Camila desceu do carro e, de propósito, veio até Luna com um sorriso provocador no rosto.
— Ai, desculpa, acabei parando na sua vaga. Você não vai se importar, né?
Antes que Luna pudesse responder, Vinícius se adiantou:
— Essa vaga nunca teve dono. Quem quiser parar aqui, para. E ninguém vai se atrever a reclamar.
Ao terminar, lançou um olhar de advertência na direção de Luna.
Matteo, que estava ao lado, fez coro:
— Camila, nem liga pra minha mãe. Ela só anda com aquele carro de babá. Se for pra parar aqui, até me dá vergonha.
Luna ouviu aquelas palavras e sentiu o peito apertar.
Quatro anos ela cuidando de Matteo com todo o amor do mundo, e agora ele não só defendia Camila como ainda a tratava com uma crueldade que ela jamais imaginou ouvir.
Vinícius, empolgado, puxou Camila pela mão e anunciou:
— Vem, quero te mostrar o quarto que preparei pra você. Fica bem ao lado do meu.
Matteo comemorou:
— Oba! Agora vou ter alguém pra brincar comigo! A Camila sabe fazer tudo! Bem diferente da mamãe, que é chata demais!
Vinícius lançou um rápido olhar para Luna e pareceu lembrar de algo.
— Ah. O contrato do apartamento da Camila acabou. Ela vai ficar um tempo aqui na casa.
Luna não demonstrou reação. Apenas respondeu com um simples:
— Bem.
A frieza da resposta pegou Vinícius de surpresa. Não esperava que ela aceitasse tão calada.
Camila, por outro lado, fez questão de bancar a humilde:
— Melhor deixar pra lá. Talvez seja melhor eu ficar num hotel. No fim das contas, Luna é a sua esposa, não eu. Eu sou só uma estranha aqui.
Matteo franziu a testa, incomodado:
— Estranha nada, Camila! Você conheceu o papai antes de todo mundo. Se tem alguém de fora aqui, com certeza não é você.
— Pois é. Essa casa foi comprada pensando em você. Como é que você seria uma estranha? — Completou Vinícius.
Depois disso, Vinícius e Matteo entraram na casa puxando Camila pelos braços. Antes de seguir, Vinícius ainda estendeu a chave do carro para Luna.
— Abre o porta-malas. Ajuda a Camila com as malas.
— Ela perdeu as mãos? — Retrucou Luna, seca.
Vinícius a encarou, surpreso. Nunca a tinha visto assim.
Era como se ela tivesse deixado tudo de lado — o cuidado, o esforço em agradar. Um tipo de indiferença que, sem saber por quê, o incomodou.
— Se não quiser, tudo bem. Eu peço pro caseiro...
— Deixa, me dá aqui. — Disse ela, pegando a chave.
A voz era igual à de sempre. Mas o rosto não trazia mais nada. Nenhum traço de emoção. Era como se até o que restava tivesse se apagado.
Quando voltou carregando as malas, encontrou Matteo no meio da sala, animado, mostrando o presente que preparara para Camila.
Quatro pequenas barras de ouro, de cinco gramas cada.
Ele as segurava com orgulho, como se fosse um tesouro.
Camila arregalou os olhos, surpresa. Já Luna, ficou lívida.
Os Montez nunca tiveram problema com dinheiro. Já ela, precisou economizar muito para conseguir comprar aquelas quatro barras de ouro.
Eram as mesmas que ela dava a Matteo, uma por ano, em cada aniversário.
Isso não era apenas uma garantia para o futuro de Matteo, era a forma que ela encontrara de abençoar o caminho dele.
Agora, Matteo tinha simplesmente dado tudo aquilo para Camila. Sem pensar duas vezes.
Vinícius notou que Luna empalideceu. Franziu o cenho e repreendeu o filho:
— Matteo, essas barras foram um presente da sua mãe. Como você pode pegar algo assim e entregar pra outra pessoa?
— A Camila não é “outra pessoa”! — Retrucou ele. — É a pessoa que o Matteo mais gosta. E além disso, é só ouro. A gente não precisa disso!
Vinícius parecia prestes a dizer algo, mas foi interrompido pela voz fria que veio de trás.
— Ele tem razão. É só ouro. Se ele quer dar, que dê.
Todos se viraram, surpresos. Mas Luna já estava de costas, entrando em silêncio no quarto.
Encostou a porta, recostou-se ali por um instante, e fechou os olhos com força, cansada.
Faltava pouco. Só mais sete dias.
Depois disso, estaria finalmente livre.