Capítulo 1: Fantasmas do presente.

Eles correram por muito tempo, mas aquele cenário os seguia. Parecia que estava acontecendo por toda a cidade. Carros em chamas, corpos no chão, pessoas chorando e correndo. Uma pessoa foi mordida bem na frente deles. Eles se desviaram e continuaram correndo. Eles conseguem chegar em seu esconderijo. Eles entram e para a sorte deles o lugar está vazio, ou pelo menos parecia estar. Eles se sentam no chão da sala, com seus corações tão acelerados que era possível ouvir os batimentos mesmo não estando tão perto uns dos outros.

Eles soavam muito e não conseguiam respirar direito. Ainda podiam ouvir os gritos vindo lá de fora. Eles tentavam se acalmar, mas não conseguiam. Steve então disse:

- Droga, eu matei ele! Como é que ele estava de pé? Que droga tá acontecendo? Eu matei ele, tenho certeza disso! Eu...

- Eu também não sei – disse Adam, com um tom de voz mais calmo, mas ainda trêmulo.

- Ele são Yürei? Será que são – disse Yumi se referindo a um tipo de fantasma do folclore japonês.

Lívia não conseguiu dizer uma palavra. Ela só tinha a respiração pesada. Ela tentou se conter, mas acabou desmaiando. Ninguém acreditava no que tinha acontecido. Mortos estavam andando. Matar é o que eles mais fizeram em vida, mas agora os mortos caminhavam. Era como se tudo o que tivessem feito em vida estivesse voltando para caça-los. Depois de algumas horas, os gritos do lado de fora não podiam mais ser ouvidos. Somente gemidos constantes e som de coisas sendo arrastadas. Era como se o próprio inferno estivesse do lado de fora.

Eles ficaram escondidos ali por dias. Se alimentavam com o que tinha no esconderijo. Com o tempo, ficaram menos apavorados. Lívia era a que parecia estar mais afetada com o que aconteceu. Ela não dizia uma palavra a três dias. Yumi era quem tentava ajudá-la a se recuperar do trauma. Adam era o mais tranquilo, mas parecia preocupado o tempo todo. Steve ainda ficava longe dos outros, mas às vezes se juntava a eles, para comer ou para conversar.

Eles não faziam nada além de sobreviver ali. Não eram tão próximos emocionalmente. As conversas eram curtas, sobre como estavam se sentindo, ou sobre a vida deles e coisas que gostavam de fazer quando não estavam matando ninguém. Quem mais conversava com Steve era Adam. O homem ia até o quarto do rapaz e lhe fazia companhia por algum tempo. Uma das conversas deles foi sobre os livros de poesia de Steve:

- Então você gosta de poesia, não é? – Adam pegou um dos livros da estante e o abriu.

- Sim, me deixa relaxado. Minha mãe também gostava, peguei isso dela – diz Steve, olhando para os livros.

- Você parece perdido rapaz. Por que faz isso? Por que entrou pra essa vida de merda – pergunta Adam, com um tom de voz simpático.

- Não falo sobre isso. Valeu a preocupação, mas estou bem.

Adam então devolve o livro à estante, agradece ao rapaz pela conversa e deixa o quarto. Horas depois, ele sai do quarto e vai até a cozinha comer alguma coisa. Foi quando ele viu que só havia uma lata de presunto e mais nada. Estavam ficando sem comida. Ele avisa aos outros da situação. Eles ficam descontentes e sabem que se quisessem sobreviver, teriam que ir lá fora. O grupo decide que dois deveriam ir e dois deveriam ficar. Os dois escolhidos para ir são Steve e Yumi. Como Lívia ainda não estava recuperada, decidiram que era melhor ela ficar.

Adam faz companhia para Lívia e Steve e Yumi saem por aquela porta que permaneceu fechada por dias. Eles abrem a porta devagar e logo um ar quente entra pela porta. Do lado de fora, tudo estava acinzentado, destruído ou reduzido a pó. Eles fecham a porta e caminham pela paisagem acinzentada que cheirava a morte. Eles se perguntavam se tinha sido algo passageiro, um surto que aconteceu na cidade, ou se era algo mais sério. Steve novamente usava seu casaco preto, capuz e máscara de caveira. Ele diz para Yumi:

- Talvez você também devesse cobrir o rosto com alguma coisa. Não sabemos o que foi aquilo. E se for alguma doença? Ou acha mesmo que foi um Yürei?

