Parte 122...DomenicoO restaurante era daqueles tradicionais, com toalhas brancas, luz baixa, e um cheiro forte de azeite e vinho no ar. Mesas distantes, poucas pessoas, um ambiente mais reservado para negócios ou problemas que não podiam esperar.Carlo já estava ao lado da mesa quando cheguei, de braço cruzado e um olhar duro que parecia querer respostas rápidas. Pietro entrou logo depois, com o peso dos anos na postura e o olhar de quem carrega segredos. Os seguranças ficaram lá fora.— Sentem-se - ele ordenou, olhando pra gente com a autoridade que só um Don impunha.Nos acomodamos. Aquele silêncio espesso já dizia que o assunto era sério. Carlo foi direto.— Pietro, sobre o que Domenico nos contou, sobre o tal desvio do Teodoro.O Don soltou um suspiro longo, cansado.— Sim, eu já sabia. Há anos. Mas nunca consegui provar nada – fez um gesto chamando a garçonete — O que ele fez foi como um fantasma. Ele mexeu nos cofres, levou o que quis de fininho, sem que ninguém notasse de ime

Parte 124...AuroraA cadeira de balanço se movia devagar, o rangido discreto da corda misturado ao som do vento atravessando as folhas. A noite estava mais fresca, com o céu limpo e um punhado de estrelas espalhado entre os galhos altos da árvore. Às vezes, um ou outro vaga-lume passava, como se estivesse procurando algo.Eu vim me sentar aqui e Domenico me seguiu, sentando lado a lado naquela cadeira presa ao velho galho, a luz da varanda acesa atrás da gente, suave.O jantar tinha sido tranquilo, minha mãe estava de bom humor e Gisele insistiu que eu viesse descansar um pouco com ele.— Porque grávida também precisa pensar nos pés - ela disse, rindo. — Vá descansar e leve seu marido com você.Eu achei boa a ideia e vim para cá.Apoiei a cabeça no ombro dele, e ficamos em silêncio por um tempo. O corpo dele estava quente e o leve embalo da cadeira me acalmava. Mas não o suficiente pra esconder o nó que ainda estava no meu peito.— Eu vou ter que contar pra ela sobre o que os médicos

Parte 126...DomenicoEla arqueou uma sobrancelha.— Soube de alguma coisa?— Ainda não – apertei os olhos — E nem teria como, querida. Estava dormindo, mas vou levar aquela caixa pro Carlo e depois conversar com o Pietro. Se tem gente observando sua mãe a gente precisa entender o que é realmente.Ela assentiu, os olhos mais sérios agora.— Eu vou cuidar dela. E de mim.— Eu sei. Mas não custa reforçar.Beijei sua testa e me afastei pra me vestir. Enquanto terminava de ajustar o paletó, ela ainda estava sentada na cama, enrolada no lençol, com a expressão mais calma. Me aproximei de novo, abaixei e beijei a barriga.— Se comporta aí dentro, tá?— Você tá falando com quem? - ela perguntou, meio rindo.— Com os dois. Um pra não fazer vomitar a mulher que eu amo e o outro pra ela não sair sem avisar.Ela riu de leve e eu saí do quarto com a sensação de que por mais que o mundo rodasse lá fora, aquela casa ainda era meu ponto de equilíbrio.No pátio, o carro já me esperava. Cumprimentei o

Parte 128...AuroraEle se inclinou devagar e me beijou. Sem pressa e sem urgência. Um beijo cheio de saudade, de cuidado. Como se ele estivesse tentando gravar cada parte minha na memória, como se soubesse que o mundo lá fora podia mudar tudo a qualquer momento.Eu também estava com muito cuidado. Mesmo ele querendo mostrar que está bem, eu sei que a mente dele está cheia, o coração pesado e o corpo dolorido.As mãos dele encontraram as minhas, e nossos dedos se entrelaçaram sobre o travesseiro. A respiração dele no meu ouvido fazia minha pele vibrar. O toque dele era firme, presente, mas havia algo diferente dessa vez.Engraçado, era como se o amor também tivesse aprendido a ser mais calmo, mais maduro. Como se a gente estivesse reaprendendo um ao outro. No começo a gente era tão maluco um pelo outro e agora as coisas se ajustavam.— Me promete que vai cuidar de você também? - sussurrei, entre um beijo e outro, o nariz dele roçando o meu.Ele assentiu e murmurou contra minha pele:—

Parte 130...DomenicoFiquei ouvindo e participando da conversa de Carlo com Don Pietro ao viva-voz.— Isso é mais sério do que parece - sua voz baixa e áspera do outro lado da linha. — Se alguém está se movimentando assim, deve ter certeza de que há algo grande por trás da morte de Teodoro. E não é só dinheiro, Domenico. Tem algo enterrado nisso. Algo bem sério.— Vamos encontrar - respondi.— Comecem pelos pequenos. Quem mexe com boatos, aposta nos cantos errados, fala demais. E fiquem atentos. Se o cofre existe, vai atrair mais do que só ratos locais.— Faremos isso.— Eu já mandei meus homens fazerem o mesmo por aqui. É mais fácil que Teodoro tenha apoio aqui do que em Palermo.Carlo desligou, e em menos de uma hora, estávamos no primeiro ponto.***** *****O bar de Massimo. Um lugar velho, com cheiro de fumaça e cachaça azeda. Entramos com dois homens. Ninguém fez barulho. As conversas cessaram como se alguém tivesse puxado o fio de energia do lugar. Não era comum mesmo que n´so