3 - A Verdade Vem à Tona

Capítulo III

A Verdade Vem À Tona

            Já era tarde na residência dos Hippunt, a festa de treze anos do jovem Teo estava começando. A festa seria nos jardins da casa, do outro lado da estradinha. Não se surpreenda, mas a estrada passava bem no meio do terreno de Hippunt, e isto o enfureceu bastante. “Eles poderiam fazer um contorno!”. Porém, como chefe dos duendes, então aceitou, isentando-se de impostos. Os jardins estavam maravilhosamente decorados com fitas, bolas e flores por toda à parte. É claro, uma decoração especial de Samarah, que com seus feitiços, decorou as bolas, multiplicou as fitas dando uma impressão diferente e melhor. As flores de diversas cores, mas todas iguais, enfeitavam tanto as mesas como estavam entrelaçadas nas cercas brancas.

            Fora um trabalho árduo montarem tudo e prepararem tudo. Na verdade, duendes haviam sido contratados para fazer o trabalho, o que não esquentou a cabeça de Megan.

            As mesas e as cadeiras estavam cobertas por um pano especial, verdes e amarelas algumas, e algumas outras vermelhas e amarelas. O bolo estava lindo, com glacê, chantili e chocolate. Não se sabia ao certo qual o sabor do bolo, só se sabia que ele estava muito bem decorado. Mas logo se soube tratar de um delicioso bolo de chocolate com recheio de chocolate branco.

            Samarah saiu de lá pelas cinco horas da tarde para passear pelo Condado de Nassau, e, quando chegou, viu que a entrada da casa de Teo estava muito bonitinha, as cercas brancas que cercavam os jardins estavam decoradas. “Isto eu não fiz”.

            Chegou até as extremidades do sul do Condado. Ali a cena era maravilhosa: a estrada onde Samarah estava ficava em um morro e de cima dali a paisagem ficava ainda mais bonita. Era um campo de grama bem aparado, até chegar a uma cerca velha. Havia duas árvores do lado de fora da cerca e uma dentro. E ao longe, o belo sol resplandecia laranja. Fora das cercas havia um laguinho. Samarah contemplou tudo e sentou-se na beira da estrada. “As coisas irão mudar muito... Por quê? Por que será que não posso ficar aqui olhando esta maravilha dos deuses ao invés de ter que cumprir um destino terrível?”

            Deitou-se na grama e olhou para cima. As nuvens estavam em diversas cores. Laranjas, rosas, verdes. O sol tingia a massa branca. Por um momento, a Srta. Stradivarius se sentiu aliviada.  

            -É hoje o dia! – cumprimentou Hippunt.

            -Nem me fale Hip. – respondeu Samarah. – Estou nervosa. Será que a reação dele será positiva? Nem todos que ouvem “Você tem que aniquilar seu pai” aniquilam!

            -Isto pode ser Samarah. – Hippunt agachou-se. Samarah ainda estava deitada. – Mas com certeza aqueles que ouvem “Você tem que salvar seu reino: você pode!” salvam. E sabe por quê?

            - “O bem da população!”- disseram os dois. Samarah falou:

            -Você já disse isto, mas pode acreditar que a população não está nem aí para nós enquanto nós nos matamos para que eles fiquem bem!

            -Eu sei disto, minha cara. Mas... bom, vamos para a festa. Tenho certeza de que irá gostar muito.

            -Acredite, não gosto de festas, ainda mais aquelas que precedem uma grande revelação para Teo.

            A festa foi maravilhosa. Todos do Condado foram, com exceção da Fria Família Burgatorell. Mas as crianças da família foram e se divertiram bastante.

Algumas famílias de duendes de outras cidades vieram, mas em pouca quantidade. Todos comiam e bebiam, gozando a vida. O padeiro-confeiteiro Lengs fez questão de presentear Teo com um belo buffet. Havia diversos biscoitinhos, salgados, e os famosos pães duendes.

Montou na grama um bar para os adultos e, é claro, o duende mais bêbado era o barman! E de hora em hora alguém subia para dançar na mesa ou contar uma história de uma frase. Também outros doidos subiam em cima das cadeiras para gritarem uma coisa qualquer. Samarah divertia os duendezinhos com feitiços e truques mágicos. E acredite, ela estava de muito bom humor, pois um truque mágico é a pior coisa que ela faria, porém é a que mais diverte as crianças. Truques como “Encontre a carta” ou “A carta invisível” era uma espécie de ofensa para os magos. No final ela acabou fazendo um truque, ou melhor, realizando um feitiço próprio. Pegou um canário, fechou sua mão e foi mudando a cor dele. Um feitiço ilusório? Não. Depois ela abriu sua mão e o canário voou até o céu e explodiu em fogos de artifício. Um duende foi procurar Samarah.