- Não sei, Steve. Talvez tenha sido. Que vírus faria isso? Tinha uma pessoa mordendo e mastigando o rosto da outra – disse Yumi, observando o lugar em volta.

- Sei lá, Yumi. Tem muita coisa acontecendo nesse mundo, não é? Aquilo foi horrível, mas Yumi, por que achamos aquilo tudo horrível? Nós passamos anos matando pessoas. Eu por menos tempo do que vocês, mas ainda assim, era pra estarmos acostumados. Ficamos tão assustados quanto as vítimas que fizemos naquele dia. Não é estranho? – Ele olhou para uma loja abandonada.

- Sim, é estranho – Yumi também para em frente à loja -, mas acho que... é algo que não conseguimos controlar.

Os dois entram na loja empoeirada e totalmente revirada e procuram por algo que possa ser útil. Eles tinham que achar alimento, ou não sobreviveriam por muito mais tempo. A loja estava tão destruída que eles não sabiam que tipo de loja era. Estavam contando com a sorte. Eles se aproximam do balcão da loja e veem vidro quebrado no chão. Eles entram em uma porta que fica atrás do balcão, para ver que tipo de coisa tinha armazenada ali.

Haviam caixas de papelão empilhadas, a maioria suja por fora. Haviam peças de carne penduradas. Era um açougue. Parece que o freezer ainda estava funcionando. Eles olham para as peças de carne.

Pareciam boas. Se aproximam para dar uma olhada. Para a surpresa deles, além das carnes, eles veem um dos zumbis enfiado em um dos ganchos onde se prende as carnes. Ele estava com os olhos abertos e olhava para eles. Aqueles olhos brancos e vazios não desgrudaram dos jovens, não importa para onde tentassem se esquivar. Eles decidem sair dali e ir procurar em outro lugar.

Os dois jovens saem da loja, parte enojados com o que viram, parte decepcionados. Yumi se encosta na parede e parece tentar recuperar ar. Parecia que o que ela viu havia a afetado mais do que Steve percebeu. Ele se aproxima, põe uma das mãos no ombro dela e tenta acalmá-la:

- Eu estou aqui com você, ok? Vamos pegar algo para comer e dar o fora daqui. Bora japinha!

Ela se recompõe e volta a acompanha-lo. A quietude da cidade em si era bem amedrontadora. O cheiro os deixava enjoados. Cheiro de coisas queimadas, sangue, e talvez algo químico. Yumi então ergueu o cachecol e cobriu o rosto. Eles viram no fim da rua e logo no início da outra rua, um caminhão aberto. Parecia ter batatinha chips dentro, vários sacos. Achando que aquilo era melhor do que nada, os dois assassinos vão até o caminhão.

Eles dão uma olhada, os sacos de batatinha chips pareciam estar bons para o consumo. Eles decidem levar. Steve pega um dos sacos e dá uma batidinha na testa de Yumi brincando com ela, mas ela pareceu não gostar da brincadeira. Eles pegam alguns daqueles sacos e se põem a caminhar de volta para o esconderijo. Chegando lá, mostram o que conseguiram, mas perceberam que Adam e Lívia ficaram um tanto decepcionados ao ver os sacos de batatinha. Eles entregaram as batatinhas para Adam, depois Steve foi para seu quarto e Yumi o seguiu. Eles sentiam um tanto de vergonha em só ter conseguido trazer aquilo. Adam jogou um dos sacos para Lívia. Ela logo abriu e enfiou um punhado de batatinhas na boca. Adam também abriu um para ele e foi até o quarto de Steve, levando algumas batatinhas à boca. Ele bateu na porta do quarto e Yumi abriu. Ela parecia para baixo. Adam pediu para entrar. Eles permitiram. Ele se sentou no chão, junto dos jovens.

Eles dividiram o saco de batatinhas que ele levou. Lívia também foi ao quarto e pediu para entrar. Ela foi permitida e também sentou no chão junto a eles. O clima era um tanto melancólico. Adam então fala:

- Passamos todo esse tempo matando pessoas e agora vamos morrer de fome.

