Sarah olhou em seu relógio de pulso e viu que passava das nove, estava aflita desejando que aquele ensaio infernal de casamento terminasse logo. Havia trabalhado a madrugada inteira no bufê da senhorita Rose Marrie em pé servindo mesas. Por isso, estava tão exausta.
Aquele era o ensaio de casamento de sua melhor amiga, Maryene, e Sarah era uma das madrinhas. Havia aceitado apenas pelo fato de serem muito unidas, quase irmãs, mas sempre soube que sua amiga não pouparia requinte e luxo, e para isso ela havia contratado como cerimonialista, Eva Beneth, a mais requisitada pela alta sociedade.Desde o início, Sarah não conseguia se sair nada bem com a senhora Beneth. Ela até se esforçava para fazer tudo certinho, mas tinha dificuldades, pois delicadeza, não era muito o seu forte, além de não estar acostumada com todas aquelas regras de etiqueta, o que despertava uma certa implicância da parte de Eva, que nunca estava satisfeita com o seu desempenho e não poupava esforços para demonstrar sua antipatia, como neste exato momento:— Postura Sarah! Postura! — falou com seu tom de voz autoritário que sempre usava.Sarah relatava sobre as provocações de Eva, entretanto, Mary acreditava que fosse a imaginação de sua amiga.Sarah respirou fundo a fim de aliviar a tensão que lhe consumia, abaixou a cabeça e bufou enquanto reclamava baixinho para que a senhora Eva não lhe ouvisse ou diria que reclamar também não era nada delicado.Então, ajeitou sua postura ao lado de Charles, o avô de Mary, apesar de ser um senhor idoso, bastante forte para sua idade e simpático.— Casamentos são bem cansativos — reclamou Charles soltando o ar.— Eu só queria tomar um bom banho e descansar.— Falta pouco, espero, pois minha artrose não vai suportar ficar tanto tempo em pé.Ela o olhou preocupada.— Você está se sentindo bem?Ele levou a mão à região lombar.— Estou bem. Só preciso que isso acabe logo!Então Sarah bufou concordando. Ela amava sua amiga, mas desejava mais do que tudo não ser madrinha naquele casamento. Seu orçamento estava apertado, e encomendar um vestido importado como todas as outras madrinhas também não cabia em suas finanças.A pior parte de tudo isso, era ter que aceitar ficar no altar ao lado de Antony Sillve, o padrinho escolhido por Breno. O conhecia dos tempos do colégio, haviam cursado o ensino médio juntos, foram tempos terríveis dos quais Sarah não gostava de se recordar."Flashback"Dez anos atrás…Antony Sillve, o garoto mais popular da escola, sempre rodeado pelas garotas mais lindas e os rapazes do time de futebol, como agora. A jovem loira de olhos verdes e de uniforme dobrado na altura do estômago mostrando seu piercing de brilhante se colocou ao seu lado.— Oi Antony… parabéns pelo jogo…O rapaz parou sorridente e deixou uma piscadela para a jovem que abriu um largo sorriso. Rapidamente outras duas moças tão antipáticas quanto a primeira se uniram a ele para enaltecê-lo, logo mais três rapazes tão populares quanto, aparecem deixando alguns comentários sobre o jogo.Sarah estava no canto encostada na parede, naquele tempo ainda usava seus aparelhos e óculos, vaidade não era seu forte.Ela observou a cena se sentindo irritada, odiava pessoas como eles, cheios de si, que se achavam os melhores em tudo e esfregavam na cara dos outros o quanto zero esquerda eram.Mary e Breno surgiram vindo do pátio principal da escola, eles que já se paqueravam, chegaram próximo do grupinho popular e Breno ainda cumprimentou o craque do time, seu primo, num toque de antebraços e cotovelos parabenizando Antony.Sarah ainda revirou os olhos se virando de costas, logo ouviu Mary a chamar pelo nome."Não podia negar que Antony sempre jogou muito bem, ele até foi descoberto por um "olheiro", desses que procuram prodígios para investir em suas carreiras. Por isso ele se mudou com a família para o Sul, pois havia sido contratado para jogar