-Tia... Cadê o passalinho? – disse o duendezinho.

-Ora, no seu bolso querido! – falou Samarah. Ele enfiou a mão no bolso, tirou o canário e mostrou um belo sorriso. Disse “Obligado” e saiu correndo.

A família Lalipout deu cambalhotas e apresentou uma peça de teatro.

Hippunt comentou com Howar:

-Eles têm mesmo sangue artístico!

-Sabia que são da minha família!

-Óbvio que não! Pare de beber! – riu Hippunt.

-Preste atenção, Hip. Está vendo aquela duende que não é do Condado?!? Ela está dando um mole pra mim!

-Mas que mulher feia!

-Ah, caia na real! Não existe mulher feia apenas alguém que bebe pouco.

Hippunt teve vontade de dar um tapa na testa e falar: “Ai, este Howar!”. Até se afastou dele...

            Na hora de cantar parabéns para Teo, o coral do Condado de Nassau cantou uma música típica da região.

            -O “Concerto das Ervas”! – disse Samarah com Megan.

            -Sim, é uma música belíssima! Mas você nem vai querer ouvir a versão “renovada” que Howar fez!

            -Nem me fale! Aquele fanfarrão ainda é amigo do Hippunt?

            -Na verdade, apenas quando se encontram em festas. – declarou Megan. As duas riram.

            -Engraçado, não? – disse Sofia, na cozinha da casa de Hippunt. Lá, sobre aquele ar quente, diferente do local da festa, estavam a Srta. Stradivarius e Hippunt. Hippunt pegava uns biscoitos em um pote e Samarah estava encostada na bancada, tomando uma xícara de chá.

            -O que é engraçado, Sofia? – perguntou Samarah, se intrometendo.

            Sofia olhou para ela, como se dissesse “Estava falando com Hippunt!”. Mas então falou a Hippunt, ignorando Samarah.

            -Há muito tempo, escutei uma história de um vizinho meu dizendo que o Escolhido nascera naquele dia. E o engraçado, veja que peculiar, era que foi há treze anos atrás! Não exatamente, afinal escutei esta história dois dias depois de Teo aparecer, e fiquei até bem empolgada! Mas vejam o que uma duende velha pode dizer! O que foi? – perguntou Sofia ao ver que Samarah e Hippunt se encaravam, com os olhos esbugalhados. – Isto é só uma história que ouvi. Mas ouvi dizer depois que alguém o levara da Escola de Magia ao Marcopolo Leste. – Samarah deixou a xícara cair no chão. – Hei gente, credo, parece até que falei em algum demônio atacando o Condado de Nassau! Eu não vou limpar a sujeira. – disse, saindo.

            -Eu limpo. – declarou Samarah.

            -Não. Eu limpo. Agora eu gostaria de saber é como esta história vazou!

            -Acalme-se! Pensam que Teo está no Marcopolo Leste.

Terminada a festa todos foram embora cansados, porém divertidos. Samarah tratou de expulsar todos os que restavam no jardim. Havia duendes caídos na grama, outros conversando e logo Samarah deu um jeito para que eles saíssem amedrontados. Teo deixara os presentes em seu quarto. Decidiu abri-los somente no próximo dia. Megan, Hippunt e Samarah se dirigiram para a sala de estar. Era o local mais aconchegante da casa e o mais quente. A temperatura esfriava, o tempo fechava. Nuvens grossas cobriam o céu.

Samarah disse:

            -Logo vem tempestade.

            -Que pena... – disse Megan.

            Samarah sentou-se no sofá da sala de estar e aguardou com uma caneca de chocolate quente. Hippunt se sentou na cadeira vermelha e chamou Megan, que ficou em pé, apoiada na parede.

            Teo foi colocar o pijama para ir dormir e ouviu os três na sala falando algo muito estranho, que ele não podia escutar direito. 

            -Agora? Eu não sei... Tenho receio de que não seja a hora. –disse Megan.

            -Óbvio que não! As ordens de Merlim foram claras. Não há o que duvidar. É a hora. Quanto mais adiarmos, mais nos afundaremos em um precipício. – argumentou Hippunt.

            -Mas quem deve contar? – perguntou Megan. – Não tenho coragem.

            -Então o chame. – decidiu Samarah. - Eu conto.

De repente, Hippunt chamou Teo à sala.

Teo entrou e percebeu que a sala estava com um aspecto diferente, todos estavam sérios. Um clima pesado do qual Teo nunca vira. Não havia lugar para que se sentasse então Hippunt falou para que Teo pegasse a cadeira da cozinha.