- A morte nos cerca. A morte que usamos para encurralar vítimas nos põe no lugar deles. A punição ao amor próprio distorcido – disse Steve, pensando nas poesias que lê.

Toda a pose violenta que eles tinham antes se converte em fragilidade agora. Os quatro estavam ali, em um quarto pequeno, em uma cidade devastada. Mesmo depois de tirar tantas vidas, pareciam não estar prontos para morrer. Eles de repente ouvem um som vindo da sala, como se algo tivesse derrubado a porta. Steve pega seu facão e eles vão checar o que tinha feito aquele som.

Na sala, viram a porta arrombada e 3 soldados armados vasculhando a casa. Um dos soldados os vê. Steve rapidamente esconde o facão, antes que vejam. Ele se aproxima deles e pergunta:

- Quem são vocês?

- Nós só moramos aqui – responde Adam, tentando manter a calma.

Os soldados os guiam para fora. Eles os seguem, tentando não dar muita pinta do que realmente faziam. Do lado de fora, havia um veículo blindado. No topo do veículo estava um outro soldado, mas este com um tipo de chapéu, parecido com chapéus que cowboys usam. O soldado que os levou para fora dirige a palavra ao de chapéu:

- Senhor, encontramos mais sobreviventes.

O homem faz um gesto com a mão, como se os estivesse chamando. Os outros soldados abrem a porta do veículo e pedem a eles que entrem. Eles olham um para o outro, parecendo um tanto aliviados por terem sido encontrados, mas um tanto nervosos devido ao que realmente eram. Eles entram no veículo e veem que lá haviam outras pessoas. Eles se sentam junto dos outros, mas quando os soldados estavam prestes a fechar a porta, uma voz vinda de uma daquelas pessoas diz:

- Não! Eles são assassinos. Eles mataram meus pais! - Melanie se levanta, surpreendendo os assassinos com sua presença.

Os soldados rapidamente discutem sobre algo e puxam os quatro para fora. Os soldados consideram o que a garotinha disse e o fato de terem encontrado armas no esconderijo deles e os algema. Revistam eles e tiram o facão de Steve. Steve tenta negar e dizer que as armas eram para combater os zumbis, mas um dos soldados vem relatar sobre os itens pessoais de outras pessoas que acharam dentro dos quartos. O soldado deduz que eram coisas de pessoas que eles mataram. Logo depois, joga os assassinos dentro do veículo de forma bruta. Os soldados fecham o veículo e voltam a se mover. Enquanto o veículo se move, balança e causa um certo mal-estar nos assassinos que estavam no chão. Todas as pessoas ali olham para eles com raiva e nojo. Uma mulher aparentando ter uns 30 anos de idade abraça Melanie e olha para os quatro do mesmo jeito.

Uma das pessoas cuspiu em Lívia, acertando o rosto dela. O veículo continuou a se mover por algumas horas, até que parou. As portas de trás se abriram, os soldados tiraram as pessoas de dentro uma por uma, deixando os assassinos por último. Ao sair do veículo, viram que era uma base militar. Haviam outros veículos chegando, com mais pessoas. Mais especificamente, mais dois veículos com a mesma quantidade de pessoas que havia no que estavam. Dois soldados apontam a arma para os assassinos e ordenam que vão para onde mandarem. Steve se aproxima de Lívia e fala ao ouvido dela:

- Pelo menos não nos mataram.

- Ainda não, né – responde Lívia, também sussurrando.

Um dos soldados acerta a cabeça de Steve com a coronha da arma e diz para ele continuar andando. Steve passa a mão na cabeça e vê que sangrava um pouco. Adam olha em volta e vê um dos soldados carregando uma bolsa preta grande, onde dentro estavam as armas que estavam no esconderijo deles. As pessoas foram levadas para dentro da base, até um refeitório. Eles se sentam às mesas, quase todos juntos, mas os assassinos sentam separados dos outros. Ninguém nem olhava para eles. As pessoas cochichavam umas com as outras e eles podiam ouvir palavras como ´´assassino`` e ´´mataram a família de uma garotinha``. A notícia se espalhava pela base.

