Quando Miranda ficava recolhida no espaço mental, ela costumava ficar no escuro, como se dormisse, e, às vezes, algumas imagens vinham ela, difusas, fáceis de se confundir com sonhos. Tanto que, quando abria os olhos para o mundo externo, não sabia dizer se aquilo realmente acontecera sob o controle de June ou se eram apenas lembranças oníricas.Dessa vez, contudo, Miranda se sentia bem acordada, embora não estivesse controlando o corpo. Ela estava perto da superfície o suficiente para ouvir a discussão à sua volta e ver através dos olhos de June. Vez ou outra, Miranda até mesmo foi capaz de misturar seus pensamentos com o dele. Uma conversa interna surpreendente e confusa e Miranda não podia estar mais grata por essas novas possibilidades estarem se apresentando justo naquele momento.Ler mais
Aquele pedaço de carne
— De jeito nenhum! – Miranda deixou sua opinião mais clara impossível, se colocando entre o corpo de Cora e Travor, como se ela estivesse cem por cento disposta a servir de escudo humano se fosse necessário. Tony mais do que entendia o posicionamento dela, ele mesmo ainda tentava digerir a ideia que Trav havia apresentado. — Nós não vamos amputar a perna dela e usá-la como um pedaço qualquer de carne pra isca. Pelo amor de deus!Travor soltou o ar com força pelas narinas, perdendo a paciência. Dava pra ver que ele preferia a companhia de June, o cara prático e insensível, do que Miranda. — Mas, acontece que não tem outro jeito. – Travor disse, apertando a mal
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Aquilo que se espalhava pelo chão
Foi ótimo que Tony tenha desmaiado, Miranda ponderou, ela mesma, se pudesse, não estaria ali para ver o que iria acontecer.— Certo, – começou Travor, — vamos colocá-la na mesa e virá-la de lado, vai me dar mais apoio.Enquanto Travor empurrava toda a bagunça da mesa para o chão e fazia o que era possível pra ter uma superfície limpa, Miranda fez um torniquete na coxa de Cora para reduzir ao máximo a circulação sanguínea naquela parte do corpo. Se tivessem feito isso antes, talvez a necrose e aquele fluido pútrido não teria se espalhado tão rápido.Foi uma decisão errada atrás da outra. Miranda não conseguia evitar se culpar por ter forçado a troca com J
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Aqueles que escapavam
Tony sentiu mãos tocando seu ombro e acordou de súbito, se sentando tão rápido que foi como se sua pressão sanguínea tivesse ido parar nos pés, zonzo, com uma dormência enjoativa no trecho acima dos lábios e abaixo do nariz. Miranda o amparou, ajudando-o a se inclinar para frente, uma mão firme em seu peito e outra em suas costas, comprimindo só o suficiente para ajudar a diminuir o vazio que ele sentia entre os pulmões.— Ei, Tony, shh… – ela seguiu fazendo movimentos circulares em suas costas e dizendo frases de afirmações que, apesar de Tony estar ciente do quão genéricas e fora da realidade elas podiam ser no momento – “está tudo bem”, “tudo vai melhorar”, “você está indo bem” –, a repetição e
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Aqueles planos que nunca davam certo
Se Cora estava dando sinais de vida, isso significava que a conexão entre ela e os sanguessugas havia se quebrado. O que era bom, pois, se não fosse assim, eles continuariam sendo seguidos para onde quer que fossem e Travor tinha lugares para ir.Miranda injetara em Cora uma dose de morfina quando a dor pareceu forte demais para que ela pudesse suportar. Ao lado de Travor, Tony contorcia-se em seu assento, agitado, tentando ao máximo lidar com o incômodo de presenciar o sofrimento da amiga e não poder fazer nada. Era estranho que estivesse tão calado, esperava que ele procurasse expurgar parte dessa energia em palavras, mas ele mal abriu a boca desde que Cora emitiu os primeiros gemidos.Travor, por sua vez, tinha facilidade em compartimentalizar as circunstâncias. Ele não estava bem. Na verdade, se parasse
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