Chiara encara os dedos entrelaçados em seu colo, como se pensasse nas melhores palavras para se justificar. — Porque você tem um coração bom demais para guardar rancor para sempre — ela finalmente responde. — E, porque sei que, no fundo, quer que seu filho tenha uma família completa. Fico em silêncio por um momento, pesando suas palavras. — Liz, não estou pedindo para esquecer o passado — Chiara continua. — Estou pedindo uma chance de construir um futuro melhor. — O que exatamente está propondo? — Começar devagar — diz, inclinando-se para frente. — Talvez… um almoço? Só nós duas? Para que possamos nos conhecer sem toda a tensão e drama. — E Ettore? O que pretende fazer para resolver sua situação com seu filho? — Deixe que eu me preocupe com o Ettore — responde, hesitante. — Primeiro quero ganhar sua confiança. Porque sei que, se você me der uma chance, ele também considerará. Olho para essa mulher que tanto me atormentou, procurando sinais de manipulação ou falsidade.

Após passar horas entre organizar as compras impulsivas que fizemos e discutir sobre nomes, acordo com a boca seca e uma vontade incontrolável de… figo com queijo de cabra. Sim, eu sei. É esquisito. Mas me dá vontade de chorar de tanta vontade que sinto. Me viro na cama, ofegante como se tivesse acabado de correr uma maratona, e cutuco Ettore no ombro. — Ettore… Ettore… Ele resmunga algo que não entendo e afunda ainda mais o rosto no travesseiro. — Amore… por favor, acorde. É sério. — Que foi, Piccola? Está tudo bem com o bebê? — Ele se senta num pulo, os cabelos bagunçados, o olhar assustado. — Está tudo ótimo — digo rápido, antes que ele ligue para emergência ou qualquer coisa do tipo. — Mas eu estou com desejo. Ele pisca, tentando entender o que acabou de ouvir. — Desejo? Que desejo? — Figo com queijo de cabra. E mel por cima. Mel de lavanda, isso! — Liz… são duas e vinte e três da manhã. — E o figo não vai esperar até amanhecer — cruzo os braços, com a expr

Quando finalmente conseguimos voltar à comida, Max está estranhamente quieto. Notei que ele mal tocou na lasanha, e isso é preocupante. Max NUNCA recusa comida italiana. Ettore também percebe. — Max, tudo bem? — ele pergunta, cutucando o amigo com o cotovelo. — Você está mais quieto que a Giulia quando ela está planejando falar alguma besteira. — Eu nunca fico quieta! — Giulia protesta, mas então olha para Max com os olhos estreitados. — Mas ele tem razão. Você está esquisito. Desde que chegamos aqui você está... diferente. Max engole em seco e eu vejo suas mãos tremendo ligeiramente quando ele pega o copo de vinho. — Eu... bem... — ele começa, e todos param de comer para olhar para ele. — Na verdade, já que estamos todos aqui, e já que hoje é uma noite especial... Giulia inclina a cabeça, curiosa. — Max, você está me assustando. O que aconteceu? Ele se levanta abruptamente, derrubando o guardanapo no chão, e todos nós ficamos em silêncio total. Até minha mãe para de mastigar

“Liz Bianchi” Trinta e oito semanas. É impressionante como tanta coisa pode mudar em poucos meses. Observo Ettore pendurando o último quadrinho na parede do quarto da nossa filha: um desenho delicado de borboletas. Me ajeito na poltrona de amamentação, apoiando os pés no puff, tentando encontrar uma posição confortável com essa barriga enorme. — Está torto — observo, sorrindo quando ele para e inclina a cabeça para conferir. — Não está torto — rebate, mas ajusta mesmo assim. — Melhor? — Perfeito — confirmo, acariciando a barriga distraidamente. É difícil acreditar em tudo que aconteceu desde que descobrimos o sexo do bebê. O mundo literalmente se reorganizou ao nosso redor. Antônio foi julgado e condenado a quinze anos de prisão por tentativa de homicídio qualificado, além de desvio de verbas e falsificação de documentos. Me senti aliviada quando a sentença saiu. Pelo menos ele não poderá machucar mais ninguém. Giorgio pegou oito anos por agressão, conspiração para sabotage

“Liz Bianchi” É impossível descrever o que sinto neste momento. Depois de nove meses carregando nossa filha, depois de horas de uma dor que achei que nunca acabaria, depois de fazer uma força que nem sabia que tinha… Ela está aqui. Nos meus braços. Real. Linda. Perfeita. A enfermeira a limpa rapidamente e a coloca sobre meu peito. O primeiro contato pele com pele é indescritível. É como se algo dentro de mim, que eu nem sabia que faltava, finalmente tivesse se encaixado. — Oi, minha princesinha — sussurro, e ela imediatamente para de chorar, como se reconhecesse minha voz. — Finalmente te conhecemos. Durante meses, imaginei como seria esse momento. Sonhei com seu rostinho, tentei adivinhar se teria os olhos do pai ou os meus, se seria calma ou agitada… Mas nada me preparou para essa sensação de amor avassalador. Instantâneo. Incondicional. — Posso… tocá-la? — Ettore pergunta, hesitante, me fazendo sorrir, ainda mais apaixonada. — Ela é sua filha, amore mio — respondo, rindo