Uma cozinheira entrou no refeitório, segurando uma panela. Uma outra veio com ela botando pratos nas mesas. Logo depois, a outra despejava um pouco da comida da panela nos pratos. Era um tipo de ensopado de carne. Algumas pessoas comeram rápido, enfiando tudo na boca de uma vez. Parecia que muitos deles estavam com fome a muito tempo. Quando chegaram na mesa dos assassinos, colocaram apenas um prato e pouquíssima comida, depois se viraram e voltaram para a cozinha. Os quatro olhavam para o prato e a comida parecia muito pouca para os quatro dividirem. Steve então empurrou o prato para Lívia. Yumi e Adam pareceram concordar. Lívia comeu a comida, mas se sentiu desconfortável.

Nas paredes do refeitório haviam telas penduradas, transmitindo o que parecia ser filmagem de uma câmera de segurança. Eles viram partes diferentes da cidade, com vários zumbis andando pra lá e pra cá. Aquilo realmente estava acontecendo. Eles só não entenderam porque os monitores estavam no refeitório. Talvez fosse para ser mais facilmente visto por todos. Lívia termina de comer, empurra o prato para frente e se desculpa com os outros. Eles a abraçam e dizem que não há nada para se desculpar. Eles veem o homem de chapéu entrar no refeitório. Ele vai até o meio da sala, chama a atenção de todos e diz:

- Escutem bem, ainda não podemos lhes explicar o que está acontecendo. Estamos investigando. Tudo o que sabemos é que provavelmente um tipo de vírus se espalhou e está causando caos por toda a cidade. Vamos lhes manter seguros aqui e vamos frequentemente procurar por mais sobreviventes.

Depois de dizer isso, ele também pega um prato e ensopado de carne. Ele anda até a mesa onde os assassinos estavam e se senta junto deles. Eles se surpreendem com a presença do homem. Olham para ele confusos. Enquanto ele mastiga a comida, ele fala diretamente com Adam:

- Então vocês são assassinos mesmo? Não negaram nada até agora.

- Assassinos profissionais, na verdade – respondeu Adam, coçando a barba.

- Profissionais. Vocês acham que se chamarem assim parecem menos nojentos, não é? Para os outros pode ser um refúgio, mas para vocês, ficar aqui vai ser pior do que estar lá fora! – responde o homem de chapéu, enquanto mexe a comida no prato.

Depois de dizer o que tinha que dizer, ele continuou comendo em silêncio. Eles perceberam que ele estava ali não para fazer companhia, mas só para comer na frente deles. Ele mastigava com vontade e comia lentamente. Adam sentiu um tanto de raiva do homem, ao mesmo tempo que sabia que não tinha o direito de se sentir assim. Depois que acabou de comer, ele pegou o prato, se levantou, virou-se e foi embora.

Os assassinos estavam começando a se arrepender de ter ido com os militares, mas também, como adivinhariam que Melanie estaria lá? Depois que as outras pessoas acabam de comer, os soldados guiam quase todos para quartos, menos os assassinos. Estes são levados pelo homem de chapéu até um quartinho vazio. O homem diz que é ali que eles dormiriam esta noite, os empurra para dentro, tranca a porta e vai embora.

O quartinho era muito menor do que os quartos do esconderijo antigo deles. Quase não tinha espaço para eles ali. Tinham insetos rastejando no chão e andando nas paredes. Yumi tira o casaco, o põe no chão e se deita sobre ele. Ela então diz aos outros, em voz baixa:

- Podemos escapar, não é? Acho que posso tirar essas algemas.

- Não quero ir – disse Steve, retirando o capuz.

- Como assim? Cara, qual é o problema agora? Pirou de vez? – Lívia responde e se recosta na parede ao lado de Steve.

- Pense bem, o que vamos fazer lá fora? Já morreram todos, vamos fazer o que da vida? E além do mais... Eu me decidi a tentar mudar – respondeu Steve, olhando nos olhos de Lívia.

- Mudar? Acorda cara, não tem o que mudar. Somos assassinos. Nossa alma já está suja de sangue. Acha mesmo que pode mudar? Vai sonhando – disse Lívia, irritada.

- Já estamos no inferno mesmo, não é? Talvez possamos abandonar tudo isso – Adam concorda com Steve.

