Pedro finalmente reage, se aproxima de mim e me beija com vontade. É um beijo diferente dos outros que já recebi dele. É quente, mas não apressado. É delicado e um pouco urgente. Sinto meu estômago dar voltas, uma sensação leve e inquieta, como se milhares de borboletas estivessem presas ali, se debatendo para escapar. Me pego desejando que ele continue, só mais um pouco. Ficamos assim por um tempo, apenas entre beijos e suspiros, até que, num impulso, sou eu quem toma a iniciativa. Deslizo minhas mãos por debaixo da blusa dele e a levanto devagar. Ele ergue os braços em silêncio, me deixando tirá-la. Depois, com mais cuidado ainda, ele faz o mesmo com a minha.E então o silêncio entre nós muda, fica mais tímido.Me vejo ali, com o coração disparado, envergonhada por imaginar que vou ficar pelada na frente dele. Nunca imaginei que esse momento seria com o Pedro. Nunca imaginei que eu escolheria alguém que não amo. Mas, ao mesmo tempo, nunca me senti tão… segura.Ele estende as mãos

O sinal do intervalo toca, e dessa vez não fomos ao refeitório. Rafael me puxou pela mão e fomos direto para o pátio aberto, onde os grupos de alunos se espalham pelo gramado, bancos e corredores. O sol de fim de manhã aquece levemente o ambiente e uma brisa agradável passa pelos nossos rostos. Nos sentamos no gramado, eu ao lado de Rafael, com as pernas esticadas, e minha mochila servindo de encosto. Diana está logo à minha direita, e do outro lado de Rafael estão Augusto e Camila. Eles conversam, riem, comem ou compartilham fofocas, principalmente Camila, que parece saber da vida de todo mundo.- Eu ainda não acredito que vocês estão juntos. - comenta Camila, dando um sorrisinho empolgado enquanto me encara - Mas de certa forma, eu já imaginei que aconteceria algo assim desde a peça.- A gente está muito feliz por vocês dois. - acrescenta Diana, cutucando meu braço e depois sussurrando para mim - Que sortuda que você é…Eu confirmo com a cabeça, sorrindo de volta para ela, me senti

Acabamos de chegar na casa do Rafael. Quando ele me havia perguntado, no carro, se tinha problema virmos para cá, respondi com confiança que não. Mas agora que estou aqui, sentada ao seu lado na frente do computador, outra vez, sinto um nervosismo crescente dentro de mim. Eu sei que não deveria me sentir assim, esse lugar já não é mais desconhecido, é apenas um quarto, mas um quarto que me intimida um pouco.O monitor ilumina seu rosto com uma luz suave. Ele é tão bonito. Amo seus cabelos ondulados, seus olhos castanhos, seu nariz reto e sua boca gostosa. Ele está tão perto que sinto o calor do corpo dele se espalhando pelo ar e seu cheiro me invade como sempre. A mão dele está sobre o mouse e seus olhos estão na tela.Mas do nada, ele vira o rosto na minha direção e me encara.- É estranho… - ele murmura, pausando para pensar - agora que eu posso te beijar sem me preocupar com nada, eu fico nervoso.Sorrio de leve. Meu coração se acelera por saber que estamos na mesma.- Eu sinto o m

Me deito de barriga para cima para olhar para o teto do meu quarto, como se isso fosse me dar alguma resposta. A luz do fim de tarde entra pela porta de vidro da sacada e pinta a parede com um tom dourado meio melancólico. É engraçado como o ambiente nos mostra exatamente como estamos por dentro.Pego meu celular e abro o meu chat com Rafael, mas rapidamente o fecho de novo. Nenhuma notificação nova, desde que voltei, mas também nenhuma cobrança. Eu sei que ele não me cobra, que quem me cobra sou eu mesma, mas como posso não me preocupar demais? Como posso não tentar dar o meu melhor? Quando decido fazer algo que vai contra o que ele quer, ele fica… desapontado. Sei que eu não deveria ter mentido sobre minha mãe me obrigar a estudar com o Pedro, mas ele me entenderia se eu dissesse que quero isso? Sei que não, ele não me diria isso com todas as letras, mas eu saberia pelo seu silêncio, ou por uma resposta mais seca. Apesar do encontro na sorveteria ter sido ótimo, gostaria de ter alg

Me jogo na cama novamente com o caderno nas mãos. Pedro dobrou a página para facilitar a localização da lista, mas como eu sou curiosa, não resisto e dou uma olhada geral no conteúdo antes. Parece uma espécie de diário, porém, sem datas, só páginas repletas de assuntos aleatórios: alguns sobre a escola e outros mais pessoais, como se ele simplesmente usasse o caderno para pensar alto.Folheio as primeiras páginas, querendo descobrir um pouco mais sobre como era o Pedro antes de me conhecer. Me lembro perfeitamente do medo que sentia dele quando cheguei aqui, pensava que ele era quase um psicopata. Ele era um tanto intimidador. Mas agora, apesar dele me irritar às vezes, eu o considero quase um amigo.“Acreditar nela foi o pior erro que cometi, mas também, o que eu esperava? Alguém que não consegue ficar sozinha nunca vai entender o que é amar de verdade… malditos olhos azuis.”O resto da frase vira um grande rabisco, como se ele tivesse se arrependido no meio do pensamento. “Olhos azu