|5| DOIS PESADELOS FORMAIS

   OS RAIOS SOLARES PENETRARAM ATRAVÉS DE MINHAS pálpebras, pontuando a claridade para dentro de meus olhos.

Os seixos oblíquos jaziam um calor sólido sobre meus braços descobertos, abraçados sobre um travesseiro da mesma forma que eu costumava abraçar um urso de pelúcia quando pequena. Piscando, me deparei com a cena reluzente pintada de laranja amarelado enquanto me espreguiçava na longa cama de mogno.

Eu estava sozinha em casa.

Era estranho e bizarro. Mas eu sabia.

Depois que alguns de meus sentidos de Falange foram despertos, me deparei com esse sensor estranho que entregava a presença distinta de seres da mesma raça próximos a mim. Cada um tinha uma presença estranha de fazer sentir, as sensações jaziam como palavras através das mudanças de auras, que segundo Arena, minha co-estrutura-mentora-amiga anciã mais estranha do mundo, era a essência que fluía de cada ser, especialmente os Caminhantes.

A presença de tia Peg era estranhamente seca, áspera e aveludada ao mesmo tempo, carregada de paradigmas e um aroma conflitante de mel com abóbora.

Outra presença muito forte era a de Arbo. Tinha um cheiro almíscado de pimenta e sal, uma sensação comprometedora de um cobertor macio roçando sobre a pele em um dia úmido.

E a mais forte delas, Eron. Um verdadeiro redoma alucinante de sensações controversas. Cheiro de couro e orvalho, se misturando á sensação agridoce do calor do verão e água salgada. As notas olfativas se misturavam entre si, criando uma exuberância sensual de madeira quente. A sensação familiar, mas sempre diferente de ter coisas estranhas e não identificadas correndo pela espinha, parando na nuca e chamuscando os cabelos com um toque progressivo e quente. Como se um sussurro descesse por minha orelha e encontrasse a mesma direção do pescoço e da nuca.

Era irritante a forma como essa sensação sempre me fazia arquear a coluna, arrepiando toda a extensão de minha pele como se eu fosse apenas um gatinho indefeso com os pelos eriçados.

Eu nunca ia ser exatamente assustadora se continuasse sem conseguir segurar as rédeas de minhas próprias sensações. Eu teria que ter uma longa e exaustiva conversa com minha vontade própria algum dia.

Mas não havia nada aqui além de mim. Acordando sozinha numa manhã qualquer em Miriad.

Enquanto afastava os cabelos dos olhos e da boca entreaberta, eu forçava minha mente a se recordar dos últimos acontecimentos. Arbo havia escoltado uma carruagem segura até a frente da mansão Hatthwey, e depois de despachar a mim e a tia Peg para dentro, havia sumido novamente em direção á batalha nos Portões, ou fosse lá o que fosse.

Enquanto eu não fosse devidamente treinada, minha regra de ouro número um da lista de coisas a não se fazer enquanto for horrorosamente perigosa como um bisquí decorativo, era ficar estritamente longe de situações perigosas. Afinal, eu tinha um traseiro a zelar, mas uma mente muito aflita para dar conta. Minha ligação com Eron havia sido interrompida noite passada, e lembro-me vagamente de ter subido para meu novo suposto quarto, o qual eu nem mesmo havia verificado, como eu certamente faria há alguns meses atrás, esperando por alguma reposta mental ao meu chamado.

Eu me lembrava de haver me jogado na cama, esperando, enquanto tia Peg tentava me obrigar a descer e comer alguma coisa.

Só minha tia se sentaria para comer um peru entupido de tempero verde enquanto o lado de fora da casa estivesse sendo bombardeado.

Mas eu não tive resposta, e me obriguei a deitar e torturar a mim mesma enquanto recriava diversas cenas sangrentas na mente ao tentar imaginar o que diabos poderia estar acontecendo nos Portões. E quando eu estava quase navegando para o meu subconsciente, recebi uma resposta.

Está tudo bem. Nos vemos amanhã.

Mas eu havia estado tão torpe de sono, que não me lembrava de haver respondido alguma coisa. E se havia, sentia o rosto quente apenas ao imaginar o que poderia ter sido.

Ao pensar nisso, me afastei dos lençóis cor de champanhe, apertando os olhos para a decoração do quarto.

Mas que inferno.

Em algum momento minha tia ninja de 400 anos deve ter pensado nisso tudo.

Era praticamente a mesma decoração de meu quarto em Hawthorne, Califórnia, no mundo terreno. Pisquei sobre a imagem sagrada de meus desenhos colados nas paredes cor de berinjela, me perguntando por que eu ainda guardava aquela tralharia toda. Meu laptop estava em cima da escrivaninha, á baixo de uma janela coberta por uma cortina em tons quentes de roxo, rosa e dégradé. Meus olhos se puxaram para o pequeno criado mudo ao lado da cama, confirmando minhas suspeitas.

Meu celular quase o tempo todo sumido pousado sobre o tampo riscado de canetão.

Ah droga, eu queria chutar minha tia e beijá-la ao mesmo tempo.

