Ela baixou os olhos e se aproximou para arrumar a maleta médica, não esquecendo de cumprir seu dever como médica ao dar instruções:
– A ferida não pode ser molhada por enquanto, deve ser desinfetada uma vez por dia. Use roupas folgadas para evitar atrito na ferida. – Ela colocou alguns remédios na mesa. – Este é para ingestão oral, este é para uso externo.
Ramon não se virou, apenas deu um grunhido indiferente.
Daniela não falou mais nada e saiu carregando a maleta.
Ela pegou um táxi de volta ao hospital, já era quase onze horas. Ela comeu algo na lanchonete do hospital e assim que voltou para o departamento, foi chamada para o escritório do diretor.
– Sobre a questão de ir fazer estágio no Hospital Central do Segundo Distrito Militar, eu estou planejando enviar a Dra. Sandra. – O diretor disse com uma expressão séria, parecendo ter algo difícil de dizer.
Daniela ficou atônita com isso e perguntou persistentemente:
– Não era para eu ir?
– Você sabe, todos os equipamentos médicos de alta tecnologia em nosso hospital foram doados pelo Grupo Uniguete. O Sr. Ramon me instruiu a cuidar da Dra. Sandra, então não posso recusar. – Explicou o diretor.
Ao ouvir o nome Ramon, Daniela ficou um pouco nervosa. Embora ela tivesse se tornado esposa de Ramon com o reconhecimento de ambas as famílias, eles nunca se encontraram pessoalmente.
Ela só o viu em revistas de negócios e na televisão.
“Ele e a Sandra tem um caso?”
Daniela ficou um pouco perturbada, mas manteve uma expressão extremamente calma, dizendo:
– Jura?
– Sim, temos certeza sobre sua ética profissional e habilidades médicas. – Tranquilizou o diretor. Entre os jovens médicos, quem ele mais admirava era Daniela.
Daniela abaixou os olhos e disse:
– Entendi.
Ela sabia que como a esposa que foi empurrada para ele forçadamente, ela não era digna de menção, e ele não se importaria com ela.
– Tenho uma cirurgia à tarde, então vou embora. – Disse ela.
Seu coração sabia que aquilo já não poderia ser revertido.
O diretor suspirou e a deixou ir se ocupar com suas tarefas.
À tarde, após se dedicar a duas cirurgias exaustivas, ela lavou as mãos, tirou a roupa cirúrgica azul e se sentou em uma cadeira para descansar.
Nessa hora, Sandra entrou no recinto.
– Dra. Daniela. – Ela sorriu. – Vamos jantar juntas.
– Ainda tenho coisas para fazer. – Daniela recusou delicadamente.
A relação entre Daniela e Sandra não era muito próxima, eram apenas colegas de trabalho.
Ambas se formaram na mesma universidade e na mesma turma. No entanto, Sandra tinha uma personalidade dominante, gostava de se destacar e de se comparar com os outros. Daniela, por outro lado, preferia a tranquilidade e gostava de ler.
Elas não eram pessoas compatíveis e, por isso, não se tornaram amigas íntimas.
– Entendo. – Sandra pareceu um pouco desconfortável. – Na verdade, queria falar com você sobre algo.
Daniela se levantou para pendurar o jaleco, respondendo sem olhar para Sandra:
– Diga.
Por alguma razão, ao saber do envolvimento dela com Ramon, Daniela sentiu uma necessidade ainda maior de se afastar de Sandra.
– Você deve ter ouvido falar, não é? Sinto muito mesmo, eu não sabia que o diretor iria...
– Está tudo bem. – Interrompeu Daniela.
Sandra baixou os olhos e suas pupilas se moveram com um pouco de astúcia, ela disse:
– Além disso, sobre o que aconteceu ontem à noite no hospital, você pode manter em segredo por mim? Estou prestes a estagiar no Hospital Central e não quero causar mais problemas.
A desculpa parecia um pouco forçada. Daniela sabia que Sandra gostava de jogar esse tipo de jogo. Ela respondeu:
– Não vou contar.
Ajudar os colegas a assumir seus plantões temporariamente era algo comum no ambiente de trabalho.
Todos tinham momentos em que precisavam lidar com emergências.
...
Fora do hospital, o céu estava escurecendo e as luzes de rua já estavam acesas.
Um carro de luxo preto estava estacionado na entrada, com Calisto dentro. Ele se gabou um pouco, dizendo:
– A habilidade médica da minha caloura é boa, não é?
Ramon também estava sentado no carro, em uma pose relaxada. Ele se lembrou de como ela tratou de seu ferimento, com calma e eficiência, o que confirmava sua habilidade.
– Srta. Rocha. – Nilton cumprimentou no banco da frente, também avisando as pessoas dentro do carro.
Ramon abaixou o vidro do carro.
Sandra se aproximou.
Calisto a viu e levantou levemente as sobrancelhas, dizendo:
– Sandra.
– Você a conhece? – Nilton perguntou virando-se.
Calisto assentiu, explicando:
– Foi minha caloura na faculdade.
Ramon ergueu o olhar, parecendo haver um brilho em seus olhos. Ela o salvou na noite passada e hoje tratou de seu ferimento?
Ela...
Nilton também exclamou:
– O cupido finalmente acordou?
“Finalmente se lembrou de encontrar o amor para meu chefe?”
Calisto franziu a testa, perguntando:
– Do que você está falando?
Nesse momento, Sandra se aproximou e interrompeu a conversa deles:
– Presidente Mendes.