Estava claro que a família estava dividida. Otto estava ali, vendo tudo acontecer, a mente borbulhando, preocupado com como tudo aquilo afetaria Zoe. Todos discutiam, trocando ofensas inimagináveis. O clima era tenso, um misto de tristeza e raiva.— Você ache a porra que quiser! — gritou Grace.Fez-se silêncio. Ela olhou para Otto e depois para Heitor, que estava visivelmente constrangido e só tentava acalmar a situação. Pegou a bolsa, e o som dos saltos batendo com força no chão precedeu o estrondo seco da porta se fechando. Heitor olhou para todos, deu dois tapinhas nas costas de Otto e saiu em seguida.Otto encarava os pais, tomado por tristeza e vergonha. Patrícia, ainda com raiva, respirava fundo.— Eu não quero te ver na lama, Otto. Eu sou sua mãe. Não quero te ver pelos cantos, esperando a volta de quem não quer ficar.— E se fosse eu? — disse ele, em voz baixa. — E se fosse eu quem tivesse sumido, mãe? Você iria desistir? Acreditar numa investigação porca?— Você não iria aban

Otto despertou, mas não se levantou de imediato. Ficou na cama, olhando para o teto, revivendo a história mais uma vez em sua mente. Cada detalhe voltava como uma maré, e, a cada repetição, doía mais. Estava entristecido por ter pensado, mesmo que por um breve momento, que Julia seria capaz de fugir.“Onde o Matthew entra nisso tudo? O que será que ele fez para ela entrar naquele carro?” — pensava, incansavelmente.Ouviu três batidas na porta antes de vê-la se abrir. Heitor surgiu, meio sem jeito.— Podemos entrar? — perguntou.— Claro.Heitor entrou e se sentou na beira da cama. Grace vinha logo atrás, trazendo uma bandeja com frutas, suco e ovos mexidos. Heitor o observava com preocupação, enquanto Grace queria deixá-lo confortável. Ela posicionou a bandeja com cuidado sobre o colo de Otto. Ele sorriu timidamente.— Obrigado.— Zoe já foi para a escola. Dissemos a ela que você estava aqui — informou Grace.— Como ela está?— Um pouco chateada, confusa. Quer respostas. Prometi que de

No quarto, Isaac procurava por qualquer coisa com muito cuidado, mas não havia nada ali. Desceu juntamente com Grace e Vincente para o saguão.— Consegui o nome e o endereço do tal funcionário — disse Aaron.— Ótimo, vamos ver a van.Foram até a garagem, tiraram fotos da van, chamaram um chaveiro e reviraram seu interior. Não havia nada. Estava totalmente limpa.— Como pode não ter nada? — perguntou Isaac.— Estamos lidando com alguém esperto. Muito esperto — disse Aaron.Aaron caminhou pelo local e notou uma pequena mancha no chão. Chamou o irmão com um sinal.— Parece sangue — disse ele.— Sim — concordou Isaac, abaixando-se para tirar uma foto.— Vamos atrás do funcionário.— Grace, Vincente, vamos ao endereço que conseguimos. Voltamos mais tarde.Saíram do hotel e foram até o endereço. A casa ficava no final da rua, um pouco isolada. Era aparentemente bem cuidada, rodeada por uma c

O apartamento parecia um verdadeiro QG estratégico. A iluminação natural invadia generosamente o espaço, realçando o piso de madeira clara e a decoração sóbria, porém aconchegante. A cozinha americana, moderna e funcional, se abria totalmente para a sala de estar, criando uma atmosfera integrada e convidativa.Na sala, um sofá grande em tom neutro dominava o ambiente, acomodando confortavelmente várias pessoas. Uma mesa de centro de vidro repousava sobre um tapete macio, onde repousavam algumas revistas e um quadro com canetas coloridas que destoava, dando um toque de informalidade criativa. Espalhadas pelo ambiente, pequenas plantas traziam vida e frescor ao local, enquanto uma prateleira discreta exibia troféus que falavam de conquistas pessoais e profissionais.O apartamento contava com três quartos espaçosos, um deles com suíte, e um banheiro adicional que impressionava pelo tamanho e pelos acabamentos modernos. Tudo indicava que ali seria não só um local para trabalhar, mas també

Aaron observava os dois comemorando como se tivessem ganhado um prêmio da loteria. Achou graça e, no fundo, gostou de vê-los tão felizes.— Vamos tirar isso do rosto — disse Eleonor.— Vamos — concordou Frances.— Bom, eu vou tomar um banho. Acho que meu querido irmão ainda vai demorar ali — falou Aaron.Isaac não disse nada. Estava totalmente concentrado no que fazia.Aaron colocou uma garrafa de água na mesa de centro e foi tomar banho. Eleonor e Frances estavam na suíte, retirando a máscara facial. Eleonor tinha um toque suave, retirava o produto do rosto dele com cuidado e delicadeza — algo que ninguém imaginaria ao olhá-la.Eleonor era uma mulher de cabelos tingidos de vermelho escuro até os ombros, olhos castanho-escuros, nariz pequeno e arredondado, lábios carnudos e pele morena. Estava em forma, não deixava de se exercitar. Era alegre, brincalhona, apaixonada pelo trabalho. Tinha poucos amigos, mas era extremamente dedica