Lívia se vira de costas para os outros, irritada. Yumi não disse nada, só observava os outros. Adam se encostou na outra parede e Steve deitou no chão. Os quatro caíram no sono, mesmo em um lugar tão desconfortável. Na manhã seguinte, acordaram doloridos, com partes do corpo dormentes. Adam se levanta e tenta abrir a porta, mas vê que ainda estava trancada. Ele se sentou no chão de novo. Por quanto tempo aquilo duraria?

Algumas horas se passam e eles continuam sentados ali sem fazer nada. Alguém então destranca a porta. Eles se afastam da porta, se perguntando quem devia ser. Lívia discretamente se prepara para correr, sem os outros perceberem. A porta se abre e lá estava o homem de chapéu. Ele lhes entrega uma lata de feijão e diz:

- Isto será seu café da manhã de hoje. Aproveitem!

Quando ele estava para sair da sala, Lívia corre em direção a ele e o acerta por trás. A cabeça dele sangra um pouco. Ela corre para o corredor, mas haviam 10 soldados armados lá. Ela vira para o outro lado do corredor, e haviam mais 10 soldados armados. O homem de chapéu se recupera do golpe, a segura por trás e a puxa para dentro do quartinho de novo. Ele então pega a lata de feijão de volta das mãos de Adam, sai e tranca a porta de novo. Adam e Steve olham para Lívia descontentes. Não conseguiram comer nem uma lata de feijão, sabe-se lá quando iam ter algo de novo, até por que não é comum militares deixarem nenhum item com prisioneiros, pois estes podem ser usados como arma. Yumi ainda só os observa, sem dizer nada.

Lívia vira as costas para eles, com raiva novamente, mas não parece se arrepender do que fez. Eles ficaram mais algumas horas trancados ali e seus estômagos começam a roncar. Todos pareciam meio para baixo, e não falavam muito. Steve viu que Lívia Ainda estava virada para a parede, longe de todos. Ele andou até ela e a abraçou por trás. Ele tentava acalmá-la, mas ela sacodiu o corpo, se soltando dele. Ele preferiu deixa-la sozinha e se afastou. Yumi então se levantou e disse para Steve:

- Você não entende, não é? Ninguém aqui é amigo. Trabalhávamos juntos, mas isso é tudo. Não sabemos nem a metade um sobre o outro. Desista de qualquer coisa, acabou para nós.

Steve ficou em silêncio e se afastou dos outros. Yumi estava certa. Eles só matavam juntos. Morte é tudo o que causaram. Agora estavam tendo o que mereciam e isso era tudo. Eles não eram vítimas e não havia nada comovente ou justificativo o bastante para explicar o que fizeram. Talvez não houvesse redenção mesmo.

Mais tarde, o homem com chapéu voltou ao quartinho em que estavam e lhes ofereceu a oportunidade de tomar banho. Eles aceitaram e foram levados aos banheiros, acompanhados de soldados armados. Foram de dois em dois, primeiro foram as garotas. Adam e Steve esperaram do lado de fora. Mesmo assim, Steve pode ver de relance as costas de Yumi. Ela tinha uma tatuagem de dragão nas costas. A tatuagem cobria a maior parte das costas dela. Depois que as garotas terminaram, era a vez dos homens. Lívia e Yumi saem e Adam e Steve entram. Enquanto Steve se banhava, os pensamentos sobre o que Yumi disse queimavam em sua mente. A água estava extremamente fria, mas ele não prestava a atenção nisso. Depois de terminarem o banho, os dois saem dos banheiros e os soldados os levam de volta para o quartinho deles. Eles passam dias e mais dias naquele quartinho. Alguns insetos chegam a picar eles, fazendo-os ficar com coceiras e inflamações. A mente de Steve seguia com a ideia de querer mudar. Em seus últimos dias como assassino, antes do surto, ele já pensava em mudar. Ainda assim ele ainda estava confuso, não sabia por onde começar. Ele decidiu que tinha que tomar uma iniciativa, mesmo sendo o que era. Certa manhã, o homem de chapéu foi até o quarto deles, para checar o que faziam. Steve então se vira para o homem de chapéu e pergunta:

- Tem alguma forma de eu ajudar?

