POV Matthias KaneO carro parou diante da mansão Sinclair com a madrugada já avançada. O baile tinha acabado em caos, e ainda assim, Richard fazia questão de manter a fachada intacta. Eu, por outro lado, já não tinha paciência para máscaras.Sophia estava exausta, os olhos marejados ainda refletindo o susto. Eu não desgrudei dela por um segundo desde que a tirei dos braços de Matteo. Caminhei com ela até o quarto, ignorando os olhares dos empregados que se fingiam de cegos diante do escândalo.No corredor, Gabe seguia atrás de nós, mas mantinha distância. Havia um peso em seus olhos, uma mistura de raiva e silêncio, mas não era hora de lidar com isso. Minha prioridade era ela. Sempre seria ela.Empurrei a porta do quarto devagar e a conduzi para dentro. Sophia se sentou na beira da cama, segurando o vestido esmeralda como se ainda tentasse arrancar de si os restos das mãos que a haviam segurado. Me agachei diante dela, tomando seu rosto entre minhas mãos.— Você está segura agora — mu

POV Richard SinclairO silêncio do meu escritório sempre foi minha armadura. O cheiro de couro e de charuto queimado era a lembrança constante de quem eu era: um homem que construiu impérios sobre sangue, medo e respeito. Mas naquela noite, a armadura parecia trincada.A luz do abajur lançava sombras sobre a mesa entulhada de relatórios. Eu não conseguia me concentrar neles. Meus olhos, vez ou outra, deslizavam para a fotografia emoldurada que ficava ao lado do telefone. A mulher sorridente, com os olhos claros e a vida inteira pela frente, me encarava como um fantasma.Minha esposa.A mãe da Sophia.Passei a ponta dos dedos sobre o vidro, lembrando da última vez que a vi viva. Do corpo frágil que a doença consumiu, da sensação de impotência que me rasgava por dentro. Eu, que sempre tive a solução para cada guerra, cada rival, cada ameaça… nada pude fazer para salvá-la.E é esse vazio que nunca cicatrizou.Quando a perdi, jurei a mim mesmo que nunca deixaria o mesmo destino tocar minh

POV Sophia SinclairAinda com os olhos marejados pela conversa com meu pai, senti o peito apertado.Ele me contara como a máfia tinha arrancado minha mãe de nós, e como a proximidade com Matthias também tinha sido um dos fatores. Mas uma pergunta ficou latejando na minha mente como um tambor: e a ex dele?Eu precisava saber.Não bastava entender o passado da minha mãe. Eu precisava encarar o passado de Matthias também. Vittoria não era apenas um nome na boca dos inimigos. Ela estava viva, presente, venenosa e de algum jeito, sempre orbitando ao redor dele e de mim.Subi as escadas devagar, cada passo um peso, até o quarto do meu pai novamente. Ele já apagava as luzes, como se tentasse enterrar tudo que tinha confessado. Mas eu não lhe dei tempo.— Pai. — Minha voz cortou o silêncio. — O que aconteceu com a ex-noiva do Matthias?Ele congelou por um segundo. Virou-se para mim com aquele olhar que usava sempre que eu tocava em feridas antigas.— Não é assunto para você.— Tudo é assunto

POV Sophia SinclairA mansão estava mergulhada no silêncio, quebrado apenas pelo ranger distante da madeira quando o vento soprava lá fora. Eu estava no quarto, pronta para dormir.Deitei, puxei as cobertas até o queixo e fechei os olhos, tentando buscar algum descanso depois de um dia que parecia ter durado uma vida inteira.Mas o sono não veio.A mente estava agitada demais. O peso da conversa com meu pai ainda pulsava dentro de mim, junto com as palavras de Enzo sobre Lianna. Era como se cada revelação fosse um fantasma novo ocupando espaço no meu peito.Então, ouvi.Batidas baixas, discretas, na porta.Sentei na cama de sobressalto, o coração acelerado. Quem estaria ali àquela hora? A mansão dormia, Gabe provavelmente ainda montava guarda, e meu pai raramente se levantava à noite.— Entre — murmurei, hesitante.A porta se abriu devagar, revelando a silhueta inconfundível.Matthias.Meu corpo inteiro reagiu antes da mente. O coração acelerou, as mãos tremeram. Ele entrou em silênci

POV Gabe KaneO silêncio era um inimigo maior do que qualquer bala.Ela estava ali, diante de mim, tão próxima que eu podia sentir o perfume leve de seu cabelo misturado ao vapor que ainda grudava na minha pele. E eu, coberto apenas por uma toalha, exposto como nunca, sem armas, sem máscaras. Só eu e a verdade que escondi durante anos.— Eu… preciso ir — ela disse, a voz trêmula, desviando o olhar.O instinto gritou dentro de mim. Se a deixasse sair, nunca mais teria coragem de dizer o que queimava no meu peito.Dei um passo à frente e a barreira invisível entre nós estalou.— Sophia, espera. — Minha voz saiu mais urgente do que planejei. — Não fuja de mim. Não desta vez.Ela parou, de costas para mim, o corpo rígido.Respirei fundo, sentindo cada músculo implorar para que eu me calasse, mas meu coração não suportava mais o silêncio.— Você ouviu… não é? — perguntei, a garganta seca. — O que eu disse no chuveiro.Ela hesitou, apenas um segundo, mas foi suficiente para eu saber.— Eu n