Pedro Hernandez— Então, senhor Hernandez, me conte de novo do começo, por favor. — Linda McLaughin diz em um tom tão calmo que não me sinto mais prestes a explodir. Eu respiro fundo, enquanto foco meus olhos nas longas prateleiras do canto da parede esquerda. Não sei se realmente foi uma boa ideia vir aqui, mas não tive escolha quando comecei a ter outra crise no quarto. Tentei disfarçar, mas há uma mulher que parece me conhecer bem o suficiente para saber o que estava acontecendo. Adie disse que tinha uma boa psicologa nas dependências do hospital, que era sua amiga e que eu poderia vê-la no instante que precisasse. Aqui estou eu: sentado em um dos sofás, encarando a mulher de cabelos grisalhos a minha frente prestes a me abrir sobre as coisas que aconteceram nos últimos anos. — Eu devo lembrá-lo de que, tudo o que disser aqui, não será comentado com mais ninguém. É um sigilo entre mim e o paciente. — Linda diz, como se tentasse me deixar confortável. Respiro fundo e cruzo meus

Adrielle HaleAnaliso alguns papéis em minha sala. Na verdade, é a nova sala. É maior que a minha, com paredes de tons neutros e móveis em mármore claro. O espaço é maior e cabe mais sofás do que pensei que poderia. Imagino que seja a antiga sala de Lewis, o que não deve ter sido tão usada já que ele não costumava permanecer no hospital por muito tempo. Tento focar nas análises dos pacientes mas estou com a cabeça focada em Pedro. Ele ficou tão abalado por descobrir que Fernando é realmente seu pai que começou a ter outra crise de ansiedade no quarto de Bruno. Não sei como posso ajudar nisso. Essas crises não emocionais, minha especialidade é a mente, mas a parte física, não emocional. Folheio os papéis com cuidado, lendo cada nome escrito neles. Mesmo que eu tente, não consigo canalizar a minha atenção para os documentos. Arrasto a cadeira para trás e caminho até a vidraça que se estende do chão ao teto. Posso ver os prédios daqui, alguns mais baixos, outros mais altos. Respiro fun

Adrielle HaleDa porta de casa, posso sentir o aroma dos temperos de Minnie. Parece que são condimentos do seu famoso burrito. O cheiro é agradável de alecrim e salsa. Abby entra correndo, reconhecendo o aroma. Não contenho o pequeno sorriso que se expande pelo meu rosto. Pensei que ela ficaria um pouco incomodada com o que houve no hospital - havia tantos policiais lá - mas minha filha parece bem. Depois que mostrei o corpo para Brooks e Fernando, fui para a minha sala e meu coração nunca ficou tão alegre. A imagem da minha filha com o pai, no sofá, comendo fast food, fez meu coração palpitar forte. Eles estavam tão a vontade que eu não queria me intrometer no espaço deles. — Eu vou me lembrar de avisar a aquele homem cheio de Botox na cara que esses brinquedos são grandes demais para a nossa filha. — Pedro resmunga, enquanto carrega a baleia de pelúcia de um metro e cinquenta em seus braços. Não contenho a leve risada que me escapa quando vejo Pedro se esforçando para atravessar a

Pedro HernandezPosso ouvir o som do meu próprio coração se quebrando outra vez. Jackson encara Leonard com uma raiva que nunca notei em sua expressão. A mandíbula está travada, os punhos fechados com tanta força que as veias do seu braço se destacam. Joseph não está diferente, ninguém aqui está. Se não estivéssemos em um tribunal, rodeados de policiais, receio dizer que Leonard não iria preso imediatamente, talvez teria que passar por um médico antes. — Espero que ele pegue uma sentença de morte. É isso que merece. — Ouço Victor rosnar bem atrás de mim. — Você não nos contou isso. — Lyla diz, com um tom doloroso em sua voz embargada. Sinto um gosto amargo na boca, vendo Leonard tão pacífico. Minha respiração oscila e eu não consigo controlar. — Nós não tínhamos certeza disso… — Respondo, em um tom baixo. Sei que cometi um erro ao não expor isso aos meus amigos, mas nem mesmo eu consegui assimilar tudo isso ainda. — Senhora Williams, por que você decidiu denunciar Leonard apenas

Adrielle Hale— Senhora Robinson, quantos anos você trabalhou na casa de Adrielle e Leonard? — O promotor questiona assim que Minnie faz o juramento. Meu peito está ardendo, queimando em agonia por imaginar que ele possa sair impune disso tudo. Depois de me machucar, de machucar a minha filha, Leonard pode sair e viver sua vida como se nada tivesse acontecido. — Desde que eles se casaram. Cuidei dela e do irmão quando crianças. Quando ela se casou, me ofereceu emprego em sua casa e eu aceitei. Eu os vejo como meus filhos, jamais os deixaria sozinhos. — Ela responde, enquanto olha para mim com carinho. — Você já presenciou o réu, Leonard, agindo de forma violenta com ela? — Charles indaga, com uma postura firme. Minnie me observa, antes de abaixar sua cabeça solenemente. — Já, sim. Já ouvi as discussões dos dois, sempre seguidas de coisas se quebrando. Um tempo depois, ela aparecia com hematomas em seu rosto ou no corpo. — O tom de Minnie é triste, como se sentisse a mesma dor que