CarolinaEu já estava desempregada há três meses quando comecei a sentir o peso real do desespero. As contas continuavam chegando, meu currículo rodava por tudo quanto era lugar e, mesmo assim, nada. Eu sabia do meu valor — sou inteligente, esforçada, trabalho bem, aprendo rápido — mas, na prática, nada parecia dar certo. Toda vez que eu achava que ia, vinha a decepção.Até que apareceu uma vaga de assistente contábil. O salário era justo, tinha benefícios e um horário normal. A vaga parecia feita sob medida. Quando fui chamada para entrevista, respirei fundo e pensei: é agora. E foi.No meu primeiro dia, descobri que trabalharia diretamente com o advogado da empresa. Detalhe: ele era casado com a filha do dono. Confesso que, de cara, torci o nariz. Pensei que seria mais um daqueles caras metidos, que vive de sobrenome e influência. Imaginava um babaca arrogante que só estava ali por causa do casamento.Mas bastou vê-lo pela primeira vez para me deixar em dúvida. Ele era bonito, sério

LuísaEu estava no café da manhã, lendo uma reportagem quando me deparei com uma matéria sobre um projeto social que atendia mulheres e crianças em situação de vulnerabilidade. O texto falava sobre histórias de superação, sobre mulheres que fugiram de relacionamentos abusivos, crianças que carregavam nos olhos marcas de medos que nenhuma infância deveria conhecer, mas que encontravam ali, naquele espaço, um abrigo, um recomeço. Aquilo mexeu comigo.Nos dias seguintes, aquele projeto não saía da minha cabeça. Pesquisei tudo que pude, entrei em contato com a coordenadora, e agendamos uma conversa. Fui até o espaço, uma casa simples, mas viva, com desenhos coloridos pelas paredes, cheiro de tinta, risadas e vozes femininas de todas as idades. Fui recebida com carinho e ouvi mais histórias do que eu imaginava. Era impossível não se envolver.Perguntei como poderia ajudar, e a coordenadora, com um sorriso acolhedor, respondeu: “Com o que você sabe. O que você ama fazer.” Falei sobre meu tr

LuísaEu acordei tão leve, tão descansada… Como há muito tempo não me sentia. Abri os olhos devagar, com a luz suave entrando pelas frestas da cortina. Estiquei a mão na cama, procurando pelo calor do corpo de Leonardo, mas só encontrei lençóis frios. Abri os olhos por completo, virei o rosto e olhei ao redor. O quarto estava vazio. A casa, em silêncio.— Leonardo? — chamei, sem resposta.Levantei devagar, vesti o roupão e fui até a sala. Nada. Passei pela cozinha e, de novo, ninguém. Achei estranho. O celular dele não estava no carregador e as chaves não estavam no lugar de sempre. Talvez tivesse saído para correr ou resolver alguma coisa. Preparei algo para comer e sentei-me à mesa. Comi devagar, pensando na noite anterior — no carinho, nos beijos longos e no amor. Quando terminei, lavei a louça, organizei algumas coisas pequenas na cozinha e depois me joguei no sofá.Peguei o celular e fiquei ali, deslizando os dedos pela tela, vendo ideias de decoração, imagens de quartos colorid

LuísaEu sei. Eu estava fugindo do combinado.A gente tinha decidido que ia apenas parar de evitar. Sem pressa, sem cobranças, sem tentar efetivamente. Só deixar acontecer, com calma. Mas essa semana… essa semana foi diferente. Uma ansiedade estranha tomou conta de mim. E antes que eu pudesse racionalizar, comprei dois testes de gravidez.Usei um agora há pouco. Sozinha no banheiro, enquanto Leonardo estava fora. E aqui estou eu, sentada na beirada da banheira, segurando o teste com aquele maldito "negativo" estampado sem nenhuma cerimônia.Suspirei. Eu sabia que era cedo. Só se passaram dois meses desde que decidimos parar de evitar. Era cedo demais para cobrança, pra frustração. Mas mesmo assim… no fundo, bem lá no fundo, eu queria ver aquele risquinho duplicado. Queria ver o "positivo", queria sentir que já tinha acontecido.Joguei o teste no lixo, lavei o rosto, e respirei fundo. Eu estava bem. Ia ficar tudo bem. Sempre fomos muito presentes um na vida do outro, sempre nos conecta

LuísaDesci do carro e respirei fundo. O ar era diferente ali. Mais fresco, úmido, com cheiro de mato, de água por perto, de tranquilidade. O tipo de lugar onde as pessoas vêm para esquecer do mundo — e eu teria o privilégio de ajudar a construir esse refúgio.O resort ainda era só uma ideia no papel e um terreno imenso cercado por verde, mas na minha cabeça já começava a tomar forma. Caminhei com cuidado entre o mato baixo e os pontos demarcados por estacas no chão, ouvindo as explicações do engenheiro responsável e as ideias preliminares do arquiteto.Era tanta coisa pra pensar, mas minha cabeça já trabalhava a mil.Vi a área da recepção e imaginei um lobby amplo, arejado, com madeira clara, plantas tropicais e móveis que convidam ao descanso. As suítes, distribuídas ao longo do terreno com privacidade e vista para a natureza, surgiam na minha mente como se já existissem. A área do spa, o restaurante com janelas de vidro, a piscina de borda infinita — tudo fluía dentro de mim como u