Capítulo 4

Primeira tentativa de suicídio

Os pensamentos começaram a ficar repetitivos em minha cabeça, tudo se transformou em um enorme paredão em minha vida, me tornei uma pessoa sólida, fria e sem prazeres.

Eu pensava do porque ele tinha me trocado, será que não fui boa o bastante? Será que faltaram beijos e abraços?

Só o que eu concluía era que eu era uma garota muito sonsa, fui passada para trás por mérito próprio, pois não merecia ser amada, não sabia nem o que era amor, porque alguém se interessaria por mim?

Ninguém jamais outrora iria me querer, e depois de ele espalhar para todos o boato de que eu teria ficado com todos da rua, inclusive os casados, minha vida jamais seguiria em diante, jamais alguém viria me propor um relacionamento.

Porque eu continuaria a viver? Porque eu continuaria minha vida sem graça e com minha vida sem graça e sem sentido, na minha opinião ir à igreja não sentira, já que eu ia obrigada pelos meus pais, não sentia mais prazer em tocar nenhum instrumento, eu era obrigada a ensinar a música para as garotas, já que elas não tinham culpa de nada.

Em meio tantos pensamentos sórdidos e dolorosos, me surgiu a ideia mais macabra de todas, se eu não tinha prazer em fazer nada que eu fazia, já que ninguém jamais me proporia um relacionamento, já que não existia vínculo fraternal que me segurasse em apoio e em vida, terminaria tudo. Foi em meio a tantos pensamentos que tive uma ideia...

Muitas vezes eu cuidava da mercearia do meu pai, e lá ele vendia chumbinho e álcool perfumado, resolvi tomar esse veneno misturado com o álcool, no intuito de acelerar o processo da morte, não sei se foi a melhor ou a pior decisão da minha vida, só sei que era a única opção que me ocorria no momento.

Comecei a ficar tonta e sentir vontade de vomitar e defecar em simultâneo, isso eu estava na mercearia sozinha. Só sei que quando voltei num ‘flash’ de consciência ouvia muita gente em minha volta orando, e minha mãe chorando, eu já não estava na mercearia, alguém tinha me levado para outro lugar que eu não sabia onde era, ouvi minha mãe orar e pedir a Deus por minha vida, mas as vozes desvaneciam, não conseguia ouvir uma frase completa.

Depois decidiram me levar para o hospital, ouvia sussurros de homens pegando algo pesado, mas meu corpo estava totalmente adormecido, não sentia meu corpo, me senti leve, naquele momento eu não compreendia se eu estava no colo, era como se meu espírito estivesse fora do corpo.

O caminho do hospital foi estranho, eu não sentia nada, mas às vezes me dava uns ‘flashes’ de consciência e olhava para o motorista, ele me olhava com cara de preocupação, mas eu não entendia nada, não conseguia raciocinar, não sabia o que estava acontecendo, era como se minha vida tivesse sido apagada. Era o que eu realmente queria, mas infelizmente, logo recuperei meus pesadelos.

Chegando ao hospital, eu fui levada até o médico, não me lembro como, foi quando tive um desses ‘flashes’ e ouvi o médico dizer "deixa ela subir sozinha" eu tentei, porém, por mais esforço que eu fazia meu corpo não respondia nenhum dos meus reflexos, até que apaguei de novo, só acordei no outro dia com o médico me dando alta. Até hoje não sei se o médico soube o que tinha acontecido, mas, não fiz exames nenhum e não sei o que me deram, se me deram.

Fui levantar da cama do hospital, ainda me sentia meio tonta, quase cai novamente, mas me mantive de pé. O médico sumiu, não via nenhuma enfermeira, não tinha ninguém na recepção, não me perguntaram como eu me sentia, então eu segui em direção a saída, sentia fortes dores no estômago e minhas pernas tremiam, mas eu não tinha outra opção, tinha que ir embora.

Lá fora eu não via ninguém conhecido, ficava pensando onde estaria minha mãe, para onde eu iria, então o que me restava era esperar.

Sentei na porta do hospital e esperei minha mãe chegar.

Esse foi o primeiro de muitos surtos que tive...

Continuei minha vida atormentada por pensamentos turbulentos e dolorosos, volta e meia minha mãe me pegava sentada sobre meus joelhos chorando, mas, não dizia porque, só chorava.                    

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