Eu tinha tentado esconder isso dela, porque não queria que ela se preocupasse comigo, mas, conforme os dias passavam, ficava cada vez mais difícil disfarçar.Os sintomas de abstinência tinham me atacado com força. Kaida só estava ciente do progresso que eu fazia, e eu não a deixava saber o que eu precisava suportar. Enxuguei o sangue que escorria do meu nariz. Fazia cinco dias que eu tinha parado de tomar as doses de acônito, e cada momento tinha sido puro tormento. Libertar-me do meu “vício” tinha sido mais fácil dizer do que cumprir.Eu mal conseguia dar conta de qualquer trabalho. Os sintomas de abstinência eram impossíveis de ignorar: tremores involuntários, sangramentos aleatórios, uma martelada implacável na cabeça, tontura, irritabilidade e pequenos lapsos de tempo que pareciam se estender a cada dia passado sem as minhas doses.Eu encarei a garrafa de bourbon envelhecido adulterado com acônito, que repousava no armário de madeira. Tudo o que eu precisava fazer era estender a mã

— Você foi ver os Curandeiros? — Perguntou Kaida.— Não. — Respondi. Ela percebeu que não havia nada que pudessem fazer por mim naquele momento. — Eu estou bem.— Você não está. — Disse ela. Eu não podia culpá-la. Talvez ela até estivesse com medo de que eu estivesse perdendo a sanidade. — Há quanto tempo isso estava acontecendo? — Havia algo na voz dela que me mantinha calmo.— Desde que eu tinha parado de tomar as doses.— Por que você não me contou? Eu disse que faríamos isso juntos, você deveria ter me contado...— O que você teria feito? — Perguntei.Vi a raiva cintilar no rosto dela.— Você me disse que não me afastaria. Você me prometeu.Era assim que ela se sentia? Achava que o meu silêncio a estava afastando? A culpa se instalou fundo no meu peito e me lembrou de que eu não a merecia.— Eu só não queria que você se preocupasse. Você ficou tão feliz quando eu contei sobre o meu progresso, eu não queria estragar isso.A raiva sumiu dos olhos dela.— Eu só... eu só estava com tan

Daemon tinha servido a comida em quatro pratos, como sempre fazia, mas, dessa vez, as mulheres desceram para se juntar a nós. Eu me perguntei se ele estava fazendo aquilo para que eu me sentisse confortável perto dele, só que eu não deveria tentar encontrar sentido em tudo o que ele fazia.As mulheres terminaram a comida primeiro, como sempre acontecia.Eu não deixei de notar o jeito como a mais velha me lançava olhares de soslaio durante a refeição inteira. No momento em que terminou, ela puxou o cabelo para o lado e deixou o pescoço exposto para Daemon.Daemon a empurrou de leve, claramente sem querer se alimentar dela na minha frente.— Você já teve a sua vez. — Ele disse, olhando por cima dela para as outras mulheres, que mantiveram os olhos baixos. Ao contrário da mais velha, as mais novas eram mais quietas, mais tímidas e mais reservadas.— Você sabe que o meu sangue tem um gosto melhor do que o de qualquer uma delas. — Ela se gabou, como se fosse algum tipo de conquista. Cravou

Acordei com uma dor de cabeça latejante. Bastaram alguns segundos para perceber que aquilo tinha sido uma armação, e Amanda, a garota que resgatamos, fazia parte disso.Eu não estava acorrentada nem contida, só tinham me colocado em um canto do salão. Sentada bem à minha frente estava Imperatriz Cynthia, com Amanda ao lado e…— Sarah?Isso saiu mais como uma pergunta. Meu olhar alternou entre Amanda e Sarah, e as peças enfim se encaixaram. Amanda tinha sido “adotada” por Sarah, e tudo aquilo tinha sido uma armação cuidadosamente planejada.— Estou fazendo isso por você.Ela disse. Não havia nenhum traço de arrependimento no rosto dela.Sarah tinha sido uma das poucas a quem eu permiti chegar perto. Eu a via como uma amiga, a última pessoa de quem eu esperaria uma traição. Mas eu não podia deixar que percebessem o quanto aquilo doeu. Eram pessoas de quem eu gostava.Alexander queria que eu ficasse fora dos assuntos da Alcateia Lua Cinzenta, mas eu não fiquei. Eu quis justiça para a meni

Imperatriz Cynthia tinha lido a pergunta em meus olhos antes que eu pudesse sequer formulá-la.— Eu sei que você está curiosa sobre o que seu Beta queria em troca de trair a sua confiança. — Disse ela.Eu me recusei a encarar o olhar dela. Eu não permitiria que ela visse que eu queria saber.— Ele ama você. Isso ficou claro. Houve momentos em que ele esteve disposto a virar as costas para a própria família apenas para manter você segura. Você era a única pessoa a quem ele jamais faria mal. Mas, quando precisou escolher entre você e a irmãzinha dele, a escolha não foi fácil. Ela foi a alavanca que eu tinha sobre ele. Eu a mantive trancada, longe do alcance dele, até que ele concluísse a missão. Tudo o que ele fez, ele fez para mantê-la viva.Aquilo tinha sido uma mentira.— Aric nunca teve uma irmã.— Você diz que se importava com ele, mas eu não acredito. Você sempre esteve presa ao seu próprio mundinho, cega para o que acontecia nos outros. Até naqueles a quem chamava de “família”. Sa