Adrielle HaleDevo ter tido tempo para cochilar alguns minutos antes que Abby entre no quarto e comece a saltitar na cama outra vez. — Acordem, acordem. — Posso ouvir sua voz fina soar antes de começar a pular na cama. Ela não deve ter notado que Pedro saiu. — Uh, onde o papai está? — Hm… Abby… — Levanto minha cabeça e abro meus olhos. A claridade me machuca. — O papai saiu. Ele vai voltar logo. Por que não vem aqui e deita comigo?Os olhos azuis piscam algumas vezes, tentando compreender o que eu disse. Abby para de pular na cama e me encara.— Mas onde ele foi? O papai prometeu que iriamos ver as tartaruguinhas. — Os seus pequenos lábios se curvam em um beicinho suave. — O que ele foi fazer?Me espreguiço na cama e passo as mãos pelo cabelo.— Ele foi a empresa, querida. — Respondo, enquanto afasto o cobertor para me ajeitar na cama. — Era importante. Ele vai voltar rápido. Você escovou seus dentes?— Sim… — Abby se senta na cama, mas não há mais tanta animação. — Pede para ele vo

Adrielle Hale Fernando fez a doação. Pedro recebeu a transfusão e não sei como vai reagir ao descobrir sobre isso. Não acho que tenha muito o que dizer além de agradecer por isso. A relação dos dois está estável, mas ele ainda não se sente confortável com Fernando. Estou sentada na poltrona ao lado da cama, com meus olhos fixos no homem que dorme serenamente. Sua pele está pálida, quase sem vida. O único som entre nós vem dos monitores. Apenas Pedro e eu estamos no cômodo. Por ser a diretora, tenho acesso. E talvez eu entraria mesmo se não trabalhasse aqui. Enquanto eu não colocasse meus olhos nele e visse que está vivo, ouvisse o som do monitor, eu não ficaria em paz. Meu coração se acalmou quando entrei, mas ainda há insegurança, medo de que algo aconteça. Seus dedos estão frios quando o toco. Abby diria que ele esteve patinando no gelo por seus dedos estarem assim. Ela sempre tem alguma referência a fazer sobre as situações. Ouço duas batidas a porta. Levanto minha cabeça e

Pedro HernandezVou me lembrar de sempre me certificar de que meus filhos não vão precisar entrar em um consultório para lidar com qualquer tipo de problema. A luz é tão intensa que quase me faz ficar cego. É tudo tão branco. A sala é espaçosa, mas não me sinto confortável com essa claridade. E nem estou de ressaca. A mão de Adie está entrelaçada a minha, com uma pequena carícia. Sei perfeitamente que entende o quanto estou nervoso com isso. É a primeira vez que preciso entrar em um consultório desse tipo, ouvir coisas sobre o parto do bebê e como Adie deve se sentir o restante da gravidez. Os enjoos são normais e devem parar a medida que avançarmos nas semanas.— A gente já pode ver o bebê? — Abby questiona, com seus olhos focados na mulher de cabelos quase grisalhos a nossa frente. Ela está ansiosa porque eu disse isso a ela ontem a noite. Desde então, isso é tudo o que quer saber. — O papai e a mamãe disseram que eu poderia ver ele hoje.Morgan sorri de canto, antes de apontar com

Pedro HernandezFernando segue para fora de casa, não sei bem o que planeja pegar no carro, mas, ao contrário do que penso, ele não segue em direção ao carro. Carl caminha em direção a ele, com uma caixa de papelão em suas mãos. Fernando a pega e se vira, como quem pretende voltar para dentro, mas ele se depara comigo, curioso e confuso sobre essa caixa. Não é tão grande para ter um brinquedo ali, mas também não é pequena.— Acho que Abby vai adorar. — Ele diz, com um sorriso carregado por Botox.Diria que é até difícil sorrir assim. Franzo o cenho, encarando a caixa por alguns instantes até me dar conta de que não é por isso que vim até aqui.— Nós não falamos sobre o que aconteceu… — Murmuro, desviando minha atenção da caixa para seu rosto. Eu imagino que seu cenho esteja levemente franzido. Não entendo como pode ter feito tanta plástica assim. Sua testa mal pode se franzir, parece até que ele não tem controle de nenhuma linha de expressão. — A sua doação…Ele abre um sorriso, antes

Adrielle HalePedro e eu tomamos banho juntos. Abby acabou caindo no sono com o filhote em sua cama. Tenho medo de que ela acabe machucando ele durante a noite, então nós fizemos uma cama improvisada com cobertores para ele ficar no chão.Visto um pijama de cetim confortável e caminho para o quarto. Pedro está na cama, deitado, encarando o teto. Seus olhos estão fixos em um ponto e só se movem quando sente o meu movimento na cama. Seus braços envolvem o meu corpo, me puxando em sua direção. Seu nariz toca o meu quando seus olhos azuis me observam.— Por que você está tão quieto? — Pergunto, em um sussurro.Minha mão acaricia sua bochecha, coberta pela barba muito bem desenhada.— Eu só… — Ele respira fundo, desviando seus olhos momentaneamente de mim. — Estive pensando nos nossos filhos. — Gosto de ouvi-lo dizer “nossos filhos”. Meu coração se aquece ao ver como ele não parece ter mudado nada, como ainda me ama como antes e que os nossos planos juntos ainda estão aqui. — Eu não cresci