— De que jeito, Antonieta?— eu fui atrás nervosa. Antonieta descansou a bandeja com as porcelanas na mesa de apoio, antes de usar a máquina de lavar. — O Silva, ele vai abrir o bico, nem que eu tenha que… ah, deixa pra lá! Arregalei os olhos. — Aquele segurança bonitinho, todo engomadinho? Vai seduzir o rapaz? Não é muito jovem? Antonieta deu de ombros, aborrecida. — Nem tanto! Ele tem mais de trinta, eu creio, só não parece ser muito namorador! — Saliente, você quer dizer!— eu brinquei. Antonieta estava agitada, mexendo com a louça. — Eu não completei nem quarenta anos, Silla! Tenho a idade do seu noivo, está me chamando de velha? Eu ria me divertindo com o jeito dela, parecia encantada pelo rapaz. — Ele é bonitão, não é mesmo? — Claro que é, e se não fosse eu olharia para ele? Fiquei a observar como a Antonieta era bonita. Naturalmente bela, com seus cabelos longos cacheados, presos numa presilha grande discreta que descansa

Sheila deu de ombros. — Que jeito? A noiva dele parece uma boneca de porcelana, uma princesa, sei lá! Esse ricaço nunca vai olhar para mim! Giglio revirou os olhos impacientes. — Seu corpo, garota, ele só tem que olhar para o seu corpo! Sheila se deu por vencida. — Tudo bem, vai, fala de uma vez, o que você pretende fazer para isso acontecer? Giglio sorriu satisfeito. — É o seguinte, sabe aquela roupa que eu falei para você usar para ele? Sheila assentiu curiosa e Giglio continuou: — Você vai vestir amanhã, de madrugada. — O quê! — Amanhã é o dia em que ele acorda pouco antes do sol nascer para mergulhar. — Sério!— os olhos da moça brilharam. — Você vai estar aqui embaixo, sem sono e vai dar um jeito de ir com ele. O plano era perfeito, e no dia seguinte aconteceu. Eu não sabia dessa rotina do meu noivo, e dormia quando ele se levantou, e se arrumou para o seu ritual. Ele vestiu roupas de mergulho e desceu. Sheila estava no andar de baixo e Matteo para

— Mandou a moça embora!— Fiquei incrédula. — É verdade, Silla, ela fez as malas e foi embora logo cedo!— Antonieta não disfarçou sua satisfação. Olhei para Matteo e percebi que ele estava incomodado com alguma coisa. Depois do desjejum, se levantou e foi para o escritório, sem perguntar se eu queria ir junto, sei lá, para a sala, para o quarto. Ele nunca me deixou na mesa assim. Fiquei tão chocada, que olhei pasma para Antonieta, enquanto a mesma retirava a mesa. — Você entendeu alguma coisa? Eu o vi com aquela lá, fingi que nada aconteceu e ainda mereço o desprezo dele! — Ele não a está desprezando, mas a evitando! Vai ver tem medo que você descubra a traição dele! Deixei Antonieta seguir para a cozinha com a bandeja que recolhia as porcelanas, e fiquei matutando, até que Giglio chegou, todo sem jeito. — Senhora, o seu vestido chegou. Apertei os olhos, o encarando. — Deu tudo errado, não é? Giglio baixou a cabeça e pôs as mãos na frente do corpo. — Não sei do

Marchei até a porta do escritório, ciente de que era seguida por Matteo. — Entre!— ele ordenou com voz grave. A porta já estava aberta, apenas respirei fundo antes de entrar. — Sente-se!— A voz grave precedeu a batida na porta. Matteo deu a volta e foi se sentar na cadeira giratória, atrás da mesa. Ele juntou as mãos, a frente do corpo, mais exatamente sobre a mesa, e inclinou a cabeça procurando meus olhos. Eu estava tão chocada que não tinha coragem de olhá-lo. — Acha mesmo que pode sair assim? Temos um trato, esqueceu? — Eu… eu pensei que… — Não tem que pensar, coisa nenhuma! Como a voz dele já estava alterada, resolvi não o contrariar. — Aqui só eu penso! Era ridículo o que ele falava, mas eu preferi segurar o riso. — Acha isso engraçado? — Não, claro que não!— ergui os olhos assustada. Ele meneou a cabeça, desconfiado. Era a minha deixa. — Ver você com a Sheila na praia de madrugada não foi nem um pouco engraçado! Matteo congelou, ele não gos

Antonieta se foi e eu aproveitei para me sentir livre. Por um momento, eu me senti como Silla, e foi assustador. Não sei se por ter que encarar Diogo ou perder o homem que já fazia parte de mim. Passou um filme na minha frente. Matteo me odiando, me expulsando da sua vida, e Diogo rindo da minha derrota. Soltei o ar pela boca e quis me livrar do vestido, queria nadar livre daquela roupa volumosa. Não tinha como, haviam muitos botões nas costas, os famosos empecilhos para a lua de mel ainda estavam na moda para os grandes estilistas. Consegui abrir dois ou três, mas foi só, então fiquei daquele jeito mesmo. O vestido começava a querer flutuar e já pesava. Eu pensava no momento em que tinha que sair dali, não ia dar conta sozinha. Procurei curtir a água morna e esperar que Antonieta viesse me ajudar. Passou-se muito tempo, eu não imaginava o que se passava na festa de fato. Pensava que simplesmente Matteo iria esquecer de mim, até que Diogo se fosse, mas el