em um time júnior profissional.Assim, nunca mais o viu. Mas seus amigos sempre traziam notícias, e toda a cidade enaltecida o jogador que estava fazendo carreira pelo país à fora. Agora ele jogava para um time profissional, às vezes Sarah via alguma notícia sobre ele nas redes sociais, a mais recente delas, era que ele e Lara Bitencourt eram affer, mas Breno negava. Aliás se Sarah fizesse algum comentário negativo, seus amigos saiam logo em defesa do jogador, até chegavam a dizer que Sarah tinha mesmo era ciúmes, e isso a deixava mais irritada.Semanas atrás…— O Jogador Antony Sillve foi visto em uma festa particular no iate de Daniel Martins, convidados como a atriz Camila Ferreira e a modelo Lara Bitencourt também foram vistos…— Sarah leu a notícia postada por um perfil especializado em fofocas.Ela estava em um almoço com Breno e Mary para decidirem o cardápio do casamento.— E o que tem de mal nisso, ele só estava se divertindo — Breno se apressou em defender o primo.Sarah revirou os olhos.— Nada, eu não esperava menos do espetacular jogador, afinal caras como ele, levam suas vidas de forma promíscuas e devassa.— Sarah, não seja injusta. O coitado leva a vida se dedicando ao trabalho, merece alguns minutos de diversão… e aí não diz nada sobre orgia se é isso que você está pensando.— Coitadinho…— Sarah soltou irônica.AtualmenteAs outras madrinhas eram todas finas e elegantes. A família de Mary pertencia à elite social da cidade. Sarah era a mais simples de todas naquele momento. Não havia conseguido passar em casa para se trocar. Por isso, se destacava com sua calça jeans, que lhe atrapalhava bastante nos movimentos, e seu AllStar predileto preto. As outras, usavam roupas caras e provavelmente haviam passado horas no salão de beleza.Após o ensaio de treino da entrada dos padrinhos, todos partiram para segunda etapa. A senhora Eva Beneth deu as instruções para que cada um se posicionasse em seu devido lugar no altar.Mais uma vez destacou sobre as posições dos padrinhos num tom insistente:— O lado direito pertence ao padrinho, e o esquerdo reservado a madrinha! Por favor não confundam isso! — disse, dando uma olhada nada discreta para Sarah, deixando claro que o recado era para ela.Sara percebeu que estava do lado errado e foi inevitável não sentir vergonha, já que era o centro das atenções, pôde ouvir alguns cochichos sob os olhares esnobes das amigas de Mary. Então respirou fundo, não se sentia confortável com todas aquelas regras inúteis. Mas também que diferença faria estar à direita ou à esquerda?Pensou baixinho, completamente enfadonha de tudo aquilo.Mas o fato era que sempre se atrapalhava sendo alvo daqueles olhares. Sua maior vontade naquele momento era o de sair correndo daquele lugar, se afastar daquelas pessoas. Mas ficaria por sua amiga.Enfim, a senhora Eva anunciou o término do ensaio. Ela dispensou a todos agradecendo pela dedicação, afinal, este era o último encontro de preparação, pois o casamento seria no próximo sábado:— Pessoal, sábado será o grande dia em que nossos queridos Breno e Maryene enfim subirão ao altar. Então não se esqueçam do que viram durante os ensaios.Eva Beneth era aplaudida e ovacionada por todos. Afinal, diziam que era a melhor cerimonialista.Quando os aplausos cessaram Eva continuou:— Muito obrigada a todos pela dedicação, alguns muito e outros pouco é claro! — ela disse olhando Sarah por cima dos ombros.Em resposta revirou os olhos mais uma vez, já estava cansada daquilo tudo.