Capítulo 4

— PAI, O SENHOR está escrevendo qual livro agora?

          Wendy perguntou tentando puxar um assunto qualquer com seu pai.  Evan sabia que sua filha não gostava de ler, o que era muito estranho, por ela ser filha de um grande escritor como ele, mas Evan não se preocupava com isso, só a voz adocicada dela já o acalmava.

          — Estou escrevendo um novo romance, meu anjo – responde Evan com um suave sorriso no rosto olhando para a sua filha de oito anos, gostando de vê-la interessada em seu trabalho.

          Jullian estava emburrado no banco do passageiro.

          — O livro fala de um homem que não dava muito valor à sua família, mas depois percebeu o seu erro e faz de tudo para que o aceitassem novamente, e nisso acontecem muitos episódios desconcertantes.

          — Pai... o senhor vai estar livre na Sexta? – Perguntou Jullian interrompendo a conversa e aquele momento pai e filha que estava dando náuseas nele, tentando mostrar alguma animosidade para Evan, sem sucesso algum.

          — Acho que não, filho, por quê? – Respondeu Evan tentando corresponder a animosidade aparente do filho, também sem sucesso.

          — Nossa banda vai tocar na festa da Bia, gostaria muito que o senhor fosse me ver tocar, acho que seria bacana você aparecer.

          Jullian se esforçava em continuar animado.

          Evan bagunçou os cabeços multicoloridos e compridos do filho carinhosamente. 

          — Vou me esforçar para ir, filho – Disse sorrindo para ele –, é que tenho prazo para entregar esse livro para a editora, você me entende, não é?

          Respondeu Evan percebendo que a animosidade do filho se fora de vez novamente.

          — Claro pai, sempre entendo, é que você nunca foi me ver tocar, o pai da galera sempre vai.

          Jullian respondeu voltando a ficar emburrado no banco ao lado do pai.

          Evan ficou com peso no coração e tentou resolver a situação sem sucesso.

          — Eu tinha o mesmo problema com meu pai, filho – começou Evan o seu discurso – mas, meu pai ficava em um bar bebendo com seus amigos, e hoje você sabe onde ele se encontra, tudo o que estou fazendo é para o seu bem, juro que não é por mal... Você sabe o quanto te amo, e todo esse trabalho que tenho, faço por vocês, é uma realização pessoal minha, mas minha grande inspiração são vocês.

          Jullian ainda estava emburrado, afinal, sermão era tudo o que ele não queria no momento, Jullian já tinha ouvido aquela história, para não falar ladainha, outras mil vezes...

          E em que seu pai era melhor do que seu avô? Ambos se afogaram em um abismo que não conseguiam sair, ambos não davam atenção para sua família, e ambos eram fracassados como pai...

          Jullian decidiu começar uma pequena discussão, na verdade, para ele era mais um desabafo.

          — Compreendo, pai. Mas seria bacana se o senhor fosse um dia pelo menos, seria muito bom, entende? Não estou pedindo muito...

          um dia...

         

NESSE MOMENTO EVAN estaciona o carro em frente ao portão principal da escola dos filhos.

          Evan força um sorriso afetuoso ao filho.

          — Também gostaria, filho, tenho muito orgulho de você e de tudo que faz, agora vai lá, antes que a senhora Baxter já pegue no seu pé novamente.

          Evan beija o filho e ele sai do carro batendo a porta feito uma porta de geladeira.

          — Vai com Deus, filho... – a frase fica cortada.

          Evan fingiu que não percebeu a irritação dele, olha para a filha no banco traseiro.

          — Cadê o beijo do meu anjinho?

          Wendy pula para o banco dianteiro.

          — Te amo, papai – ela o abraça e o beija – o senhor vem buscar a gente?

           Evan arrumou a roupa bagunçada da filha, deu um beijo em sua testa e abriu a porta do passageiro para ela sair.

          — Claro, meu anjo, vai lá... senão você vai se atrasar ainda mais.

          Evan sorriu carinhosamente para a filha.