Arrebatei o aparelho de cima do móvel, agradecendo em silêncio por estar com pelo menos vinte por cento de bateria, visualizando uma mensagem não lida vinda de Ivi.

Deslizei o sensor da tela para desbloquear o aparelho e visualizei a mensagem.

HEY! COMO VAI O PAÍS DAS MARAVILHAS? A CORTE DO TRA-LA-LA-LA JÁ FOI COROADA OU O QUÊ? QUERO VOCÊ AQUI!

Sorri para o visor brilhante, dedilhando uma mensagem qualquer e pensando em minha melhor amiga.

Desde a festa a fantasia da descola, não pude mais conversar com Ivi. Melhores amigas normais geralmente arrumam meios de se falar, mas no nosso caso, as coisas eram mais complicadas. Ivi já havia conhecido uma parcela desse mundo, uma parcela bem amarga pelo que me lembro, e voltar aqui nunca seria uma opção para ela. E como uma Falange, eu precisava ter minha vida em Miriad, ao mesmo tempo em que não conseguia pensar em uma vida fora de Petrópolis.

O sorriso sumiu de meu rosto e o celular foi parar no chão, em cima de um tapete incrivelmente parecido com o familiar tapete persa ruído nas pontas que costumava decorar o chão de meu quarto antes.

Eu sabia que em alguns dias, a Elite de Arena voltaria para a Morada no Rio, e eu iria aproveitar a carona para voltar com eles, quisesse o Conselho ou não.

Acabou não havendo coroação nenhum na noite passada, por culpa de toda a confusão acerca do suposto ataque aos Portões, mas o Punho estava completo e totalmente no poder. Havia tanta coisa quebrada no caminho para concertar, que eu duvidava que eles fosse se importar sobre onde eu estaria nas próximas semanas.

Ou pelo menos, eu contava com isso.

Joguei as pernas para fora da cama, visualizando a mim mesma. Eu me lembrava vagamente de ter trocado o vestido por uma camiseta do time de basquete do Tigres da GL que havia pertencido a Itham, me perguntando que infernos ela fazia em Miriad.

Mas ela já não ficava tão grande em mim, considerando que quase metade de meu bumbum ficava á mostra. Eu não notara o momento em que havia acontecido, mas de alguma forma, ao longo do tempo, eu esticara como uma cenoura. Minhas pernas estavam levemente mais compridas, os braços seguiam a mesma tendência, e meu tronco, mais fino e inflado ao mesmo tempo. Corei ao relembrar das curvas que se revelaram noite passada sob o tecido revelador do vestido, pensando no quanto eu estava perdendo sobre mim mesma. Uma vez, Arbo dissera que nossa raça tinha a igual tendência de crescer mais que os Terrenos. Eu nunca havia realmente reparado que tipo de estrutura eu costumava ter, mas podia dizer com certeza que ela estava mudando.

A surpresa em meu roupeiro não me sobressaltou. Eu sabia que algumas das minhas roupas estariam ali, o que foi um alívio, já que pude me enfiar em um shorts que fazia dupla de pijama com algum top perdido e me livrar da necessidade de seguir usando as roupas da irmã de Arbo.

O banheiro também tinha suas surpresas agradáveis.

Escova dentes, creme dental de uma marca barata, desfrisante para os cachos e uma escova de cabelos.

Caramba. Minha tia era realmente boa nessa de planejar coisas que minha sobrinha otária não pode saber.

Depois de me alongar alguns minutos diante do espelho, e retirar o que sobrara da maquiagem borrada da noite passada, me senti quase viva. A sombra preta e dourada havia se infiltrado de maneira grotesca nos poros do rosto á baixo dos olhos e nos contornos das pálpebras, e quando somado ao fator de meus cabelos não cooperarem com as cerdas da escova... bem, eu poderia dizer que minha expressão estava meio... selvagem.

Desde que a loucura toda começara, não tive muitos momentos para cuidar das necessidades básicas de uma garota, e duvidava que fosse ter muitos quando precisasse decorar movimentos mortais com uma lâmina afiada.

Eu sabia que não podia simplesmente sair assim por Miriad, mas não tencionava sair enquanto minha tia não chegasse e esclarecesse a porcaria toda que acontecera durante a cerimônia.

Tia Peg era o tipo de pessoa que sempre estava fazendo alguma coisa. Coisas escondidas de mim, devo ressaltar. O que a fazia muito feliz. Então, estava tudo bem.

Juntei as roupas sujas de Zoe que estavam amontoadas em uma cadeira no canto oposto da escrivaninha e sai do quarto, procurando qualquer coisa que fosse mais parecida com uma lavanderia. Era estranho o modo como muitas das coisas em Miriad se pareciam com coisas Terrenas. Geralmente, os móveis eram sempre mais requintados e luxuosos, mas não exatamente diferentes. Claro, fora o fato de que tudo era adaptado para formas de vida que controlavam elementos entre outras coisas. Eu me perguntava se quando eu fosse desbloqueada, eu iria poder lavar roupas sem precisar de uma máquina ou estourar pipoca sem precisar de um micro-ondas.

