6

POV de Mathilda

Ficar presa no carro com o olhar cínico de Fredric cravado em mim tornava difícil respirar. Sem falar que minha mente ainda estava cheia da imagem do meu pai doente. Por que meus vinte anos tinham que ser tão patéticos assim?

— Você está bem, Mathilda?

A única coisa que conseguia me acalmar era a atitude gentil e o sorriso caloroso da senhora Rosa.

— Eu não sei, senhora Rosa... ainda estou pensando no meu pai...

— Chorona.

Eu adoraria dar um tapa na cabeça de Fredric; sério, ele só me fazia sentir pior. Será que ele não podia mostrar um pingo de empatia, nem por um instante?

— Fredric, cuide dos seus modos — disse a senhora Rosa, olhando pra mim de novo. — É melhor você dormir primeiro na casa principal. Deixe seu pai com as enfermeiras de plantão. Vamos permitir que ele se recupere completamente.

Não consegui conter as lágrimas; senti-as escorrendo pelas minhas bochechas. Só tinham se passado dois meses desde a morte da minha mãe até o agravamento da saúde do meu pai. Quero dizer... por que tudo teve que acontecer tão rápido?

— Calma, Mathilda, tudo vai ficar bem. Eu vou cuidar pra que seu pai se recupere bem. O tratamento que está sendo feito agora é do nosso médico da família. Seja forte.

A senhora Rosa segurou minha mão; o toque dela me fez sentir ainda mais falta da mamãe. Se ao menos ela estivesse aqui... as coisas não seriam tão difíceis. Ou talvez nada disso tivesse acontecido.

— É melhor parar de chorar; logo estaremos lá. E tente se recompor, seu rosto tá uma bagunça, cheio de lágrimas e com o nariz vermelho. Ai!

A senhora Rosa deu um tapa na boca de Fredric. Eu nem sabia se ria ou não, mas pelo menos isso já bastava pra me representar — eu vinha querendo bater nele fazia tempo.

**

Nossa mesa estava coberta de vários tipos de comidas e bebidas, todas muito caras. Infelizmente, meu apetite não tinha voltado nem um pouco. Eu só queria voltar pra casa logo e ver meu pai.

— Mathilda, coma, querida. Não deixe que duas pessoas fiquem doentes. Acredite em mim, seu pai vai se recuperar logo — disse a senhora Rosa.

Eu não suportava ver tanta gentileza e o olhar cheio de afeto dela pra mim. Engoli o orgulho e puxei o prato de massa pra mais perto.

— Vovó, o que a senhora quer dizer com isso? — ele perguntou.

Sim, eu também me perguntava por que a senhora Rosa se deu ao trabalho de nos convidar pra jantar, nós três.

— Acho que devemos falar sobre isso depois do jantar. Apenas aproveitem a refeição primeiro.

— Por quê? Não somos uma família acostumada a comer em silêncio, certo? A sua família é assim, Mathilda? — Fredric me olhou com sarcasmo.

Engoli seco. O rosto de Fredric parecia realmente o de alguém incapaz de qualquer gentileza. Pra minha surpresa, a pessoa que eu admirava não passava de um demônio.

— Acho que o senhor Fredric tem razão, senhora Rosa. Pode dizer agora.

A senhora Rosa sorriu amplamente; pela expressão dela, parecia que tinha boas notícias pra dar. Limpou a boca com o guardanapo, tomou um gole de vinho e olhou pra mim e pra Fredric alternadamente.

Eu não fazia ideia do que sairia da boca dela; minha intuição dizia que era algo sobre a empresa.

— Vamos, vovó, não me deixe curioso com esse sorriso.

— Quero que vocês dois se casem.

Meu coração pareceu parar. A frase dita pela senhora Rosa foi, sem dúvida, a coisa mais horrível que já ouvi.

Fredric e eu gritamos ao mesmo tempo:

— O QUÊ?!

— Baixem o tom de voz! Foi por isso que eu queria falar sobre isso depois que terminassem de comer. Não me envergonhem; algumas pessoas já estão nos olhando.

Fredric se levantou e balançou a cabeça.

— Não sei o que a senhora quer dizer, vovó. Mas eu não gosto desse tipo de piada. Vou te esperar no carro.

A senhora Rosa sorriu pra mim; parecia completamente tranquila diante da irritação evidente de Fredric. Eu fiquei sem palavras. O que eu deveria dizer depois de uma coisa dessas? Tenho certeza de que ela não estava brincando.

— Mathilda... venha aqui.

A senhora Rosa me pediu pra puxar a cadeira mais perto dela. Meu corpo parecia travado, mas eu também precisava de uma explicação sobre esse casamento absurdo.

— Primeiro, me desculpe pela atitude do Fredric, que às vezes é muito grosseiro e cínico. Vou conversar com ele depois. Então, como você ouviu, quero que se case com Fredric.

Eu não me movi; apenas olhei pra senhora Rosa, que parecia brilhar de satisfação. Embora Fredric não fosse frio comigo, eu ainda não queria me casar com ele. Não quero estar em um relacionamento sem amor. Mas... como negar? A senhora Rosa ajudou tanto nossa família.

— Enquanto você estava trabalhando, eu conversei sobre minha ideia com seu pai. Mas espero que não pense que eu me aproveitei do estado frágil dele — não é isso. É só que estou ficando velha, e quero ver o Fredric casado com uma mulher que eu admiro. E você é perfeita pra estar ao lado dele.

Fredric é desse jeito arrogante porque o pai dele é difícil de lidar; só quer brincar com garotas jovens. Eu temo ter que me opor se ele quiser se casar com a atual namorada, porque dá pra ver que aquela mulher só quer o dinheiro dele. Você é uma moça sincera e boa; a relação entre nossas famílias existe há décadas.

Pra ser sincera, seu pai concorda comigo. Ele também está confuso com a própria condição, tão fraco e doente de repente; sente falta da sua mãe e está preocupado com o seu futuro. Então... espero que entenda, Mathilda.

A senhora Rosa apertou minha mão ainda mais forte. O que eu devia fazer? Essa ideia maluca é absurda — eu não podia aceitá-la. Não consigo imaginar como seria estar casada com Fredric. Quero dizer, talvez eu o tenha admirado no começo... mas casar com ele? Quem sabe.

— Não existe amor entre nós, senhora Rosa... O senhor Fredric ama a namorada dele.

Sim, eu ousei responder. Era o mínimo que eu podia fazer pra tentar fazê-la entender.

— O amor pode nascer com o tempo. Fredric vai acabar se derretendo por você; ele só ficou um pouco surpreso ao ouvir meu pedido. Mas não se preocupe, eu vou conversar com ele quando chegarmos em casa.

Em vão. A senhora Rosa não se importava nem um pouco com o que eu dizia. O amor nunca vai nascer em Fredric; eu sou apenas uma mulher feia, inadequada pra ele.

— Bem, acho melhor continuarmos nosso jantar inacabado. Vamos falar sobre isso depois. Espero que você aceite o Fredric como seu marido, Mathilda. Mesmo que não queira agora, vou esperar até que esteja pronta. Tenho certeza de que você é a única capaz de mudar o jeito de Fredric — fazê-lo deixar de ser obcecado por mulheres e amadurecer.

A senhora Rosa voltou a comer calmamente, enquanto eu só conseguia pensar, olhando pra ela com o coração disparado.

Deus... mamãe... o que eu devo fazer agora?

 

 

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