          — Olha lá, papai – Wendy aponta para a porta da escola – a senhora Baxter acenando para o senhor esperar.

          Evan faz uma cara de impaciência enquanto a filha saía do carro, era a segunda vez que alguém tentava estragar seu dia.

          Um minuto depois a velha Sr.ª Baxter chega.

          — Olá, Sr. Spencer – disse ela carrancuda como sempre – gostaria de falar com o senhor por alguns minutos sobre o Jullian.

          Parecia que ambos estavam em uma disputa de irritação e impaciência.

          — É mesmo muito importante, Sr.ª Baxter? – Começou Evan tentando dar o golpe final antes mesmo de começar a batalha, nem mesmo sua interpretação favorita em olhar para o relógio fazendo cara de atrasado deu certo – porque tenho a agenda lotada hoje, sabe como é, não é mesmo?

          Evan fingiu novamente um ar de preocupação com o horário, mas ela o ignorou como sempre fazia com todas as pessoas.

          — É sim...

          Começou ela com um ar de superioridade.

          — Seu filho está impossível, anda faltando às aulas para sair com as garotas, e fica fumando escondido pelos cantos da escola, já cansei de adverti-lo, mas ele só pensa em sua bendita banda e de se divertir com seus amigos nada aconselháveis, diga-se de passagem, o senhor é o pai dele, deveria ter mais cuidado com quem seu filho anda.

           A Sr.ª Baxter parecia querer dar uma lição de moral em Evan, ele apenas deu um sorriso sarcástico para ela e continuou a disputa.

          — Entendo, Sr.ª Baxter – disse Evan mudando a tática, ele se mostrou contente com a presença dela – mas isso é normal na idade dele, vai me dizer que a senhora também não dava uns beijinhos pelos cantos do colégio?

          Ela passou da irritação para a indignação em menos de um minuto com aquele comentário pérfido, parecia que Evan tinha tocado em seu ponto mais fraco.

          — Mais respeito comigo, Sr. Spencer – ela apontou o dedo indicador da mão direita para Evan – não é porque o senhor é um grande escritor renomado que não posso tomar minhas medidas legais contra o senhor por desrespeito.

          A Sr.ª Baxter tentou falar em um tom ameaçador, mas Evan novamente deu risada.

          — Nada disso Sr.ª Baxter, só estou querendo dizer que enquanto a senhora o ficar vigiando, ele ficará longe da senhora, ignorando seus conselhos, só a senhora não está vendo que esse método não está dando certo, tenta mudar esse meio de chegar no Jullian, ele acha que a senhora está o perseguindo porque é meu filho, e por isso deveria ser o espelho da escola, a senhora entende...

          Evan continuou na ofensiva, mas dessa vez colocou um tom de dramaticidade em sua voz para tentar comovê-la.

          — Quando na verdade, ele tem a sua própria vida, indiferente de ser meu filho ou não, antes de ser o filho de Evan Spencer o escritor famoso, ele é o Jullian, ou "Boy Spencer", como todos o chamam, pega leve com o garoto, ele é muito inteligente e legal, tenho certeza que a senhora vai adorar fazer amizade com ele.

          Ela ignorou o conselho e continuou tentando ser a dona da situação.

          — Bom... era isso que gostaria que soubesse, mas se o senhor que é o pai dele, parece que não está nem aí, o que dirá eu, não é mesmo, Sr. Spencer? Tenha um bom dia.

          A Sr.ª Baxter deu meia volta como se fosse um soldado militar e retorna para a escola andando rapidamente com o seu orgulho ferido – disso Evan tinha convicção. Evan ficou apenas chateado, pois ele sabia que depois dessa conversa, ela ficaria ainda mais no pé de seu filho.

          — Ninguém merece mesmo... 

          Evan falou consigo mesmo dando uma pequena risada de alegria por se lembrar dos bons tempos de escola – entra ano e sai ano, e essas diretoras loucas permanecem, não sei qual critério que eles usam para contratar umas desvairadas como essa daí, no meu tempo era a Sr.ª Leilane, aquela também era demais.

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