MILDREDObservei Morpheus afiando a faca. Ele permanecia em silêncio desde que havia dispensado Marcus, e eu também estava sem saber como quebrar aquele clima pesado. Havia tantas perguntas entaladas na minha garganta, mas eu simplesmente não conseguia formulá-las. Sentia-me irritada com ele, e sabia que ele também fervia de raiva por minha causa. Ele continuava mantendo minhas mãos firmemente amarradas, sem me dar liberdade de movimento, e seus olhos escuros e impassíveis acompanhavam cada gesto meu. Dois dias haviam se passado e estávamos completamente sós.— E agora? — Perguntei rompendo o silêncio gélido que pairava entre nós.— Então você não vai falar comigo agora? Eu também estou irritada com você!Ele se voltou para mim com expressão impenetrável, e eu permaneci calada.— Vamos sair daqui ao amanhecer. — Rosnou ele com tom ríspido.Dei uma risada curta, carregada de descrença.— Sério? Então por que está me mantendo amarrada? Eu não sou sua escrava. Sou uma princesa, você sabe

MORPHEUS Eu estava encurralado, e tudo porque perdi o foco. Nos últimos cinco anos, vivi minha vida sempre olhando para trás, não deixando nada me distrair. Mas pela primeira vez desde então, estava cercado porque me distraí. Esses homens eram guerreiros. Não sabia de onde tinham vindo, mas também estava pronto para lutar, se não por outra coisa, por Mildred. Ela precisava de mim agora mais do que nunca, e eu havia jurado protegê-la.A conversa sobre levá-la de volta ao seu povo era apenas uma ameaça vazia para mantê-la calma, obediente e distraída do que tinha visto. Ela estava em mais perigo do que imaginávamos, mas, mesmo que não devesse ser minha preocupação, eu me inquietava com seu bem-estar. Mesmo odiando admitir em voz alta, nunca quis que ela saísse do meu lado. Estava acostumado com sua natureza mimada. Queria chegar à raiz de tudo e saber por que sua mãe a queria morta.Eu podia sentir o cheiro deles, mas estavam escondidos em diferentes cantos. Não sabia se me queriam morto

Karim entrou rapidamente em sua carruagem e fechou a porta, deixando Gregor do lado de fora. Mildred ainda estava tomada pela fúria quando Karim entrou, mas assim que ele se acomodou, ela se acalmou, apenas o encarando. Karim não disse uma palavra enquanto a carruagem começava a se mover.— Eu sei quem você é. — Disse Mildred, com lágrimas escorrendo pelo rosto. — Por que você não pode deixar o passado para trás? Não me importa como você o vê, ele é um homem bom.Karim permaneceu em silêncio. Suas intenções com Morpheus não tinham nada a ver com Mildred e como ela o via. Mesmo começando a duvidar do propósito dessa missão, ele sentia inconsistências em tudo aquilo. Uma ou duas pessoas estavam mentindo. Ele não era um homem que se opunha à justiça e à investigação adequada, mas sua raiva por Morpheus estava começando a nublar seu julgamento, embora não admitisse isso.— Eu sei o que ele fez com você e seu povo, mas ele se arrependeu e tem se punido todos esses anos por causa disso. Você

MILDREDCoisas loucas estão acontecendo. Nem sei mais em quem confiar. Um homem disse que minha mãe queria me matar, e Morpheus disse que o homem não estava mentindo, mas o próprio Morpheus tem mentido para mim e até deixou meu irmão morrer. Ele me enganou, fazendo-me confiar nele... e amá-lo. Sei que minha mãe e eu nunca nos demos bem, mas não acredito que ela me quisesse morta. Por que ela me quereria morta?Talvez todas essas coisas sejam para desviar minha atenção do verdadeiro culpado, meu tio, que é o rei. Ele é o malvado aqui. Ele tem tratado a mim e à minha mãe com dureza desde que meu pai morreu. Me enrolei no cobertor e chorei mais um pouco. A porta do meu quarto se abriu, e minha mãe entrou correndo com Matilda.— Minha pequena beleza. Por que você se recusa a comer? — perguntou ela, sentando-se na minha cama ao meu lado e tocando minha testa com a palma da mão. — Você está doente?— Estou bem. — Tirei a mão dela da minha testa e me sentei. Olhei fixamente para ela e resisti

— Por que você fez isso? — perguntei, enterrando minha espada no estômago de um guerreiro.— Porque você precisava de ajuda. — Karim respondeu, ofegante.— Você não é meu salvador. Sabe que eu poderia ter lutado sozinho se quisesse.— Mas você não lutou. — Karim empurrou um guerreiro para longe e cortou o braço de outro.— Sei que você não fez isso porque achou que eu precisava ser salvo. Por que você fez isso? — Encarei Karim agora, porque seus guerreiros estavam cuidando dos outros combatentes, e a luta já não era mais nossa.Seus penetrantes olhos verdes ainda não revelavam nada. — Porque você é inocente.— Inocente? Como você sabia disso?— Existe uma conspiração, e você está apenas pego no meio dela. Você é uma distração do que realmente está acontecendo.Vi um homem se aproximando sorrateiramente de Karim; peguei minha faca curta e rapidamente a lancei contra o guerreiro. A lâmina cravou em seu pescoço, e ele tombou no chão.— A rainha está envolvida nisso. Ela está planejando m