Daphne — De novo, está se sacrificando para salvar a Ember – a indignação saindo pelos meus poros – até quando vai continuar sendo uma péssima mãe? A expressão dela não era amigável. Rosália me olhou com fúria, o rosto ficando vermelho, o semblante contrariado. Em toda a minha vida, eu jamais havia falado com ela desse jeito, mas não me importei, ela mesmo havia dito que eu não fazia mais parte de suas vidas. Eu deveria respeitá-la como minha mãe? — Eu sempre fui uma boa mãe – ela fechou os punhos e cerrou os dentes para mim – sacrifiquei a minha vida para cuidar de vocês duas. Como pode dizer uma coisa assim para mim? — A Ember é assim por culpa sua, mãe – minha voz se elevou. Estávamos discutindo no meio da rua – por que não a educou como fazia comigo? Por que sempre tudo era para ela e nada para mim? Por que a senhora amou mais ela do que eu? Eu estava pronta para colocar para fora toda a minha dor, quando a atenção de Rosalía se voltou para o celular. Ela havia acabado de rec

Daphne Soltei um suspiro, segurando minha cabeça com as mãos em desespero. Rosália não deveria ser problema meu, já que fui embora de casa, renegada por ela, nem mesmo direito eu tinha de opinar sobre a venda do imóvel, tudo era para Ember. Então, Ember resolveria esse problema. Pensei inúmeras vezes, enquanto ficava em silêncio com Evangelina me consolando ao meu lado, que eu deveria pegar minha bolsa e ir embora dali, mas essa pessoa não era eu. — Você pode ficar aqui, até eu resolver um problema? – me virei para Evangelina e perguntei. — Estou aqui para te apoiar, Daphne – ela me disse, inclinando o corpo com o semblante curioso – não se preocupe, qualquer coisa, eu ligo para você. Encolhi os ombros antes de oferecer a ela um abraço. Evangelina era a única pessoa a quem eu podia me apoiar agora. — De uma lição na Ember – ela disse antes que eu pudesse ir – não volte até trazer uma mexa de cabelo arrancado dela. Eu sorri, às vezes eu não precisava dizer o que ia fazer, Eva

Daphne — Nem um tapa você deu nela? – Evangelina me olhou indignada – eu sabia o quanto ela era ruim, mas ao ponto de não se importar com a própria mãe? Fiquei pensando sobre isso. Pensando o quanto Rosália merecia ser tratada assim. De fato, Ember não estava preocupada com ela e, assim como no enterro do nosso pai, ela não derramaria nenhuma lagrima caso nossa mãe morresse também. Olhei no relógio de pulso, já era tarde e eu não havia comido nada. Minha barriga gemia de fome. — Pode conseguir alguma coisa para eu comer? – implorei para Evangelina. Ela se levantou, parecia cansada. Não era justo eu deixá-la aqui passando pelo tédio de um hospital, mas ela se levantou sem reclamar e se preparou para atender mais aquele pedido meu. Quando Jeffrey apareceu, Evangelina teve um mini ataque cardíaco, eu consegui ver o quanto a presença dele a deixava afetada. Por que ela não me contou estar interessada nele? O brilho nos olhos dela era intenso. Evangelina abaixou a cabeça e, colocando

Daphne O silêncio no quarto era assustador, quebrado somente pelo som dos aparelhos que aparentemente mantinham Rosália viva. Ela estava de olhos fechados, em coma induzido. Estranhamente, enquanto olhava para ela, eu não conseguia sentir nada. Nós duas nunca havíamos mantido um relacionamento saudável. Minha mãe raramente sorria para mim ou me elogiava. As únicas boas lembranças que eu tinha dela eram ela abraçando e sorrindo para Ember. “Quem deveria estar ao seu lado agora é ela, a sua filha que você protegeu a vida inteira. Que ironia, ela não está e foi ela que quase te matou.” Precisei virar as costas, olhar para as paredes brancas para não ver Rosalía tão fraca precisando de mim. Às vezes eu me odiava por ter um coração tão generoso. Eu estava ao ponto de sacrificar minha felicidade para salvar a vida da mulher que me rejeitou. “A morte não é castigo e você precisa viver para ver o monstro que você criou, mãe. E eu vou garantir que isso aconteça.” Eu saí do quarto e só p