Toda a minha parte Falange estava bloqueada por algum código vodu que ninguém conseguia decifrar, mas alguns dos sentidos que eu deveria ter já se mostravam mais sensíveis desde meu primeiro toque real com a Esfera, no Julgamento. Por exemplo, eu podia jurar que naquele exato momento, alguma coisa estava me dizendo que deveriam ser umas dez ou onze horas da manhã, e que aquela porta estranha no fim do corredor deveria levar a algum lugar úmido o suficiente para comportar alguma máquina de lavar roupas.

O que se provou correto.

E o que fez meus cabelos se arrepiarem.

Okay, nada para surtar. Poderosa como a Liga da Justiça, lembra? Assimilar primeiro, ter um colapso mental depois.

Claro que isso não era preocupante.

Eu era o tipo de garota que vivia tropeçando nos próprios cadarços. Qual o mal em de repente ter o controle sobre os quatro elementos? Nenhum, realmente.

O espaço não era apertado, como o de minha casa no rio. Tinha um leve cheiro composto de pinho e pêssego, e era clareado por duas enormes janelas de vidro moldadas sobre a pedra polida na parede leste.

Meus olhos encontraram a paisagem rasteira esverdeada por de trás do vidro transparente, e a sensação estranha de conexão me dominou. O bosque parecia ter sido pintado em tons de aquarela, e as árvores grossas com troncos atrofiados tinham ramos extensos, que criavam um teto folheado sobre a casa. As folhas verdes balançavam no ar em sintonia com o vento, e um sussurro calma da natureza fluía musicalmente até mim, cobrindo me como um manto e me fazendo sentir mais leve que uma pluma sendo levada por uma ventania de verão.

A sensação foi substituída por uma onda quente subindo como a ponta de um dedo indicador pela minha espinha, pontuando arrepios por meu pescoço e se detendo nos cabelos da nuca, ao mesmo tempo em que o cheiro de madeira quente e couro subia a minhas narinas.

Ressabiada e petrificada, logo senti o toque gentil em minha cintura, que me obrigou a arquear o tronco de forma pitoresca.

— Você parece muito concentrada em alguma coisa. Estava pensando em mim?

Oh, por todas as mães de bebês. Ele realmente estava ali.

Seu hálito fresco e quente empurrou alguns fios de cabelo para meu rosto, e meu coração se debateu dentro do peito, como se não houvesse espaço suficiente dentro de minha caixa toráxia.

Um silvo fino escapou por meus lábios, e fechei os olhos por um instante, visando acalmar a maré de sensações que se acentuaram a boca de meu estômago mediante a presença de Eron.

— Por favor, me diga que você está usando camisa hoje.

Pude sentir o riso inesperado chacoalhando seu peito.

— Que tal dar uma boa olhada?

Retive o ar dentro dos pulmões.

— C-como você entrou aqui? — a babaca de repente gaguejante perguntou.

— A porta estava aberta. Eu meio que... me convidei.

Eu quase ri. Teria rido, se não houvesse uma mão infernalmente quente em minha cintura.

— Oh, sim. Tia Peg realmente me deixaria sozinha em casa com a porta dianteira aberta.

— Oh, você estava falando sobre a dianteira? Eu estava falando sobre essa porta aqui.

O riso escalpou de meu peito.

Maldito Eron.

Joguei as roupas em cima da máquina, rapidamente me livrando do pensamento de devolver as roupas naquele dia e me virando para ele. Um toque de ressentimento misturado á uma sensação de alívio correu por minha garganta ao reparar que ele não estava sem camisa. A regata branca e familiar cobria seu peito cor de caramelo, deixando as três garras no pescoço e o tribal escuro que descia pelo braço direito á mostra.

E, Oh, querida deusa.

Aquela maldita calça escura que se ajeitava em todos os malditos lugares completamente errados de se olhar.

Seus olhos verdes como luzes num pinheiro de natal eram elétricos, como costumavam ser a maior parte do tempo, e algumas mechas do cabelo preto como a meia-noite caíam sobre os cílios longos e escuros. Ele meio que se parecia com... um pedaço de chocolate. O último do mundo todo. Um pedaço ambulante de chocolate com pernas completamente comestível. Absurdamente namorável.

— Sabe, eu gosto da forma como você me olha. — ele disse de repente, completamente ciente de meu olhar três dimensões sobre cada parte sua — Como se estivesse me saboreando com os olhos e estivesse gostando muito do gosto.

Meus olhos se puxaram para o seus, e um calor incandescente se alojou em minhas bochechas.

— Hum. Também é delicioso ver você corar. Você fica completamente beijável.

Entortei minha sobrancelha para ele.

— Isso tudo é uma tentativa de tornar o “me desculpe por ontem á noite” mais aceitável?

Ele cruzou os braços, se recostando no batente da porta. E eu quase vacilei pela forma como os seus músculos se inflaram com o movimento.

Manobra evasiva! Olhe para qualquer outro ponto. Rápido!

— O quê? Eu fiz algo que lhe desagradou ontem á noite? Para falar a verdade, minha intenção era fazer completamente o contrário disso.

— Você sabe sobre o que estou falando. Você... se desconectou. Fechou sua mente. Porque não me queria lá?

