Luto e um vislumbre

Moira Resolveu dá uma volta pelo castelo, mas sabia que seu coração a fazia caminhar em direção a um único lugar. O quarto do seu pai, o rei Evan de Sarindhia.

Bateu na porta como sempre mesmo sabendo que ele não responderia, a abriu devagar e mais uma vez o quarto estava escuro, sem luz do sol a brilhar por entre as janelas que dava na lateral da sua cama. As vezes deitado ou sentando em sua poltrona ao lado da cama, era assim que ele sempre ficava, porém com os olhos pousados para um único lugar, a foto da sua rainha que repousava grande e majestoso de frente para sua face.

Andou por entre o quarto, abriu as cortinas para que a luz entrasse e  pudesse enxergá-lo melhor. Desta vez ele estava sentado. Passeou pelo quarto tocando nos livros, sentindo os vestidos dela que o pai não permitiu que levassem, vendo suas jóias sempre expostas na penteadeira e o espelho que ela deve ter arrumado seus cabelos todos os dias.

- Como ela era linda! - Pensou. E talvez esse fosse o único pensamento que sentia por ela, nada mais. Ficou a olhando naquele grande retrato e pensando como seria se ela  tivesse vivido. Teriam penteado os cabelos juntas? Ela teria  dado uma dessas joias que estavam ali,teria dito qual vestido usaria hoje? 

Moira a respeitava pelas histórias lindas que lhe contaram do quanto ela foi bondosa e amada. O quanto seu reinado foi justo e o quanto ela nunca usou seus dons somente para si e principalmente da paz que ela instaurou  após derrotar a bruxa vermelha.

Mas, como será que ela seria como mãe? Pensou Moira. Confessou para si mesma como só se permitia confessar ali, naquele quarto, mexendo nas suas coisas, olhando para o seu retrato. 

Sentou na sua cama e se perdeu nos pensamentos até que de repente ouviu sua voz. A voz do seu pai que sempre  expulsava a todos do seu quarto, inclusive ela e seu irmão.

Mas, naquele momento não. Pela primeira vez sua voz foi direcionada a Moira  e somente a Moira. Não pôde conter a surpresa  quando ele não a expulsou, mas com uma voz calma e cheia de emoção falou:

- Sua mãe te amou Moira. - Falou sem olhar para ela.

Moira se  levantou de onde estava e foi sentar ao seu lado. - Pai, fico feliz em ouvir sua voz. - Disse emocionada.

- Minha pequenina. - Foi assim que ela te chamou a primeira vez que te viu. - Disse olhando para Moira pela primeira vez. - Ela lutou até o fim por você. E agora... Olhe para você... Não é mais pequenina, é uma linda mulher. Vocês são tão parecidas. - Tocou o rosto da sua filha e as lágrimas que Moira estava segurando desde criança e ela não sabia que estavam lá começou a rolar.

- Pai eu sinto muito por ela ter morrido. Eu não queria ter causado a morte dela. - Falou apreensiva. - Sinto sua falta, nós sentimos, eu e o Henry.

- Você não causou. Sua mãe sabia que nunca viveria para ver você crescer. Ela sabia do seu sacrifício e que era preciso partir para você viver, para você reinar.

- Sacrifício, que sacrifício? - Perguntou sem entender. - Pai, minha mãe morreu porque ficou doente e fez muito esforço para me ter, só isso. E eu não vou reinar meu pai, mas sim o Henry. Seria rainha apenas por nome.

- O Henry. - Falou perdido. - Meu Henry, meu menino.  Lembro do quanto ele ficou ansioso com sua chegada. Ele sabia não sei como que seria uma menina. Uma linda bruxinha.

- Sim pai, o Henry me chama de bruxinha. - Falou rindo e enxugando as lágrimas. - Pai, a mamãe se foi, você precisa voltar a viver. Sair desse quarto, voltar a reinar, precisamos do senhor. - Fala apertando sua mão.

- Eve querida! Que saudades de você, que bom que chegou. - Disse mais uma vez perdido.

- Pai, não sou a Eve, não sou a mamãe. Sou eu, sua filha Moira. - Disse temendo perder o pai mais uma vez.

- Moira querida. - Disse o rei olhando confuso para sua filha. - Como vocês são parecidas. Sua mãe vem me visitar sempre, sabia? Conversamos o tempo todo. - Disse sorrindo. - Eu a amo tanto.

- Pai, a mamãe se foi. Eu e o Henry precisamos de você. - Disse chorando. - Escute, amanhã farei dezoito anos. Você nunca esteve em meus bailes, talvez possa ir e dançar comigo desta vez. O que me diz? - Disse esperançosa.

- Baile. Eu dançava sempre com sua mãe no baile. - Disse sonhador.

- Sim pai, agora pode dançar comigo. Seria uma honra. - Disse ansiosa.

- Dezoito anos. Eu lembro do seu nascimento sabia?

- Sim pai, você já disse. - Falou preocupada.

- Com dezoito anos eu voltarei e a encontrarei... - Disse como se estivesse sendo guiado por outra voz.

- Pai, o que você está falando? - Disse assustada não ignorando o arrepio que subiu pelas costas e o vento frio que entrou no quarto apesar do verão está no inicio.

- Guerreira em lutas, mãe de todos, rainha das bruxas... - Disse olhando para o quadro da sua mulher. 

- Pai, do que você está falando? 

- Eu te amo Moira, amo você e seu irmão. Sempre amarei. Seja forte querida, seja sempre forte.

- Pai, você está bem? - Perguntou.

- Sim meu bem, estou. Agora me abrace, me abrace muito forte, sim? Me perdoe Moira, por ter sido um pai ausente, me perdoe porque agora você terá que ser muito forte e eu não estarei presente. 

- Como assim? Do que está falando. Está me deixando preocupada, por favor pai, o que está acontecendo? - Abraçou forte seu pai.

- Guerreira em lutas, mãe de todos, rainha das bruxas... Minha pequenina, eu te amo.

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