A data da festa de gala se aproximava, e com ela, uma tensão silenciosa se instalava entre Jéssica e Leon. Os dias, antes preenchidos com mensagens constantes e videochamadas, tornaram-se mais esparsos, pontuados por trocas rápidas e muitas vezes incompletas. Para Jéssica, os últimos dias foram um turbilhão. A Áurea estava a todo vapor, com reuniões diárias com a equipe para o planejamento do lançamento. O Sr. Stevens, ou Henry, como ele insistia em ser chamado, era onipresente. Sua energia era inegável, e seu profissionalismo, impecável. Ele parecia ter um talento especial para estar no lugar certo na hora certa, sempre com uma sugestão útil ou um elogio bem-colocado. Leon, por sua vez, sentia a distância crescer a cada dia, e não era apenas a distância física. A cada mensagem de texto, a cada ligação não atendida, o nó em seu estômago se apertava. Ele tentava ser compreensivo, repetindo para si mesmo que Jéssica estava ocupada, que era o maior momento de sua carreira. Os irmãos

De repente, o ar pareceu denso e irrespirável para Leon. A noite da gala, brilhava com o triunfo de Jéssica, enquanto ele estava confinado ao quarto de visitas do hospital, o celular ao lado do travesseiro, a cabeça a mil. A ligação de Jéssica mais cedo, com a voz carregada de uma compreensão dolorosa, mas também de uma distância quase palpável, ainda ecoava em sua mente. Ele havia tentado ser forte, dizer que entendia, mas cada fibra de seu ser ansiava por estar ao lado dela. Para piorar a situação, a mãe de Leon, desde a cirurgia do pai, estava em uma espiral descendente de depressão e ansiedade. As crises eram frequentes e imprevisíveis. Num momento, ela estava chorando copiosamente, no outro, explodia em raiva por qualquer miudeza, ou reclamava incessantemente dos enfermeiros, dos médicos, da comida do hospital. Ela não conseguia dormir, mal comia e drenava a pouca energia que Leo e seus irmãos ainda tinham. Ele já havia passado as últimas três horas tentando acalmá-la depois de

Os dias seguintes se arrastaram, pesados e intermináveis, cada um deles uma réplica amarga do anterior para Leon. O celular, antes uma extensão de Jéssica, agora era um objeto de tortura. Vibrava com suas chamadas, acendia com suas mensagens, mas Leon se recusava a atender. Ele respondia, sim, com frases curtas e evasivas: "Estou ocupado", "Resolvendo algumas coisas", "Falo com você depois". A verdade é que ele não conseguia confrontá-la sobre a foto. A imagem, ainda vívida em sua mente, era um muro entre eles, um muro que ele não sabia como derrubar ou como escalar. E, paradoxalmente, ele também não conseguia seguir em frente. A ideia de uma vida sem Jéssica era um vazio insuportável. Do outro lado da linha, Jéssica sentia o abandono se instalar. As respostas mornas de Leon, a ausência de sua voz, a falta de uma explicação, de um confronto – tudo isso confirmava seus piores medos. Era a história se repetindo, como um disco arranhado. No passado, a família Hawksmoor havia sido um cat

Uma batida discreta na porta chamou a atenção de Liam. Antes que ele pudesse responder, a porta se abriu e um homem alto, bem vestido em um terno sob medida, entrou no escritório. Seus cabelos eram bem penteados e seus olhos transmitiam uma inteligência serena. _ Com licença, Sr. Hawksmoor, disse o recém-chegado, sua voz calma e profissional. _ Perdão pela interrupção, achei que estava sozinho, devo informá-lo sobre a agenda da manhã? Liam virou-se completamente, com um leve aceno de cabeça. _Sem problemas, Henry. Entre. Ele então se voltou para Leon, um brilho de formalidade substituindo o sarcasmo em seus olhos. _ Leon, você se lembra de Henry, meu assistente? Henry cumprimentou com um sorriso educado. _ Sr. Hawksmoor. Ouvi que aprovaram o financiamento do Porto. Parabéns! Leon, ainda um pouco atordoado pela conversa com Liam, apenas acenou em reconhecimento. Ele observou a postura impecável do assistente, um contraste gritante com sua própria desordem emocional

A notícia atingiu Leon como um balde de água fria. Outra cidade. Ele dirigiu por horas, impulsionado pela urgência do remorso e da decisão, apenas para encontrá-la ausente. A frustração era palpável, misturada à exaustão e à pontada familiar da ansiedade. Ele agradeceu a Janice e se virou, a desilusão evidente em cada passo de volta para o carro. A verdade, que ele tanto buscava, parecia sempre um passo à frente. Leon sentiu um aperto no peito. Jéssica não estava. Uma pontada de desespero o atingiu, mas foi rapidamente substituída por uma teimosia crescente. Ele não percorreria todo aquele caminho, e se abriria para uma possível rejeição, para desistir agora. Dirigindo pelas ruas que já estavam se esvaziando, Leon se lembrou da Pousada Sol e Sal. Um lugar familiar, um porto seguro em suas escapadas. Um sorriso agridoce surgiu em seus lábios. Dona Lourdes, a proprietária, era uma figura materna para muitos, e ele sabia que encontraria ali um pouco de paz para traçar seu próximo passo