Eron desviou os olhos. E eu realmente vacilei.

Eron não era do tipo de desviava os olhos.

— Você não precisa ter sua mente traumatizada por batalhas agora, Eve. Garanto que você terá muito tempo para se familiarizar com elas depois. Sua noite foi o suficientemente agradável, e eu não precisava que ela fosse ainda mais arruinada por acontecimentos chateantes.

Eu engoli em seco. Ele tinha um ponto.

— E você vai me contar o que aconteceu?

Ele deu de ombros.

— Basicamente? O que sempre acontece. Você terá de se acostumar á isso, Eve. Miriad é um alvo. É normal que os Portões sejam atacados com insistência, mesmo que o único episódio em que isso tenha dado certo tenha sido durante a Grande Revolta. — seus lábios se comprimiram ao relembrar o acontecido. Eron geralmente se fechava sobre o assunto, que também costumava me render grande repulsa.

No mesmo dia em que seu pai marchara até Miriad, para aniquilar toda a facção da Luz pela suposta morte de Eron, minha verdadeira mãe abriu os portões de Miriad para ele, porque ela era uma espiã. Por que ela era das Trevas.

Suspirei, receando o rumo que a conversa havia tomado. Nenhum de nós estava pronto para ela.

— Eu sei, é só que... você não precisa tentar me proteger de tudo. — torci os tornozelos, baixando os olhos para as mãos — Foi... decididamente ruim ficar pensando no que poderia estar acontecendo ontem.

O sorriso malicioso se abriu suavemente em seu rosto novamente.

— Você está querendo dizer que estava preocupada comigo?

Rolei os olhos, passando por ele e pelo vão da porta.

— Você é um idiota.

Ele me seguiu.

— E você está terrivelmente e obcecadamente apaixonada por mim. Vamos lá, você já pode dizer.

Eu grunhi.

— Vai sonhando... eu nunca vou dizer isso.

Eron fez um som semelhante a um bufar.

— Não me faça provar que você está errada.

Depois de alguns corredores e um lance de escadas, finalmente estávamos na cozinha.

A cozinha de minha casa Terrena, era toda metálica, e um enorme balcão de granito a cortava ao meio, onde banquetas se alinhavam disciplinadamente ao longo das duas pontas. Mas ali, a cozinha era de uma madeira fosca e reluzente, aderida ás paredes cinzentas pelos três cantos das paredes, e uma longa e bonita mesa de mogno entalhado se estendia pelo centro do piso polido, onde uma longa toalha de crochê recriando pétalas de crisântemos se encontrava estendida. Uma jarra de suco de plástico estava posta sobre ela, e as sementes de laranja nadavam no fundo. As lamparinas no teto eram redondas, semelhante á bolhas amareladas, como as luminárias da Academia. O ar era acolhedor, lustrado e familiar. De algum modo, eu sentia como se tivesse passado minha vida toda ali.

Droga, pelo que bem sabia, eu havia nascido ali.

A lembrança só me fez recolher todos os sentimentos abstratos de conforto para um lugar recolhido e esquecido dentro de meu peito.

Eron se esparramou em uma das cadeiras da grande mesa enquanto em me sentia perdida em meio á grande cozinha. Ele atraiu um de seus tornozelos por cima do joelho da outra perna e descansou um dos braços musculosos ao longo do tampo recoberto com a toalha de crochê. Ele não combinava muito com toda a simplicidade do lugar.

Se algum dia alguém me dissesse que eu teria um cara daqueles na minha cozinha... bem, acho que eu teria convulsionado de tanto rir.

Lancei meus olhos sobre as portas de madeira brilhantes.

— Hãm... você está com fome?

Seus olhos desceram por toda a extensão de meu corpo, e um brilho familiar e faminto lampejou por entre as íris verde-douradas.

— Morrendo.

Minhas bochechas voltaram á corar.

Okay. Eu tinha novas pernas bem legais. Tudo bem por mim se ele queria jogar um pouco. A velha Eve teria saído correndo para o quarto e trocado o velho shorts curto demais por alguma calça jeans, mas pelos céus... eu havia assassinado uma grande vaca sem escrúpulos que usava seus poderes para torturar pessoas. Estava na hora de crescer.

Mordendo o lábio inferior, ousei dar alguns passos em sua direção, jamais deixando seus olhos. Excitada pela ousadia do que eu estava prestes a fazer, senti meu pulso ecoando em todos os lugares de meu corpo.

— Bem, então, acho que nós temos que dar um jeito nisso. — eu disse, torcendo para ter soado sexy o suficiente.

O que deve ter surtido efeito. O arrepio quente percorreu cada espaço de pele amostra quando os olhos de Eron brilharam num relance dourado, sua mandíbula se travando ao mesmo tempo em que seus olhos se paralisavam em mim. Era quase desorientador ter consciência do efeito que eu mesma mantinha sobre ele, esquecendo-se de que talvez, eu não fosse a única que ficava tonta quando estávamos tão próximos.

Continuei estendendo os passos até ele, e seu peito se inflou perigosamente quando parei à sua frente, me inclinando sobre sua figura estática e estendendo o braço para a jarra de suco.

