Os dias passaram, mas as lembranças do caos causado por Aurora ainda estavam vividos na mente de Isabella, como um trovão distante que teima em não desaparecer por completo. Isabella estava no escritório, envolta pela luz dourada da tarde que se infiltrava pelas janelas, desenhando sombras suaves sobre a mesa abarrotada de anotações e xícaras de café esquecidas. Diante da tela do computador, seu olhar corria pelas linhas de código do projeto QuantumNex, mas sua mente vagava por territórios muito mais turbulentos.Cada comando digitado carregava um peso maior do que simplesmente levar a "Nexus Solutions" adiante. Era um reflexo de todas as escolhas difíceis que Isabella precisou fazer, algumas que pareciam dilacerar partes dela mesma. Havia muito mais em jogo do que o sucesso da empresa. Se ela errasse, poderia perder não apenas o projeto, mas tudo o que mais amava.Soltando um suspiro trêmulo, ela recostou-se na cadeira e fechou os olhos, pressionando as têmporas em uma tentativa frus

Na época, Isabella não deu importância. Estava ocupada demais com os desafios da empresa, os conflitos familiares, as pressões diárias. Nunca havia sequer aberto aquele arquivo. Mas, agora, algo dentro dela gritava para que o fizesse.Com um suspiro hesitante, deslizou os dedos pela capa envelhecida e a abriu.Documentos amarelados e fotografias antigas se espalharam diante de seus olhos. Cartas datadas de décadas atrás, registros de negócios que pertenciam a uma era distante, e imagens de sua infância que ela não se lembrava de ter vivido. Algumas mostravam sua mãe ao lado de outros membros da família Grayson, mas o que mais a inquietou foi perceber uma Joana que ela nunca conhecera.Entre os papéis, uma carta chamou sua atenção. Estava dobrada e um pouco amassada, como se tivesse sido lida muitas vezes. A caligrafia era elegante, mas as palavras carregavam um peso esmagador:“Este negócio está comprometendo tudo. Nossa relação, nossa integridade. Joana, você precisa entender que o q

A porta se fechou atrás do último funcionário com um estalo seco. O silêncio veio em seguida.Isabella não se mexeu, os ombros retos traíam a frieza treinada, mas os dedos pressionavam a lateral da coxa com mais força do que deveria e o maxilar travado, traia ela.Enzo também não se moveu, só olhava para Isabella, como quem esperava o momento certo para atacar.Ele olhou para a porta e depois, deu um passo a frente e outro. O som dos sapatos dele contra o piso era como um metrônomo.Ele andou até a mesa com aquela calma arrogante que sempre teve a de quem sabia o efeito que causou. Os olhos cravados nela como lâminas.Isabella engoliu seco. Ela sempre foi segura de si, mas ele a desarmava.“Não entendi porque toda essa raiva contida, eu não fiz nada de mais?” A voz dele soou baixa, sem pressa. “Você não fez nada de mais… brincadeira né”Isabella estremeceu, sorriu meia sem jeito, realmente agora achava que a noite que passaram juntos não foi nada para ele.“Não! Combinamos de trabalh

A porta se fechou atrás de Roberto com um estalo seco, ele não olhou para trás, não podia. Se fizesse isso, talvez perdesse o pouco de controle que ainda fingia ter. O corredor parecia mais longo do que o normal, e cada passo dele ecoava no mármore com um som áspero. O salto polido dos sapatos, antes símbolo de autoridade, agora soava como o ranger de uma armadura trincada.A raiva fervia no estômago, o rosto ardia, a frase ainda martelava na cabeça dele.“Quero alguém que me respeite.”Isabella o havia destruído com poucas palavras. Não precisou gritar, nem chorar. Só o encarou com aquele olhar frio, firme, e disse o que nenhum homem como ele gostava de ouvir. Que ela não pertencia a ele.As mãos dele se fecharam em punhos, o maxilar travou, cada célula do corpo dele vibrando num tipo de dor que o orgulho não reconhecia como tal. Porque não era só rejeição, era humilhação. A quebra de um ciclo que ele achava eterno, a certeza de que ela já não temia ele mais.Foi nesse estado, cego d

Dois dias se passaram, Isabella percebeu que havia algo diferente. Não nos relatórios, nem nas reuniões, tudo isso continuava da mesma forma, o clima estava tenso dentro da empresa. Mas havia uma presença constante orbitando o caos, discreta, eficiente, silenciosa.Enzo estava mais constante, primeiro ele começou com pequenos gestos. A pasta com os dados do QuantumNex entregue antes do prazo. A conferência de segurança do servidor feita sem ser pedida. Depois, os códigos otimizados, os testes concluídos, as correções detalhadas. E mais do que isso… havia a ausência de ruído.Nada de sorrisos insinuantes, nada de olhares prolongados. Ele estava respeitando a distância que Isabella havia pedido. Mas estava sempre ali.Naquela manhã, o elevador abriu com um aviso suave e Isabella saiu direto para o corredor do setor de inovação. Ela não avisou ninguém, não fez cerimônia. Só queria ver com os próprios olhos como andava o núcleo mais estratégico da empresa. Ela passou pelos vidros até enxe