— O que essa mulher tem contra mim? — Sarah perguntou baixinho para Mary.Sua amiga esboçou um leve sorriso em resposta,pois acreditava que fosse um exagero.Sarah sempre ajudava Mary com os preparativos do casamento depois dos ensaios. Enquanto terminavam de escolher os arranjos de mesa, a amiga percebeu que Sarah não estava nada bem. Ela parecia triste e distante. Mary sabia que ela passava por uma crise financeira muito grande, possuía dívidas com a faculdade de fisioterapia a qual era sua paixão. Faltava pouco para se formar, mas nos últimos meses havia se descontrolado financeiramente.Sarah sempre foi uma mulher independente, morava sozinha, pagava a própria faculdade, trabalhava em uma famosa clínica da cidade como estagiária. Mas todos sabiam que estavam demitindo vários funcionários por causa do momento econômico que o país estava enfrentando. Havia rumores de que o nome de Sarah estava na lista dos próximos a serem dispensados.— O que está acontecendo? Você parece muito preocupada — Mary perguntou enquanto organizavam algumas flores.Sarah ainda demorou um instante para responder:— Acho que vou precisar voltar a morar com meus
As ruas ao redor da igreja matriz estavam cobertas de carros. Afinal estava se casando a única filha de um dos maiores empresários da cidade.Sarah havia pedido um carro pelo aplicativo de celular.Quando o carro estacionou ela ainda estava se sentindo insegura, talvez tivessem exagerado em sua maquiagem ou seu vestido fosse extremamente sensual, havia escolhido um Fraga azul turquesa longo e possuía um generoso rachado até o joelho esquerdo que revelava suas sandálias de saltos exageradamente altos que haviam sido escolhas de Mary.Antes de descer do veículo percebeu que o motorista lhe observava com um sorriso malicioso no rosto, e lá já havia notado que ao longo da viagem ele não parava de lhe olhar pelo retrovisor do meio do carro, e nem ao menos se esforçava para disfarçar. O que estava a deixando bastante desconfortável, pois não estava acostumada com tal admiração masculina. Quando desceu do carro não foi diferente, os olhos do motorista ainda estavam sobre ela, então respirou
As mãos dele ainda continuavam alí, tocando sua cintura e roçando levemente suas costas, e Sarah não conseguia entender como um toque tão simples era capaz de deixá-la tão atordoada. Que Antony era bonito, não podia negar, sempre foi. Mas naquele tempo da escola, ele ainda não tinha um corpo tão atlético cheio de músculos, ela também sabia que a voz dele não era tão grave e máscula como agora, talvez estivesse apenas impressionada. Então respirou fundo e tentou sorrir quando o jornalista pediu mais uma fotografia.— Antony, você poderia puxá-la um pouco mais?Ambos se entreolharam, Antony parecia confortável com a situação, e também era nítido que ele percebeu o quanto ela estava tensa. Sarah acenou com um gesto de cabeça, não tinha como negar, seria muito indelicado, e já que haviam chegado até ali, precisava se esforçar, assim logo tudo acabaria.Então ele a puxou de leve, seus corpos se uniram, ela pode sentir o cheiro que ele exalava, era algo semelhante ao conforto do couro, amad
— Alguém precisando de uma carona?— ele falou sorrindo.Ela ficou mais irritada por ele ficar lindo sorrindo. No entanto, fingiu de desentendida.— Entre no carro, por favor — Antony pediu.E mesmo usando um tom de voz gentil, Sarah não estava disposta a entrar naquele carro de forma alguma. Então ela simplesmente ignorou e deu alguns passos à frente caminhando devagar, enquanto tornava a teclar no seu telefone. Precisava mandar uma mensagem e pedir um Uber.Ele viu que ela o ignorava então a seguiu com o carro lentamente.— Prometi a Mary que a levaria.Sarah nem olhou para trás e disse:— Tudo bem se eu não for, afinal você é ótimo com mentiras.Antony sabia que tinha vacilado contando aquela mentira, mas tinha um bom motivo e precisava dizer isso a ela.— Sarah! — a chamou novamente.— Por favor— repetiu.Sarah não se conteve, parou onde estava e riu. — Então quer dizer que somos quase irmãos?— falou com tom de voz irônico.Ele também parou o carro bem ao seu lado.Antony olhou ti