— Eu vou preparar um suco para você. — eu disse, os lábios próximos á sua boca.

Seus olhos se voltaram tenebrosamente calorosos em direção a eles, para depois subirem á meu olhar.

— Garotas malvadas precisam ser disciplinadas, Ev. Você não está favorecendo sua posição.

O riso tenso moveu meus lábios, anestesiada pelo calor de sua proximidade.

— Eu só pensei em marcar alguns pontos.

Seus olhos desceram por minhas pernas.

— Eu nunca disse que você não marcou.

Voltei a endireitar a coluna, trazendo a jarra comigo e sentindo o formigamento na sola dos pés se alastrar por todas as partes de meu corpo.

— Ótimo! — eu disse me virando sobre os calcanhares, jogando os cabelos por cima do ombro direito e voltando para a pia novamente. Pousei a jarra á minha frente. — O que você vai querer? Bacon com ovos? Sanduíche com pasta de amendoim, pretzels de frango ou panquecas?

O calor em minha espinha subiu alguns graus, e meu braço deslizou desequilibrando para o lado, acertando a jarra e a derrubando no chão, ao mesmo tempo em que o hálito quente soprava na pele arrepiada do lado esquerdo de meu pescoço, fazendo ligação com as duas mãos fortes que se apertaram em minha cintura.

— Você. — Eron respondeu, me virando para ele.

Não funciona assim, Ev... você não pode simplesmente começar isso e depois me dar as costas...

As ondas elétricas de calor ressoaram por meus tendões quando Eron me empurrou contra a veirada da pia, o coração pulsando em lugar próximo aos ouvidos quando uma de suas mãos deslizou por minha mandíbula, seus dedos encontrando lugar por entre os cabelos de minha nuca enquanto ele me puxava para ele de todas as formas possíveis.

E no próximo segundo, sem hesitar por nenhum momento, uma boca estava na outra, faminta, esfomeada. Sedenta.

Eu senti meu pulso, pulando contra todas as minhas veias, e agarrei sua regata com meus punhos, repuxando o tecido de uma forma desastrosa enquanto o puxava para mim, deslizando sobre ele para ter um melhor acesso á sua boca.

Eron fez um som atrás de sua garganta, e depois de um rosnado profundo que escapou de seus pulmões, as duas mãos desceram febris por meus quadris, a surpresa inundando meu cérebro quando seus dedos se prenderam em minhas coxas, puxando minhas pernas para cima e me prendendo ao redor de seu quadril. Um segundo depois, eu já estava sentada sobre o que achava ser o tampo da pia, e minha razão fugiu para algum lugar que deixou de fazer importância. Mais alguma coisa deve ter caído, por que meus ouvidos registraram o som do vidro se partindo no chão.

Mas naquele momento, não havia nada a não ser ele. Suas mãos me puxando em sua direção, e seus lábios devorando os meus como se nunca pudessem ter o suficiente. O choque que seus dedos causaram ao se encravarem na pele nua de minhas pernas, subindo por minhas costas e me puxando para ele, ao tempo em que sua boca descia por meu queixo, traçando uma trilha de fogo por meu pescoço e me obrigando a me contorcer sobre ele, arqueando minha coluna de maneira quase indecente. O tipo de beijo que resumia em partes nada graciosas nossa necessidade um do outro, fazendo com que pontadas de prazer ressoassem numa única melodia por todas as partes mais reclusas de meu peito e do resto de meu corpo. Que me fazia crer que o mundo estava vindo a baixo ou que um incêndio conflagrado nos cercava de todos os lados.

As mãos de Eron subiram por baixo de minha camiseta, e reprimi um grunhido interativo quando seus lábios voltaram aos meus, mordiscando-os como se ele estivesse me saboreando aos poucos, bebendo água depois de uma sede terrível.

Apertei minhas pernas ao seu redor, e Eron gemeu meu nome, me empurrando até que minhas costas encontrassem a porta que guardava os pratos. Uma lâmpada estourou em algum lugar, e o cheiro de queimado inundou minhas narinas, assim como o som de algo semelhante a um curto circuito invadindo o zum alucinante em meus ouvidos.

Oh, Deus... aquilo realmente estava acontecendo.

Eron afastou um pouco o rosto, e nossos olhos se puxaram na mesma direção. A ponta inferior da cortina que recobria a janela da cozinha estava chamuscada, e o cheiro persistente de tecido queimado chegava oscilante até nós.

Eron expulsou o ar dos pulmões, retirando as mãos de debaixo de minha camiseta e pousando a testa na minha. Retrai a espinha, relaxando meus membros e tentando controlar a respiração novamente. Aquilo nunca havia acontecido antes. Pelo menos... não nas duas outras vezes em que havíamos nos atacado feito dois búfalos desse jeito.

— Eu... eu não sei o que foi isso. — ele disse de repente, a voz profunda e levemente grave, rouca e inquebrável. — Oh, Deus... eu realmente preciso tirar minhas mãos de você agora se não quiser acabar incendiando a casa toda...

Arfei, golfando ar para dentro como nunca.

— Eu não sei sobre isso. Desde quando você incendeia as coisas ao seu redor dessa forma tão... inconveniente?

