MORPHEUSNaquela manhã, eu não sabia se conseguiria encarar Mildred, pois ainda não me sentia pronto para olhar em seus olhos. Em vez de permanecer na estalagem de Dora, onde corria o risco de cruzar com ela, dirigi-me a outra hospedaria junto ao mercado. O boato sobre os dois homens que eu matara já se espalhara por toda a cidade, mas aquilo pouco me importava. Sentado ali, sorvia licor e planejava afundar meus sentidos na embriaguez, quando uma mulher se aproximou.Ela sentou-se sem cerimônia ao meu lado, trazendo uma caneca de cerveja e, sem esperar resposta, tomou um gole generoso.— Você parece perturbado. — Disse ela.— Isso não é da sua conta. — Respondi friamente.Ela sorriu com um risinho leve.— Beber de manhã é sinal de frustração, coração partido ou problemas no casamento.Ignorando-a por completo, voltei a beber e esvaziei outra dose de licor.— Vejo que não está a fim de conversa, mas sei de algo que pode te interessar.Lancei um olhar de canto de olho, mantendo silêncio,

MILDREDSoltei um gemido enquanto me remexia no sono. Meus olhos ainda estavam fechados quando me lembrei de tudo o que tinha acontecido: Morpheus me deixara inconsciente. Subitamente, meus olhos se abriram e eu me sentei num salto, olhando em volta e examinando o ambiente. Eu ainda estava em uma caverna perdida no meio do nada e, perto de um corpo d’água, não havia sinal de Morpheus.Minha mente se encheu de perguntas: onde eu estava e por que ele não aparecia ali.Ainda antes de terminar de processar esses pensamentos, percebi sua silhueta robusta se aproximando pelo lado norte. Levantei-me num impulso, pronta para explodir de raiva contra ele. Porém, toda minha fúria se dissipou quando ele chegou mais perto e percebi que seu corpo estava marcado por feridas. As lesões eram profundas e, apesar de não sangrarem mais, continuavam abertas e repulsivas.— O que aconteceu com você? — Perguntei, em vez de questionar por que ele tinha me sequestrado.Ele desviou o olhar e deixou cair o punh

MORPHEUSCaminhei para fora da floresta em direção à pequena tenda que eu montara para nós. No entanto, meus passos pararam e meus olhos se fecharam abruptamente diante do que vi. A Princesa estava no lago, completamente nua. Meu coração pareceu saltar para fora do peito. O medo me deixou imóvel. As mãos tremiam, a respiração se tornava descompassada e meu corpo balançava.Os cabelos escuros desciam pelos ombros dela enquanto se lavava, alheia à minha presença. O pôr do sol banhava sua pele, transformando-a num ouro puro. Meu membro ficou rígido diante daquela perfeição. Eu não sabia o que fazer, pois os pés pareciam fincados no chão. A única vantagem era estar atrás de uma moita espessa, o que a impedia de me ver. A adrenalina percorreu minhas veias, lembrando-me de quanto tempo se passara desde meu último encontro com uma mulher. Parecia ter sido uma década, e naquele instante meu desespero era total. O desejo me consumia por dentro.No passado, eu teria recuado. Fugiria e manteria d

MILDREDEu me sentia extremamente vulnerável e concluí que era exatamente aquilo de que precisava naquele momento. Morpheus não tentou retirar minha mão. Ao contrário, segurou-a com firmeza. Senti faíscas subirem do ponto onde nossas mãos se uniam e percorrerem minha corrente sanguínea. Meu pulso vibrava, mas aquilo não tinha nenhuma relação com a corrida que havíamos feito.— O que aconteceu com o animal? — Perguntei.— Eu o deixei desacordado, mas aposto que ele já acordou antes que a gente conseguisse voltar.— Ele não vai nos caçar?— Não. Eu o levei direto para a minha armadilha e tenho certeza de que agora está preso.— Isso foi muito estratégico e ótimo. — Olhei para o lado dele e vi o rasgo em seu braço. — Seu braço…— Não se preocupe com isso. Eu vou me curar.Não pude evitar a sensação de que Morpheus parecia um pouco tenso. Inspirei fundo e voltei o olhar para o teto da tenda, buscando um pouco de calma.— Sinto tanta falta da minha família. Sinto falta do meu irmão e do meu

MILDRED— Por que? — Perguntei. — Por que você estava com medo?Observei que ele lutava contra seus próprios sentimentos. Ele evitava meus olhos. Eu sabia que algo estava errado com ele, mas gostaria muito que ele confiasse em mim o suficiente para se abrir por completo. Isso só fortaleceria nossa confiança mútua. Conhecendo meu tio, eu sabia que ele tramava outros planos para me matar, mas se Morpheus e eu confiássemos de verdade um no outro poderíamos derrotá-lo e recuperar o trono e assim eu poderia salvar minha mãe das mãos cruéis dele.— Princesa, eu não sou uma boa pessoa. — Ele disse. — Já fiz coisas no passado que eram imperdoáveis.— E eu já disse que esse era o seu passado, certo? Eu disse que me importo com você agora. Escute, Morpheus, gaiolas não são feitas de barras. Elas são formadas por pensamentos expectativas e medos. Você está se tornando seu próprio prisioneiro ao se manter culpado por coisas que precisa deixar para trás. Eu não sei o que você viveu antes, mas sei q