Axel
Eu não gostava da ideia que meu avô tinha proposto. Fingir um relacionamento com Kimberly para conter o caos que a notícia da gravidez causou parecia um teatro absurdo. Mas, por mais que eu odiasse admitir, aquilo fazia sentido. E Kimberly já havia concordado.
Sob a pressão do olhar inquisidor de Leonel Baumann, poucas pessoas ousavam se opor às suas vontades. Eu me perguntei se ela realmente estava disposta a seguir com aquilo ou se apenas cedeu ao peso da situação. Essa dúvida martelou minha mente por horas enquanto eu me revirava na cama, incapaz de dormir.
Foi então que tomei uma decisão. Eu precisava falar com Kimberly, sozinho. Saber o que ela realmente pensava sobre tudo isso. Se ela estava fazendo aquilo porque queria ou porque achava q
PietraEu deveria ter recusado. Na verdade, eu quase recusei. Mas a insistência de Mirella era uma força da natureza difícil de enfrentar. Ela apareceu na minha casa animada, segurando um convite reluzente em mãos e anunciando que havia ganhado um jantar luxuoso de um cliente muito rico. Segundo ela, seria um desperdício não aproveitar.— Pietra, pelo amor de Deus, quando foi a última vez que você saiu para se divertir? — ela insistiu, cruzando os braços e me encarando com aquele olhar de quem não aceitaria um "não" como resposta. — Você está precisando espairecer.— Não sei, Mirella... — murmurei, hesitante. — Não estou exatamente no clima.&
AntonCheguei ao restaurante com a cabeça pesada. Não era meu lugar preferido, mas precisava comer algo decente e esfriar os pensamentos, algo que não consegui nem mesmo após uma tarde jogando tênis no clube. Ir para casa estava fora de cogitação. Não queria conversar com ninguém naquele momento.Quando estacionei, vi a cena que fez meu sangue ferver instantaneamente: Pietra e Mirella do lado de fora, e Tony no meio delas, com aquele sorriso bêbado que eu conhecia tão bem. — O que está acontecendo aqui? — perguntei, parando ao lado delas, com o cenho franzido.Mirella virou-se para mim de imediato, os olhos faiscando. — Você quer saber o que está acontecendo, Anton? Seu amigo aqui... esse idiota... acabou de ofender a Pietra de um jeito que nem você teria sangue frio pra ignorar.Meu estômago se revirou. Eu olhei de Pietra para Tony e de volta para Mirella.— O que ele disse? — perguntei, minha voz mais baixa, mas firme. Algo dentro de mim já sabia que não ia gostar da resposta.M
KimberlyEu nunca tinha sentido tantos olhos em cima de mim como naquela noite. Seguindo as orientações de Leonel, estávamos todos lá, em uma área VIP do estádio, cercados por seguranças e com os jornalistas tentando furiosamente chegar até nós. Em nossa chegada ao estádio, fomos conduzidos para essa área exclusiva. Seguranças cercaram nossa chegada e impediram qualquer abordagem direta dos jornalistas, mas a presença dos flashes e os gritos que escapavam de algumas brechas deixaram claro que eu era o centro das atenções. Uma mulher grávida, ao lado da família Baumann, prestes a ser oficialmente apresentada como parte dessa linhagem poderosa. Um espetáculo cuidadosamente arquitetado.Eu me mantive firme, mesmo com o coração aos pulos. Sabia o que estava prestes a acontecer — ou pelo menos, o que estava combinado. Axel faria uma declaração pública. Diante do estádio lotado, ele anunciaria que estávamos juntos, que a gravidez era algo a ser comemorado, não um escândalo a ser escondido.
AxelQuando a bola balançou a rede pela primeira vez, senti o peso de uma semana inteira se dissolver nos gritos da torcida. Mas não era apenas o gol. Era o momento. O gesto que fiz logo em seguida — apontar para ela, para o nosso filho — foi automático. Meus pés correram, meu corpo reagiu, mas minha cabeça estava em outro lugar.Kimberly.A verdade é que o plano de Leonel fazia sentido. Fingir um relacionamento. Acalmar a mídia. Proteger o bebê. Era lógico, prático... e extremamente desconfortável. Eu não queria ter que me esconder atrás de um teatro. Mas ao mesmo tempo, cada vez que olhava na direção
AxelAcordei sobressaltado com a vibração incessante do celular na mesa de cabeceira. Meus olhos ardiam, e por um instante, pensei em ignorar. Mas o zumbido persistente não me dava escolha. Alcancei o aparelho com um suspiro irritado, ainda grogue da noite anterior.Mensagens, notificações, chamadas perdidas. A imprensa havia explodido."Axel Baumann confirma romance com inglesa e dedica gol ao futuro herdeiro!""Casal do momento: jogador e empresária grávida roubam a cena no estádio!""Declaração apaixonada? Veja o momento em que Axel aponta para Kimberly após gol decisivo!"Li os títulos com o estômago revirando.
KimberlyO aroma do café fresco enchia a cozinha, mas o gosto amargo na minha boca não tinha nada a ver com a bebida. Meus dedos tremiam levemente ao rolar as manchetes no celular – fotos minhas, de Axel, do momento ridículo em que ele apontou para mim no estádio como se fôssemos o grande amor do século.— "O casal mais quente do momento!" — Kathleen leu em voz alta, girando o celular na minha direção com um sorriso maroto. — Olha só, até hashtag já criaram. #Kixel. Que horror criativo, mas você virou celebridade, irmã!O estômago se revirou, e empurrei a xícara com tanta força que o café quase transbordou.
AxelO carro deslizou pelas ruas de Londres sob uma fina garoa que parecia acompanhar meu humor. O vidro embaçado impedia que eu enxergasse muito além, e isso refletia bem a sensação dentro de mim. Um emaranhado de dúvidas e sentimentos que eu tentava organizar.O motorista conduzia com a discrição de quem estava acostumado a transportar segredos, enquanto Ettore, sentado ao lado dele, mantinha os olhos fixos na estrada, seu perfil impassível como uma máscara de pedra.Kimberly estava ao meu lado no banco traseiro, mas poderia muito bem estar do outro lado do mundo. Envolta em um sobretudo preto que engolia sua figura delicada e óculos escuros grandes demais para seu rosto, ela parecia ter construído uma muralha in
AxelQuando voltamos do exame de paternidade, encontrei meus avós prontos para voltar ao Brasil. Segundo Leonel, Anton e Aaron precisavam mais do seu pulso firme do que eu naquele momento. Foi o que ele disse ou, ao menos, o que deixou subentendido.Com sua partida, o ar da mansão pareceu mudar. Ficou mais leve, mais silencioso. Como se todos, inclusive eu, finalmente pudessem respirar. Leonel tinha esse efeito: era uma presença magnética, admirável, mas sempre exigente. Nos fazia andar na linha, mesmo quando não dizia uma palavra. E, no caso de Kimberly, parecia tê-la empurrado para o quarto e uma porta trancada.Ela não saiu do quarto desde que chegamos da clínica na tarde anterior. Eu me peguei algumas vezes parado diante da p