— Desde quando você apareceu, eu acho. Oh não, espere. Acho que foi desde quando aprendia a sentir a necessidade estranha de estar com minhas mãos em você o tempo todo. Ou quando descobri o quanto o resultado era bom...

Bem, que inferno. Eu meio que queria beijá-lo de novo.

Mas ainda assim, não pude deixar de perceber que ele queria exatamente que eu ignorasse isso. E a propósito, ele totalmente estava conseguindo.

— Eron... — eu espalmei as mãos sobre seu peito anguloso, cheio de depressões interessantes e extremamente quente, a nota de advertência colorindo meu tom ao mesmo tempo em que eu me arrependia de botar minhas mãos sobre ele. E, Santo Deus... ele realmente estava descendo as mãos pelas minhas pernas. Mordi os lábios, numa tentativa frustrada de me concentrar. Era como tentar ignorar o pavor diante de um ciclone — Não tente mudar meu foco, seu... Oh! Pela deusa...

A ponta de seu nariz estava em meu pescoço, desenhando qualquer coisa que deixou de fazer importância quando o mesmo desceu de forma provocante em direção a meu colo, quando fui puxada de todo para a ponta do móvel, de encontro ao seu quadril.

Golpe baixo.

— Eron... Pare com isso! Temos que... Ah! Conversar... — a última palavra saiu como se estivesse se diluindo dentro de um recipiente cheio de solução ácida, porque, no inferno! Sua mão estava por baixo de minha camiseta de novo, a ponta dos dedos perigosamente próximas ao fecho do sutiã nas costas.

Ele grunhiu ao alcançar a peça.

— Conversar é decididamente uma das últimas coisas que quero fazer agora.

Eu me movi, no intuito puramente inocente de me desprender dele para poder pensar com coesão.

Oh-oh.

Não foi uma boa ideia, considerando que apenas me encaixei de forma indecente a todas as partes inadequadas de seu corpo e puramente erradas nas quais se encaixar. E, oh caramba... um corpo de 1,90 completamente funcional e ativo no momento.

Eron balbuciou alguma coisa, e no próximo segundo, estávamos grudados novamente, uma língua procurando a outra num desespero súbito e indomável carregado de luxúria e irracionalidade. Seus dedos se encravando novamente em meus quadris enquanto sua boca se encaixava de forma irrepreensível na minha. Completamente injusto. Um gemido inconsciente escapou de minha garganta.

E a linda toalha em cima da mesa passou a ter todas as suas pontas chamuscadas.

Engasgada, completamente sem fôlego e sentindo o abraço da surpresa alcançando meus tendões, me desprendi dele, usando meus dois joelhos para mantê-lo afastado, os quais ele prontamente separou para tombar sobre mim, meu tronco de repente empurrando-se contra o tampo frio da pia um pouco mais a esquerda, o qual passou a ficar desagradavelmente quente.

Deti seu rosto com as mãos. Os olhos de Eron pararam em mim, completamente dourados.

— Não tente me impedir, Eve... oh, céus... realmente não tente...

— O que está havendo com você? — lutei para recuperar o fôlego.

— Fora o fato de eu estar realmente, realmente maluco para beijar você?

Ele malditamente tinha um bom ponto para desviar do assunto. Eu podia afirmar que aquilo era algo a ser discutido.

— Você sabe do que eu estou falando. A sua coisa toda do fogo.

— Eu sou um cataclista, Eve. Só para o caso de você ter se esquecido. Eu meio que domino o fogo...

— Você sempre foi um cataclista e nunca botou fogo nas coisas ao seu redor quando... nos beijamos. Pelo menos, não depois que desenvolvi uma Barreira.

Ele estava perigosamente pendido acima de mim. A pedra escura de seu colar repousada sobre a curva de meios seios. E sua atenção totalmente presa ali. Eu estava pronta a dizer algo sobre isso quando sua próxima resposta veio.

— Até esse ponto eu não conhecia a sensação de descobrir como as coisas eram por baixo de sua camiseta.

Oh, ele realmente disse isso.

Deus... se tia Peg chegasse agora e nos pegasse naquela posição comprometedora eu morreria e iria para o céu das Eve’s antes que pudesse inventar alguma desculpa convincente o suficiente sobre o fato de estar deitada sobre o tampo da pia com um cataclista em cima de mim. Não que eu pudesse não estar gostando, mas parecia haver algo ali que eu conclusivamente não estava conseguindo pegar. De verdade. E algo me dizia que isso que isso não tinha muito haver com minhas pernas enrodilhadas em sua cintura, porque os efeitos disso eram completamente opostos de ambas as partes.

Meus punhos foram atraídos para cima de minha cabeça enquanto ele os mantinha bem presos ali, empurrando seu corpo contra o meu e me impedindo de soltar a próxima resposta pronta na ponta da língua.

— Deus... — ele anuiu em um resmungo prazeroso — Eu sabia que você seria perfeita desde o momento em que a vi daquelas escadarias. Naquele momento, a única coisa que eu quis fazer foi correr atrás de você e descobrir quem era aquela garota assustada que falou a coisa mais estranha do mundo na minha mente.

