Enquanto Zeus consolava Athena, a jovem Vênus percorreu os corredores do palácio afim de buscar um novo sentido para sua vida. Ao passar rapidamente por Iolo, o soldado se assustou com o vulto da bela correndo desesperadamente e gritou para que ela parasse. Em vão. Quando ele ameaçou correr atrás dela, ouviu uma voz o chamando.
– Espere, Iolo!
– Você viu aquilo? Quem era?
– Era Vênus. E Athena deu ordens de não irmos atrás dela.
– Como assim? O que está acontecendo aqui?
– Vênus é a entidade que tem aparecido na cidade. Arantis foi designado para investigar o que estava acontecendo em nosso território. De alguma forma ela vinha fugindo sem que eu me desse conta. E agora, parece que se rebelou e os deuses não conseguem mais mantê-la aprisionada.
– E o que faremos agora?
– As ordens não mudaram. Devemos manter nossos postos e vigilância.
– Está certo. – Iolo observou o caminho pelo qual Vênus tinha escapado e retornou para sua posição.
Vênus adorava as noites de lua cheia porque todos poderiam vê-la perfeitamente sob a intensa luz do luar e ela pensava que assim sua beleza se tornaria grandiosamente inesquecível para qualquer um que a visse. Ela seguiu pelo monte, se espreitando para que não fosse capturada.
Muito ofegante, ela chegou ao cais. Sentou-se à beira do píer e observou o luar. Lindo como sempre, enfeitado por estrelas brilhantes ao seu redor. Recordou da tristeza no olhar de sua irmã ao deixá-la sair. Ficou cabisbaixa.
Foi usurpada de seus pensamentos quando ouviu gritos, não muito distante. Rapidamente se dirigiu ao som para averiguar o que estava acontecendo. Próximo ao armazém sete, observou um homem alto e forte agarrando por trás uma moça. Vênus ficou espantada, pois a garota parecia ser tão jovem quanto ela. Meio sem saber o que fazer, a deusa avistou uma garrafa no chão e a quebrou na cabeça do indivíduo que ficou louco com o golpe. Ele se virou para ver quem o acertara.
– Deixe-a em paz, seu monstro! – Vênus tremia descontroladamente.
– Sua vadia! Não sabe esperar a sua vez?
Vênus deu um passo para trás, exatamente na posição em que o reflexo da lua a iluminava com clareza. Aquele homem parou e olhou bem para a deusa.
– Ei, eu já te vi por aqui!
Vênus o observou com atenção e também se recordou. Foi o homem que ela encontrou na primeira vez que havia fugido e a tinha encantado com suas palavras tão doces.
– Ora, ora. Eu esperava ansioso para te encontrar de novo.
O homem avançou para cima de Vênus que estava muito atordoada, seu corpo não reagia. Estava em pânico.
Mas antes que ele a alcançasse, a outra garota o atacou com um pedaço de madeira. O homem caiu tonto ao chão, com mais raiva.
– Vamos fugir, anda!
A garota segurou na mão de Vênus e as duas correram. Quando já estavam bem longe do cais as duas pararam para recuperar o fôlego.
– Você foi louca de fazer aquilo com meu cliente! Mas foi bom, o cara era um estúpido.
– Seu cliente? Você é uma...
– E você também, não é? Para ter um vestido desse, deve ser das boas!
Vênus ficou sem graça com o comentário. E a garota continuou falando:
– Mas você precisa aprender a se defender. Não pode deixar que esses caras te maltratem, ok? Bom, a gente precisa se separar para não chamar atenção e sumir dessa área por uns tempos senão, aquele cara mata nós duas.
Vênus ainda estava assustada. Uma situação dessas nunca tinha acontecido com ela. Observou a garota sumir nas sombras dos edifícios. Depois de um tempo, ouviu risos vindo da rua e se alarmou novamente. A jovem deusa, enfim, muito amedrontada, decidiu retornar ao Monte Olimpo.
Já prestes a amanhecer, ela chegou aos seus aposentos e logo tirou aquele lindo vestido que estava impregnado com o cheiro daquele homem asqueroso. Em seu banho, ela pensou nos perigos que corria ao andar pela noite, na fúria estampada no olhar daquele homem e nas coisas as quais garotas tão jovens quanto ela se submetiam. E ainda se lembrou das palavras daquela estranha: “Mas você precisa aprender a se defender”. Essas palavras não saiam de sua mente.
Após se acalmar, Vênus saiu à porta de seus aposentos e percebeu que Amú não estava em seu posto. Foi, então, procurar Athena. Ao se aproximar do grande salão, a ouviu falando com seus cinco soldados e Arantis que estavam de pé diante dela. Vênus ficou escondida observando a irmã comandar. Os soldados ouviram e consentiram com todas as ordens, sem questionamentos. Vênus sentiu-se tão triste que foi ver seu pai.
Zeus, que já sabia dos acontecimentos ocorridos na madrugada, a esperava. Vênus correu para seus braços.
– Papai, eu estou tão triste, parece que nada faz sentido. Quando eu saí, fui para o cais e lá ...
– Eu sei o que aconteceu com você, mas eu não podia interferir em suas escolhas. Felizmente tudo saiu bem. Vai passar... levante a cabeça e busque algo maior do que as coisas que você anda fazendo, espero que tenha aprendido a lição.
Vênus olhou para o seu pai. Ele estava furioso, mas mesmo assim estava sendo gentil.
– Me perdoe, pai! Eu queria tanto sair daqui que não avaliei o que poderia encontrar lá fora. E com tudo que passei, andei pensando muito essa manhã. Se o senhor me permitir, tenho um desejo a lhe fazer.
– Me diga, o que é? – Zeus acariciava os cabelos de sua preciosa filha, atento a tudo que ela dizia.
Vênus contou ao seu pai o que estava passando em sua mente. Zeus ouviu tudo atenciosamente e aceitou o pedido de sua filha. O deus do trovão pediu que Vênus solicitasse a ajuda de Athena. Ela se animou mais e correu de encontro a sua irmã.
– Athena, Athena! Preciso muito de sua ajuda.
Athena ficou muito feliz por sua irmã ter retornado e principalmente por ela estar a procurando.
– O que posso fazer por você, minha irmã?
– Primeiro, eu quero que me perdoe por tê-la afrontado essa noite. Segundo, preciso de seu apoio. Eu quero aprender a lutar!