Haiden Eu estava em uma reunião com o meu pai. Eram aquelas reuniões longas onde ele falava sobre tudo, menos sobre negócios. Eu preferiria que ele tivesse ficado com raiva de mim por mentir para ele, ao invés de ele querer arrumar alguém para substituir minha esposa perdida. — Devemos fazer um acordo com a Ember – ele continuou coçando a barba – ela vai ser uma boa esposa. — Não se importa que eu não case por amor? A pergunta o fez estreitar os olhos até mim e ficar pensativo. — Amor não é um sentimento, mas uma ação. A gente escolhe amar as pessoas, Haiden. A resposta dele me fez querer rir. Só o meu pai acreditava nessas besteiras de família e amor, para mim nada disso importava. Às vezes, eu olhava para ele e me perguntava em que traços meus havia um pouco dele. Por que éramos tão diferentes mesmo sendo pai e filho? Durante anos, deixei que ele mandasse em mim e comandasse a minha vida, porque eu não queria quebrar o que eu achava que a gente tinha. Mas isso me trouxe uma d

Daphne. O senhor Ramon me odiava. Eu estive a um passo de desistir de contar toda a verdade quando constatei isso olhando nos olhos dele, mas parecia tarde demais para desistir. Eu estava assustada, com o coração batendo contra o meu peito, sentindo que eu colapsaria a qualquer momento. Todos os olhares estavam em cima de mim agora, eu queria poder saber o que eles pensavam, mas eu não conseguia. As palavras saíram dos meus lábios e ficaram paradas no meio da sala, sendo digerida lentamente. — O que essa mulher está dizendo? - Ramon não era o único fora de controle aqui – que mentira é essa? Está inventando essa história para não ser demitida? Um riso irônico atravessou os meus lábios. Eu não deveria odiar o meu futuro sogro, mas ele estava me levando a isso. — Acha que gosto de trabalhar com o seu filho? – eu ri e Haiden não gostou disso – acha que gosto da ideia de estar casada com ele? — Acho que você está se aproveitando de uma informação privilegiada para tirar vantagens –

Daphne. Fiquei sozinha no escritório por muitos minutos, tantos que eu não podia contar. As lágrimas escorrendo pelos meus olhos por um erro que eu nem me lembrava de ter cometido. Eu estava sendo rejeitada pela segunda vez, me sentindo pequena e insignificante. Haiden havia olhado para mim com tanto desprezo que não havia outro modo de me sentir assim. Eu me assustei quando a porta voltou a abrir, enxuguei as lágrimas rapidamente, pensando que talvez fosse o Haiden que havia voltado para me afundar um pouco mais com suas palavras, mas quando me virei, vi Jeffrey, vindo em minha direção com o semblante mais abatido do que o meu. Como pude acreditar que isso iria dar certo? Contar a verdade para salvar a vida da Rosália? — Sinto muito Daphne – a voz dele era quase como um sussurro – eu não esperei que a reação do Haiden fosse essa. — Eu sabia que seria exatamente essa – eu disse e minha voz saiu tão fraca que eu quase não me reconheci – ele já havia me rejeitado antes de saber qu

Haiden A realidade me atingiu como uma montanha desabando na minha cabeça. As palavras de Daphne confessando que era ela a mulher com quem eu havia me casado rondavam meus pensamentos sem parar. Eu saí do escritório completamente atordoado. Encontrei o Ramon ainda na portaria com o telefone em punho. Ele falava freneticamente com alguém do outro lado e eu sabia que a notícia o havia afetado bem mais do que eu. Meus olhos arderam assim que ele encerrou a ligação e olhou para mim como se eu fosse o culpado de tudo isso. Ele ergueu o anel, colocando-o diante dos meus olhos. Eu não havia tocado no objeto, mas eu sabia que era verdadeiro. Foi aquela aliança que eu havia dado a Daphne na noite do nosso casamento. — Não tem como o anel ser falso – eu disse, mas Ramon parecia não concordar muito com aquilo. — Como pode ter certeza? - ele blefou – você compartilhou todas as informações com aquela mulher, ela pode muito bem ter falsificado o anel para se passar pela sua esposa. Massagee

Daphne Naquele instante, sentia um aperto no peito. Minhas mãos suando descontroladamente enquanto ele se aproximava, ficando a poucos centímetros de mim. Era exageradamente lindo o meu marido. Ele estava parado à minha frente com um tom ameaçador, mas eu não sentia medo, somente conseguia admirar ridiculamente a sua beleza. — Deve ser claro em suas palavras – eu disse, cruzando os braços e virando o rosto para o lado oposto. Era tentador demais ficar olhando nos olhos dele. Ele me encarou com um olhar impassível. Eu podia sentir o calor do seu julgamento sobre mim. — Você é mais inteligente do que isso, Daphne – ele disse, dando um passo para mais perto – por que não me contou a verdade? Há quanto tempo sabe que é minha esposa? — No dia em que desmaiei no restaurante – olhei para ele e me desarmei na mesma hora – eu ia contar para você, mas eu ouvi você dizendo que não queria estar casado comigo. Haiden deu um passo para trás, rompendo o calor insuportável que invadia meu c