Por um momento, as recordações desse dia me inundaram, junto com a curiosidade sobre o assunto.

— O que, exatamente, eu falei na sua mente aquele dia?

— “Fique o mais longe possível”... — ele sorriu, e meu peito se apertou. Eu me lembrava de ter pensado algo como aquilo.

— Espere... você não acha isso estranho? A forma como nos comunicamos mentalmente pela primeira vez apenas na primeira vez em que eu te vi? Se temos uma ligação, porque não pude falar coisas em sua mente antes? Ou você na minha?

Ele deu de ombros, e o resultado do movimento apenas o empurrou mais em direção a mim, e eu reprimi o ofego.

Ah, por todos os cataclistas da história da humanidade...

— Talvez já estivéssemos na mente um do outro... — ele desceu novamente a boca para meu pescoço, e eu realmente desejaria que ele não tivesse feito isso — Apenas não soubéssemos disso. Eu senti isso, Eve... senti que havia encontrado... alguma coisa quando vi você. Alguma coisa que eu iria querer conhecer melhor. E eu definitivamente quis você desse momento em diante.

Minhas costas se arquearam para ele enquanto sua boca brincava de despertar sensações interessantes em meu pescoço e colo, mas ainda assim, as perguntas rodopiavam feito prismas em minha mente igualmente tomada pela adrenalina.

— Por que eu ainda não lembrei de nada? —a pergunta saiu de repente, e sua boca imediatamente parou — Eu achei que quando a Esfera fosse invocada, eu fosse me lembrar daquela noite do parque, onde fui marcada e onde perdi a consciência. Eu gostaria de saber o que aconteceu ali.

Eron levantou o rosto, e seus olhos examinaram meu rosto. Ele suspirou, levantando o tronco e me puxando para cima com ele.

— Eu achei que você tivesse se lembrado.

— Bom, isso não aconteceu em nenhum momento. Me sinto mais como uma Falange agora, depois da possessão da Esfera, por mais que minha maior parte ainda esteja bloqueada, mas... ainda encontro minha mente vazia em todas as vezes em que tento me recordar daquela noite.

Ele pousou suas mãos sobre minhas pernas, pensando sobre o assunto e arqueando as sobrancelhas.

— Isso definitivamente não soa algo bom. Isso é tão ruim quanto você ainda estar vestida. Bom... talvez não tão ruim quanto isso...

Rolei os olhos, o empurrando e não conseguindo nada como resultado. Era como tentar empurrar uma parede de pedra.

— Eu estou falando sério. Sinto que enquanto não obtiver minhas lembranças novamente, sempre vou estar um passo atrás em desvantagem. Quase sinto como isso estivesse ligado em algo com a facção das Trevas.

Por um momento, a surpresa genuína inundou os olhos dourados de Eron, e ele se arqueou levemente enquanto sua mente parecia se distanciar para outro lugar, o murmúrio inconsciente escapando de seus lábios entreabertos.

— Oh... deve ser por isso que ele veio...

Meus cabelos se arrepiaram.

— Espere... o quê?

Como se tivesse voltado si, ele aprumou os ombros, desviando os olhos para algum lugar.

Eron desviando os olhos novamente. Aquilo decididamente não era bom.

— Ninguém.

— Eron! — a irritação deslizou pelas notas de seu nome. — Quem veio? Tem algo a ver com o ataque aos Portões de ontem?

Ele sugou o ar para dentro, se afastando sem nenhuma palavra.

— Eron! — eu voltei a pedir, descendo do tampo da pia e o observando firmar as mãos sobre o tampo da mesa, de costas. — Quem veio? E porque você está me escondendo isso? Me fale agora ou eu saio por essa porta agora mesmo para descobrir isso por conta própria!

Ele soltou o ar devagar, completamente irritado agora. E era assim que seu humor geralmente no início.

— Jade. Foi Jade quem atacou os Portões.

Surpresa desceu por meus ombros, o pavor colorindo cada célula enquanto o nome ecoava em minha mente. E depois disso, outro nome se sobrepondo á ele ao mesmo tempo em que minhas pernas se moviam inconscientemente em direção as portas.

— Havanna...

Mas Eron me deteu antes que eu pudesse alcança-la.

— Viu só porque eu não te contei? Por Deus, Eve! Você parece não entender como as coisas funcionam!

Eu o empurrei.

— Onde ele está? É você que não entende! Não vê que ele é a única pessoa num raio de sabe-se lá quantos quilômetros que pode saber alguma coisa sobre Havana?

— Esse é exatamente o problema. — ele devolveu no mesmo tom — Jade não veio atacar os portões na esperança de conseguir isso. Não com uma tropa ou algo parecido. Ele veio sozinho.

Por um momento, não entendi o que aquilo poderia significar.

— Não entendo o que isso tem haver com minha mãe.

— Isso não tem haver com ela, mas com você. Será que você não vê o obvio em tudo isso? Ele queria estar aqui, Eve.

Minhas pernas enfraqueceram. Jade queria estar ali. E eu não podia pensar em um bom motivo para entregar o pescoço aos inimigos sem um bom motivo.