A festa parecia bastante animada.Aquele era um espaço ao ar livre e rodeado de árvores. Logo na entrada havia uma fonte de água com uma maravilhosa cascata. Se tratava de um ambiente semelhante aos belos jardins típicos dos castelos europeus. No centro do gramado, uma banda cantava ao vivo muitas músicas animadas e vários casais se esbaldaram na pista de dança se divertindo.Os noivos faziam o cumprimento de mesa em mesa e estavam radiantes com a felicidade estampada em seus rostos. Mary havia retirado o véu e caminhava segurando a barra do vestido longo por onde passava, sempre atenciosa com seus convidados.Antony conduzia Sarah de braços dados acreditando ter finalmente conseguido uma trégua. Quando na verdade ela pensava em se livrar dele o mais breve possível.Antony lhe apresentou a todos os seus amigos e familiares. Caminharam até uma das mesas, onde os pais dos noivos estavam acomodados. Clara, a mãe de Mary, era uma mulher muito fina e elegante, sempre tratava Sarah como se
A dança terminou e todos os convidados aplaudiram e assobiaram empolgados com o belo espetáculo assistido.Naquele instante a orquestra se despediu se afastando do palco, sob os aplausos de todos e uma enorme cortina de fumaça preencheu o ambiente. A voz de um dos mais famosos DJ da cidade invadiu o palco levando os convidados ao delírio, com seu som eletrônico dançante. Já era noite, e várias luzes coloridas enfeitavam a pista de dança quando todos começaram a pular se divertindo com o show. Após dançarem algumas músicas, Sarah se sentiu exausta, havia ultrapassado toda a sua cota daquela noite, precisava se sentar, pois os seus pés estavam doendo.Gentilmente se despediu percebendo a decepção no semblante de Antony que provavelmente não havia desistido da conquista.Mary abandonou o marido e acompanhou sua amiga.— Vou com você, Sarah. Acho que preciso de uma bebida.— Eu também estou com muita sede — disse apoiando em seus ombros — Meus pés estão me matando.As duas conversavam enq
Quando finalmente Antony largou Sarah, ela precisou de alguns minutos para se recompor, há muito tempo não era beijada assim, há muito tempo mesmo! Se recuperar estava sendo difícil, seu corpo simplesmente não lhe obedecia, sentia o sangue pulsar em cada parte de suas veias, era como se estivesse completamente embriagada, seu cérebro não associava nada naquele momento que não fosse a decepção por ter a boca quente e úmida dele abandonando a sua.Ainda estavam próximos, as mãos dele permaneciam em sua cintura lhe segurando firme e os belos olhos verdes lhe observavam de forma intensa sem desviar o foco nem sequer por um instante. Quando Antony sorriu revelou seus dentes perfeitos, ela pôde sentir um alívio por ele manifestar alguma reação que quebrasse aquele momento tortuoso que se instaurou. Só então perceberam que estavam sozinhos ali naquele momento. Seus amigos e a inconveniente Keytte haviam desaparecido. Por isso Antony parecia tão satisfeito, enfim conseguiram se livrar daquela
Antony estacionou bem próximo da praia do Aurora, que apesar de estar vazia naquela noite, se tratava de um dos mais belos pontos turísticos da cidade. Segurando sua mão, ele a conduziu até a areia, enquanto carregava uma garrafa com uma das mãos e duas taças entre os dedos, com a outra. O clima estava perfeito, ela sentia a brisa do mar brincar com seus cabelos. Seu penteado já havia se desprendido, mas também não se importava nem um pouco.A lua brilhava naquela imensidão negra do céu estrelado. Haviam se livrado de seus calçados enquanto caminhavam enfiando os pés na areia. Ele já havia dobrado suas calças até os joelhos, também se livrou do terno, da gravata e agora usava apenas sua blusa de baixo que estava desabotoada exibindo seu físico perfeito.Antony correu feito uma criança na beira do mar.— Isso é muito bom! — gritou em voz alta.Sarah no entanto permanecia tímida, mas estava satisfeita, apenas observando ele tão à vontade demonstrando tanta simplicidade, bem diferent