- Ajudar? Você quer me ajudar? Com o que? Já está maluco só com esse tratamentozinho de luxo – disse o homem de chapéu, de forma sarcástica.

- Com qualquer coisa. – Steve responde, mas é empurrado de volta para o quartinho.

O homem olha para ele com uma expressão séria, tranca a porta e se retira. Steve se senta no chão novamente e eles passam mais uma noite ali. Na outra manhã, alguém destranca a porta logo cedo. Steve e Adam acordam. Yumi e Lívia ainda dormem. O homem de chapéu era quem tinha aberto a porta, ele olha para Steve e o pede que se levante. Steve se levanta e o homem o puxa para fora. Logo depois, ele tranca a porta de novo. O homem de chapéu finalmente se apresenta:

- Meu nome é Bernard. Sou um general. Então, você disse que quer ajudar? Quer me bajular para não receber o que merece, pivete?

- Não, senhor. Eu não tenho direito de pedir muito. Eu... estou confuso eu acho. Ainda assim, mesmo sabendo que somos assassinos, vocês nos têm mantido aqui, a salvo dos zumbis. Só quero ajudar no que eu puder – responde Steve, de cabeça baixa.

- Muito bem então, é o seguinte, você vai ser acompanhado por homens armados o tempo todo, não tente nenhuma gracinha viu? Agora vá – Ele aponta para um grupo de 5 soldados armados.

Steve se une aos soldados e eles o guiam pelo corredor. Lhe entregam um balde cheio de água e um esfregão. Eles então chegam até o banheiro e dizem para o rapaz entrar e começar a trabalhar. Ele dá uma olhada no banheiro e vê que estava bem sujo. Ele então se põe a esfregar a pia primeiro, para depois limpar o resto. Os soldados ficam na porta observando.

O rapaz até que esfregava bem. Limpou a pia e depois os vasos. Deu uma esfregada na parede e depois começou a esfregar o chão. Ele limpava bem demais, como se estivesse acostumado a fazer aquilo. Ele começou a soar por causa do esforço. Ele então tira o casaco, vai até a porta e pede para um dos soldados segurar o casaco. Os soldados olham para ele por alguns segundos com uma expressão séria, até que um deles puxa o casaco da mão dele com força. Ele então volta a esfregar. Ele esfrega até algumas gotas de suor que caem do rosto dele direto no chão. Ele enxuga o suor da testa com o braço.

Algumas horas se passam e ele termina. As costas um tanto dormentes por ficar abaixado por muito tempo, e coberto de suor. Ele sai do banheiro e um dos soldados fala para ele:

- Muito bem, terminou o primeiro!

- O que? – Steve levanta o balde e dá uma olhada no corredor.

No corredor, haviam mais dois banheiros. Steve então vai aos outros banheiros, para terminar o trabalho. Horas depois, ele termina. Já era noite e todos os outros civis na base já dormiam. Depois de terminar o trabalho, Steve foi levado até Bernard. A sala de Bernard era um tanto excêntrica em sua decoração. Havia uma cadeira na qual Bernard estava sentado, com os pés em cima de uma mesa que tinha à frente dele. Atrás dele, na parede, havia uma cabeça de cervo empalhada. Havia encostado em uma das paredes, uma cesta comprida com alguns guarda-chuvas dentro. O chão da sala era coberto por um tapete cor-de-vinho. Na outra parede haviam armas grandes.

Os soldados dizem para Bernard que o rapaz havia cumprido com as tarefas. Bernard entrega uma lata de feijão ao rapaz e ordena que os soldados o levem de volta para o quartinho. Eles fazem o que foi ordenado. Mais uma noite e ele novamente é jogado naquele quartinho, agora coberto em suor. Ele mostra a lata de feijão para os outros. Por um momento, eles ficam menos descontentes, mas então Adam pergunta:

- Legal, e como abrimos?

Steve olhou para a lata, decepcionado. Ele trabalhou o dia todo, mas não deu em muita coisa. Ele conseguiu ajudar limpando os banheiros, mas ainda não ajudou muitos os amigos. Ele pôs a lata no chão e se deitou. Eles caíram no sono e mais uma noite se passou naquele quartinho.

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