AlexandreUm dia depois.A ligação de Henrique chegou logo cedo. Sua voz estava tensa, e eu reconheci na hora o tom de quem está tentando parecer calmo, mas está à beira de explodir. Assim que ele me contou que Clara havia aparecido durante a primeira visita de Leonardo e causado mais uma cena lamentável, soube que era hora de agir com firmeza.Assim que desliguei, comecei a reunir os documentos necessários. Abri um novo pedido de prisão definitiva contra Clara Monteiro, com base na violenta quebra da medida protetiva. No pedido, detalhei todos os incidentes anteriores, anexando o vídeo feito por Virgínia, os depoimentos de Mariana e de Henrique, e agora esse novo confronto que aconteceu mesmo com uma ordem clara da Justiça para que ela se mantivesse afastada.Redigi com urgência, mas com toda a cautela. O juiz precisava entender que Clara não era apenas uma mulher descontrolada: ela era uma ameaça real. Apontei claramente que sua insistência em perseguir Mariana, somada ao comportame

LeonardoDois dias se passaram desde a prisão da Clara, e desde aquele dia, tudo mudou dentro de mim. Eu não conseguia mais dormir direito, comer direito, pensar direito. Era como se a prisão dela tivesse sido a prisão da última parte que me restava de sanidade.Mas hoje eu decidi. Depois de conversar com o Marcelo, depois de refletir por horas, de pesar cada palavra, cada atitude... eu sabia que tinha que fazer isso.Cheguei à delegacia com o coração apertado. Clara estava detida desde aquele dia da visita, quando surtou, gritou e empurrou Mariana na frente de todo mundo. Não tinha mais desculpa, não tinha mais como defender. Por mais que eu sentisse raiva de tudo que estava acontecendo, a verdade é que a Clara... a Clara passou dos limites.Quando me deixaram entrar na sala reservada, onde ela podia receber visitas, vi Clara sentada com os cabelos bagunçados, os olhos fundos e uma expressão que misturava cansaço com raiva.— Finalmente veio, né? — ela disse, cruzando os braços.— Cl

LeonardoA festa da Isabela. Eu vi tudo pelas redes sociais. Cada detalhe. Cada sorriso. A decoradora marcou com perfeição aquele tema ridículo de "Jardim Encantado". Tinha borboleta, flor, bolo de três andares... mas o que mais me chamou atenção foi o olhar da Mariana. Ela estava radiante. Com aquele barrigão à mostra, como se o mundo fosse dela. Como se eu não existisse. Como se tudo o que ela viveu comigo não tivesse passado de um erro que agora ela corrige com aquele médico babaca ao lado dela.Mas eu existo. Eu sou o pai da Isabela.E eu precisava ver minha filha. Nem que fosse pela última vez.Comprei um urso gigante. Rosa, macio. O tipo de presente que faz uma criança sorrir. Me vesti como se fosse a uma reunião importante, camisa social, calça escura, perfume discreto. Eu não queria parecer ameaçador. Não queria mais guerra. Pela primeira vez em muito tempo, eu queria paz.Quando estacionei perto da casa, o som da música infantil já alcançava a rua. Entrei no jardim com passos

Mariana O sol da manhã brilhava forte, o céu tão azul que parecia pintado. Eu ajeitei o chapéu da Isabela na cabeça dela e sorri. Ela estava tão linda no seu vestidinho rosa, tão animada batendo as mãozinhas enquanto a babá, Virgínia, empurrava devagar o carrinho pelo calçadão do parque. Atrás da gente, discretamente, dois seguranças — contratados pelo Henrique — nos acompanhavam de longe. Eu não queria, mas depois de tudo que aconteceu, depois das ameaças e daquela gente maluca, ele insistiu. E eu sabia que era o certo. — Tá cansada, meu amor? — perguntei para Isabela, acariciando seu rostinho. Ela respondeu com um sorriso banguela que aqueceu meu peito. Era para ser um dia tranquilo. Era. Até que tudo aconteceu tão rápido que parecia um pesadelo. Eu vi dois homens se aproximando. Um deles falava no celular, o outro fingia olhar vitrines. Um frio percorreu minha espinha. Meu instinto de mãe gritou tão alto que quase me fez gritar. Em segundos, o homem que estava de celular cor

Narrado por MarianaQuatro meses.Quatro meses se passaram desde que descobrimos a gravidez. Quatro meses desde que a minha vida, que já tinha virado de cabeça pra baixo com a chegada da Isabela, se transformou de novo. E mesmo com tudo que passamos – as ameaças, o medo, a briga na justiça, a doença que me rondava –, havia algo diferente agora.Um novo coração batendo dentro de mim.Tudo parecia mais intenso. Mais vivo. Mais assustador… e, ao mesmo tempo, mais bonito.A gestação me fazia ver o mundo com outros olhos. Talvez por causa da Isabela, que agora andava pela casa como um furacãozinho de dois anos e pouco. Talvez por causa do Henrique, que se tornava mais presente a cada dia, mais protetor, mais amoroso. Ou talvez porque, pela primeira vez em muito tempo, eu sentia que estávamos construindo uma família de verdade.Naquela manhã, íamos para mais uma consulta. Dessa vez era especial: o ultrassom morfológico. O momento de ver cada detalhe do nosso bebê. Saber se estava tudo bem.