar eu sentia náusea. E, no meio disso tudo, eu... a “princesa Sinclair” tentando provar que não era só um peso morto. — Última chance de ficar no carro — Matthias falou sem me olhar, ajustando o colete. — Não, Kane. — Engoli seco. — Não sou do tipo que assiste o incêndio de camarote. Ele me lançou aquele olhar rápido, carregado de advertência, mas não insistiu. Gabe trocou um olhar com ele, como se dissesse “te avisei”. Nos movemos em silêncio até a lateral do galpão abandonado. Lá dentro, segundo as inf

POV Sophia Sinclair Meu quarto parecia menor naquela noite. Talvez fosse o silêncio, ou a forma como as paredes pareciam se fechar em volta de mim. Eu estava sentada na beira da cama, ainda com a roupa do dia, como se trocar fosse admitir que o dia tinha acabado. Mas não tinha acabado para mim. Não depois do que aconteceu. O eco das vozes no galpão ainda vibrava nos meus ouvidos. O aperto frio do cano de uma arma na minha têmpora, o cheiro metálico do medo no ar… e o olhar dele. Matthias. Frio e certeiro por fora, mas queimando por dentro. Ele me tirou de lá como se fosse capaz de enfrentar o mundo inteiro com as próprias mãos. E, de certa forma, ele era. Passei a mão pelos braços, como se pudesse apagar os vestígios do que senti quando fui usada como escudo humano. Um arrepio subiu pela espinha. E, por baixo da raiva de ter me colocado em perigo, havia algo pior: a sensação de que não ia conseguir ficar longe dele, por mais que tentasse. Suspirei e me joguei para trás na cama,

POV Sophia Sinclair Voltei para a pista com a sensação de que meus pés não me obedeciam. A música vibrava como antes, as luzes piscavam como antes, mas nada era igual. Eu ainda sentia os lábios de Matthias nos meus, como se ele tivesse deixado uma marca invisível, uma tatuagem que ardia sob a pele. Izzy me puxou de volta para dançar, girando como se o mundo fosse leve. Eu tentei acompanhar, mas meu corpo estava em outro lugar. Minha mente… presa naquela maldita porta do banheiro. — Tá tudo bem? — Izzy gritou por cima da batida, me olhando com aquela sobrancelha arqueada que conhecia cada detalhe da minha vida. — Tô ótima! — respondi, fingindo. Sorriso forçado, passos desajeitados, uma Sophia versão "piloto automático". Noah apareceu logo depois, abraçando Izzy por trás e me lançando aquele olhar desconfiado. — Você parece que viu um fantasma. Eu ri. De nervoso. — Algo assim. Mas enquanto eles se divertiam, eu sabia que não estava sozinha. Eu sentia o peso de um olhar. Forte.

POV Sophia SinclairOs dias passaram como páginas que eu não queria ler, mas que se viravam sozinhas diante dos meus olhos. Não importava o quanto eu tentasse segurar, o quanto desejasse congelar o tempo, ele simplesmente seguia, arrastando junto todas as mudanças que vieram sem pedir licença.Matthias e seus homens estavam mergulhados na missão contra a rede de tráfico humano. Eu sabia apenas o necessário ou talvez, o mínimo, porque todos insistiam em me manter fora. Era como se eu fosse uma peça frágil demais no tabuleiro, uma boneca de porcelana que poderia se despedaçar ao menor toque. A verdade? Eu já estava despedaçada. Só que eles não enxergavam isso.Meu pai, Richard, passava boa parte dos dias trancado no escritório da mansão, escondendo segredos atrás de portas pesadas e olhares que sempre me diziam menos do que eu precisava saber. Eu havia desistido de tentar arrancar respostas dele. Richard Sinclair falava apenas quando queria, e sempre de forma a parecer uma ordem.Então

POV Sophia SinclairO relógio da sala de reuniões parecia zombar de mim. O tic-tac metálico cortava o silêncio, acompanhando a sensação de que eu estava presa dentro de um jogo que não escolhi jogar. Eu encarava o rosto sério de meu pai à minha frente, e tudo dentro de mim gritava para fugir.Richard Sinclair. O homem que o mundo temia. O homem que eu deveria admirar, respeitar… mas que naquele instante eu só conseguia odiar.— Você não está entendendo, Sophia — a voz dele soou firme, carregada da autoridade que sempre usava contra mim. — O noivado com Matteo é uma decisão estratégica. Vai garantir a sua segurança e consolidar nossas alianças.Minhas mãos se fecharam em punho sobre a mesa de madeira.— Segurança? — repeti, engasgada entre incredulidade e repulsa. — Pai, Matteo está envolvido no tráfico de mulheres. Você sabe disso! Eu mesma vi os relatórios! — Minha voz subiu, firme, mesmo que o peito queimasse de raiva. — Como pode me entregar para alguém assim?Ele me encarou em sil