-Não, por favor. –falou Samarah. - Sente-se Teo. Não gosto muito destas cadeiras pequenas mesmo...

Samarah ficou em pé.

-Teo, já se perguntou por que você é mais alto do que eu e Megan? – questionou Hippunt. - Já se perguntou o porquê de a Srta. Stradivarius sempre vir ensinar magia a você?

Teo hesitou. Sabia de tudo isso, mas não entendia o porquê desta conversa.

-É claro, eu sou um humano e vocês me encontraram numa toca de coelho na floresta. E a Srta. Stradivarius é uma feiticeira que percebeu meu talento. – respondeu Teo.

-Se, por acaso, você descobrisse que não veio de uma toca de coelho, e sim que você fosse alguém, digamos, especial. O que você acharia? – perguntou Samarah.

-O que está acontecendo? Não fui encontrado numa toca de coelho? Bem que era uma história estranha.

-Isso é o que nós lhe contamos. Você foi trazido da Escola de Magia de Ismir, na Cidade do Dragão, por Samarah até aqui. – falou Megan, rápida e direta.

-Como? – perguntou Teo.

            -Você entendeu. – disse Hippunt.

            -Vou lhe explicar desde o começo. – falou calmamente Samarah. Ela estava calma e respirava fundo. Ensaiara o que dizer há semanas. Fazia semanas que se preparava para aquela hora. E a cena estava montada. Só faltava ela dizer o que preparara. – Há muitos anos o Senhor das Trevas destronou o rei Endon e dominou Ismir. Ele conseguiu muitos aliados e aos poucos foi conquistando outras terras, mas esta conquista parou quando suas forças não puderam prosseguir. Algo o impedia. Na Ilha dos Elfos, Faragon, o rei dos elfos, descobriu algo inédito. Ele descobriu um cristal muito poderoso criado pela Imperatriz Katrina Amdala Anfritnit. Deve se lembrar dela, pois ela já foi citada em suas aulas de Magia. Katrina teve uma visão, muito antes do Senhor das Trevas governar Ismir. A visão falava que o Senhor das Trevas iria dominar Ismir por toda a eternidade, e isso não poderia ser modificado. Então ela criou um cristal muito poderoso para que, junto do Escolhido, eles pudessem derrotar o Senhor das Trevas. O Escolhido, Teo, foi você. Katrina também fez uma profecia, que retratava a sua visão. Ela escondeu o Cristal e a profecia na Ilha dos Elfos. Seu destino é ir até a Ilha dos Elfos, pegar o cristal, ir à Fortaleza das Sombras e destruir o Senhor das Trevas, dando o trono de Ismir de volta a Endon.

            -É isso mesmo, Teo. – confirmou Hippunt.

-Eu, Samarah Stradivarius, fui escolhida por Merlim para lhe trazer aqui, ensinar magia a você e levá-lo a Ilha dos Elfos. Durante anos vivi “disfarçada” e discreta sob os olhos atenciosos do Senhor das Trevas, procurando não chamar atenção.

-Então, eu sou o Escolhido? – perguntou Teo, animado. – Então tenho muito poder.

-O poder deve ser usado com sabedoria. – declarou Samarah.

-Mas porque só me contaram agora? - perguntou Teo quase sem fôlego.

-Segundo a profecia, você só poderia saber com treze anos. Não nos guiamos pela profecia, mas pelo fato de que somente com treze anos você estaria preparado e poderia destruir o Senhor das Trevas. - falou Megan

            -Como sabem que eu sou o Escolhido?

            -A profecia. Ela aponta para você. Tudo aponta para você. Mas suas outras perguntas serão respondidas quando chegarmos à Ilha dos Elfos. Amanhã partiremos.

            -Mas e se eu não quiser?

            -A escolha é sua. Pense. – disse Megan. Antes que o menino dissesse qualquer coisa, Samarah acrescentou.

-Teo, este cordão foi Merlim que pediu para te entregar, um cordão que o protegerá para sempre, sempre que o usar. - falou Samarah e saiu da sala. A conversa terminara. Sabia que mesmo pelo que Teo falara, ele iria sim.

            Lá fora, a chuva começara.

Todos foram dormir. O silêncio dominou a casa. Teo foi dormir muito abobado pelo que tinha escutado, muito medroso pelo que lhe aguardaria pela frente. Seus olhos fechavam, mas sua mente não cooperava: ele não conseguia dormir. Insônia? Angústia? Talvez.

Agora, Teo já sabia de seu destino, agora ele estava pronto para começar sua jornada em busca do cristal, em busca da libertação de seu reino de um tirano.

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