— Ele sabia que jamais conseguiria algo sozinho, — Eron prosseguiu, a irritação ainda vertendo por suas palavras — e ainda assim ele veio, e não apresentou resistência quanto a ser preso. Não vê isso? Ele está aqui porque precisa estar aqui, e não existe uma forma de arrancar a resposta dele ou arrancar qualquer outra informação sobre sua mãe. Eu sei com o que estamos lidando, Eve. Ele é meu irmão.

Eu ainda estava digerindo as informações enquanto sentia meu coração se apertar. Por um segundo, estivesse perto de Havana, e agora, havia sido arremessada para longe de novo. As lágrimas arderem em meus olhos, mas não deixei que caíssem. Ao invés disso, passei as mãos pelo rosto, precisando desesperadamente clarear a mente.

— Preciso ser desbloqueada.

Eron me enviou um olhar entre surpreso e arrependido.

— Não quero que você tome medidas precipitadas sobre isso. E é exatamente por isso que eu não estava á favor que você soubesse sobre Jade em Miriad.

— Você não entende! — eu quase gritei — Não é sua mãe que está presa em algum lugar sombrio enlouquecendo um pouco mais a cada dia, é?

Eron não disse nada, mas sua mandíbula travada era um claro sinal de sua raiva sobre o comentário. Por um momento, não acreditei. Céus... estávamos realmente brigando sobre isso. Um longo segundo de silêncio se passou, e Eron desviou novamente os olhos, o dourado se acentuando em suas íris da mesma forma em que as palavras se acentuaram em sua boca:

— Ele quer você.

Por um momento, eu não soube como reagir. Mas no próximo, em me deixei cair sobre o balcão da pia.

— É claro que ele quer. Porque ele não iria querer uma Natural Elementar? Até onde sei, eu poderia lhe dar inúmeras vantagens sobre a facção da Luz.

— Você me entendeu. Ele não á quer desse jeito.

Dessa vez, a surpresa umedeceu meus lábios.

— Da última vez em que nos encontramos, ele meio que tentou me matar. — eu lembrei-o, para o caso dele haver se esquecido — Sabe, no mesmo dia em que você botou fogo no escritório do treinador Preston.

Eron retraiu os ombros, enfiando as mãos nos bolsos e prosseguindo no seu tom extremamente irritado.

— Parece que foi um encontro o suficientemente longo para que ele gostasse de você.

— Isso é loucura! Você não está tentando supor que poderia... cogitar a possibilidade de... ah, eu não sei... poder querê-lo também!?

Os olhos de Eron voltaram a me encontrar, e dessa vez, ele não desviou o olhar.

— Eu o quebraria em dois antes disso.

Eu arfei.

— Tudo bem... — eu cedi de repente, me desprendendo do balcão — Escute, não vou tomar nenhuma decisão precipitada, se é com isso que você está preocupado, está bem? Mas não vou dizer que não estou completamente maluca com isso tudo. Hoje. — eu decidi — Hoje, de algum jeito, preciso encontrar uma forma de começar a procurar por Havana. O Punho já foi coroado, e eu vou fazer isso sem ou com o consentimento dele. Havana e Layan vão voltar, e não importa se para isso eu preciso encontrar uma forma de ser desbloqueada.

Ainda em silêncio, Eron apenas assentiu, e depois que ele se foi, na promessa de voltar mais tarde, me vi perdida em meio à cozinha bagunçada, observando todas as coisas que eu teria que arrumar antes que tia Peg chegasse.

Eu não tinha nada de inteligente a dizer para ela sobre as cortinas, toalhas e lâmpadas queimadas, ou sobre a bonita jarra em cacos no chão. Eu só esperava que ela não desse falta daquele item decorativo, se não, as coisas ficariam meio interessantes.

Eu havia acabado de arrumar o que achava que precisava ser arrumado para que não delatassem a presença de Eron quando duas batidas soaram na porta.

Ajeitando os cabelos e passando as mãos pela camiseta amassada, me direcionei a ela, surpresa com o que encontrei sobre a varanda. Duas malas cor de rosa, e entre elas, um pato gordo e branco me encarava com ar curioso.

Franzi o cenho.

— Hãm... Herman? Que diabos você faz aqui? E com essas... malas?

Sem mais, outra figura apareceu em meu campo de visão, e juro por Deus, meu coração totalmente parou.

— Oh, obrigada por ensinar o caminho até aqui, patinho fofo!

Sentido os olhos saltarem das órbitas, senti meus braços caindo ao lado do corpo ao detectar a presença daquele ser aparentemente ressurgido das profundezas mais obscuras do inferno. Meus lábios se secaram, e toda força que me sobrou foi concentrada em fazer com que minhas pernas permanecessem firmes em baixo do corpo.

— Mas... que diabos você está fazendo aqui???

Hanna Winchester se aprumou em cima dos saltos de oncinha, botando as mãos na cintura e levantando as sobrancelhas em tom inquisitivo. Os cabelos loiros descendo lisos até a cintura e sendo jogados ao lado do rosto pelo vento.

— Como é que é, irmãzinha? Onde diabos está minha mãe, afinal de contas?

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo