Capítulo XII.

Clara Herrera.

Uma semana depois.

Depois de um dia extremamente cheio, tudo que eu quero e preciso se resume a um belo banho, cama e dormir com meu pacotinho perto de mim. Deixo Heitor na sala, assistindo seus desenhos e sigo para o meu quarto, a cada passo no cômodo, uma peça de roupa é retirada. A água morna em contato com meu corpo me tira um suspiro de satisfação. Nossa, como eu precisava disso!

O jantar na companhia do meu pequeno não poderia ser mais agradável, logo depois, nos deitamos em minha cama, e adivinha só? Mais desenho. Ficamos nessa programação até Heitor pegar no sono. Já eu, ainda demoro um pouco para, enfim, conseguir dormir.

Fico vagueando pelos canais de TV, passando por diversas séries, filmes, documentários e nada consegue prender a minha atenção. Então, o que me resta é fechar os olhos e esperar o cansaço fazer efeito, enquanto rolo para lá e para cá na cama.

(. . .)

Assim que o som do celular quebra o silêncio do quarto, ouço Heitor reclamar e se encolher debaixo das cobertas. Está frio, muito frio. Realmente, o tempo ultimamente anda tão louco. Com o sol presente ontem, quem diria que hoje iria amanhecer assim?

   — Heitor vamos, é hora de acordar, meu amor. — chamo o menino, que nem se mexe. — Anda Heitor, nós vamos nos atrasar. — retiro a coberta de sua cabeça. — Heitor Daniel Herrera, eu vou tomar o meu banho e quando sair do banheiro te quero de pé, tá bom? Espero que tenha me ouvido, mocinho.

Pego uma lingerie, separo uma roupa para o dia e sigo para o banheiro que há em meu quarto. Quase vinte minutos após entrar, saio do banheiro já de roupas íntimas e envolta em um roupão. Novamente, me aproximo de Heitor que permanece do mesmo jeito de antes, encolhido sobre a cama.

   — Vamos Heitor, levanta. — vejo o garotinho fechar os olhos com força. — Ah, ok... então, eu vou ter que apelar para a minha arma secreta, né?! — suspiro e ouço o menino soltar uma risada baixinha. — Bom, eu não queria, mas você está me obrigando a fazer isso...

Mais uma pequena risada é ouvida, e o garotinho se encolhe ainda mais. Faço algumas cócegas em sua barriga e as risadas aumentam, fazendo ele se debater na tentativa de se esquivar de meus braços.

   — Para, mamãe... eu vou levantar... — diz entre as gargalhadas.

   — Ótimo. — vejo ele se sentar na cama. — Vou pegar sua roupa, tá bom?

Separo uma roupa bem quentinha para Heitor e o ajudo a se vestir. Depois, deixo que ele prepare seus próprios cereais para seu café da manhã, enquanto termino de me arrumar. O que eu mais gosto no frio, é que tudo parece mais elegante. Uma saia preta, uma blusa social vermelha e meu confortável sobretudo, compõem minhas roupas. Em frente ao espelho, passo meu inseparável batom vermelho.

Antes de sair, me contento apenas em tomar um café preto e após pegar meus materiais, eu e meu filho seguimos pelo fluxo do trânsito pelas ruas da cidade. Estaciono um pouco antes de sua escolinha por causa da grande quantidade de carros, e sigo andando de mãos dadas com o pequeno. Nos despedimos da forma carinhosa de sempre, e quando volto para o carro, ouço meu celular tocar dentro da bolsa. Sorrio ao ver que é meu pai.

   — Ao que devo a honra de uma ligação sua logo cedo, Sr. Herrera? — atendo. — Bom dia!

   — Bom dia, minha filha. Tudo bem? Eu queria te pedir um pequeno favor, se não for incomodar.

   — Lógico que não é incômodo nenhum, papai. Pode dizer, o que precisa?

   — Tenho algumas coisas para resolver na hora do almoço, poderia ficar na livraria pra mim? No máximo por uma hora. E não tem muito o que fazer, as meninas estarão por lá.

   — Claro. Peço a Jéssica para pegar o Heitor na escolinha e vou para lá, fica tranquilo.

   — Muito obrigado, minha querida. Nos vemos mais tarde e bom trabalho.

   — Até mais tarde, beijos.

Desligo a chamada e me encaminho para o colégio afim de iniciar mais um dia de trabalho. As três primeiras aulas, duas no segundo e uma no terceiro ano, passam num estralar de dedos. Em todas as minhas turmas, hoje é dia de explicar um trabalho que valerá grande nota para o bimestre, além de separar os grupos, orientar e tirar as dúvidas.

Após o intervalo, a primeira aula é na sala 25, onde Milena estuda. E suas orbes esverdeadas são a primeira visão que tenho assim que entro na sala. A cada dia mais essa garota tem mexido comigo, com a minha cabeça e meus pensamentos. Ela sorri e quase que de forma instantânea, eu retribuo. Cumprimento os alunos e novamente início a explicação do trabalho.

Passo as orientações no quadro e após copiarem, deixo que tirem suas dúvidas. Por fim, separamos os grupos com três ou quatro alunos. Nesse ritmo, a aula também passa de forma bem rápida.

(. . .)

Assim que chego na livraria, meu pai se despede e rapidamente sai. Com toda sua pressa, nem ousei perguntar onde iria, ou o que iria fazer, apenas fiquei a espera de Milena e a outra funcionária, que não lembro o nome, chegarem.

Dois minutos antes do relógio marcar uma hora, a porta se abre, apresentando uma loira descabelada pelo vento e com as bochechas e o nariz meio avermelhados. Ela sorri surpresa ao me ver, se aproxima e me envolve em um gostoso e apertado abraço.

   — Não me aperta desse jeito, que eu não seguro a vontade de te beijar aqui mesmo. — digo, deixando um beijo no canto de seus lábios, vendo ela sorrir.

   — Desculpa, é que é meio difícil segurar com você assim, pertinho, tão cheirosa... — diz baixinho, me arrancando um suspiro. — Cadê seu pai?

   — Saiu e me pediu para ficar aqui. — me encosto no balcão. — Que horas a outra moça chega?

   — Uma e meia. Ouvi ela conversando com Sr. Heitor uma provável mudança de horário por causa da faculdade. — coloco minha mochila no pequeno armário próximo ao balcão. — Estou com saudades... — sussurra próximo ao meu ouvido.

   — Eu também estou... — me viro, dando de cara com seus olhos intensamente verdes. — essa vida de beijos e carinhos às escondidas é um castigo.

   — Se eu te roubar, nem que seja um selinho, aqui... será que sou despedida? — me olha, mordendo de leve o lábio inferior.

   — Acho que só se alguém ver. — olho para os lados, constatando que não havia ninguém por perto. — Na verdade... — cada uma de um lado do balcão, ficamos com os rostos a centímetros de distância. — Esse lugar tem olhos. — aponto para cima, me lembrando das câmeras de segurança.

Sorrio ao ver a expressão frustrada no rosto da garota. Ela se senta e então começamos uma agradável conversa. Isso que me agrada em Emma. Lógico, ela tem beijos mágicos, uma pegada maravilhosa e tudo, mas ela gosta também de conversar. E isso, pra mim, faz toda a diferença. Eu vejo em seus olhos a sincera vontade de me conhecer, saber como estou.

Os minutos parecem voar, uma ou duas vezes Milena precisa parar para atender algum cliente, até a porta ser aberta e por ela uma moça adentrar a livraria. Senti uma pontada, que não entendi bem porquê, ao vê-la.

   — Oi Mi! — dá um beijo no rosto de Emma. — Oi... — me olha com certo desdém.

   — Clara Herrera. — estendo a mão e ela aperta. Céus, que sorriso mais falso. — Prazer.

   — Ah, sou Alice. O prazer é todo meu, querida.

Quem ela acha que é pra simplesmente chegar beijando a Milena assim? Ok, foi no rosto. Mas não fui com a cara dela. Não fui. Antipática.

   — Ei Gina! — ouço Milena me chamar. — O que foi?

   — Nada. — me limito a dizer. — Então, hoje Jéssica quer sair com Heitor, ela vai embora ainda essa semana e quer um tempo com o afilhado. — digo com a voz mais baixa, vendo a outra garota um pouco mais afastada. — Não quer ir lá em casa? A gente assiste alguma coisa, ficamos agarradinhas... curtindo o frio.

   — C-claro. — a expressão surpresa em seu rosto, se contrasta com o sorriso gigante em seus lábios. — Que horas?

   — Às sete, pode ser?

   — Ótimo. — responde e dou uma piscadinha, sorrindo também.

O movimento aumenta na livraria, fazendo Milena andar de um lado para o outro no estabelecimento. Atende um, busca livro para outro, mostra revista de caça palavras para alguém. Meus olhos se perdem na simpática loira que faz questão de atender todos muito bem, com um sorriso inigualável no rosto. Acabo ficado tão perdida, que nem vejo a presença de alguém ao meu lado.

   — Ela é uma graça atendendo, não é? — fecho os olhos por alguns segundos, me recuperando do susto.

   — Quer me matar do coração, papai? — o encaro, incrédula com a mão sobre o peito. — Que susto!

   — Me desculpe, querida. — sorri, me abraçando de lado. — Você parecia tão concentrada...

   — Só estava pensando. — falo, desviando meu olhar, sem graça pelo flagra.

   — Claro, pensando... pois me parece que você tinha os olhos pousados sobre certa loirinha por ali. — a olho assustada.

   — De onde tirou isso, Sr. Herrera? — tento não gaguejar.

   — Provavelmente do fato de eu estar aqui há uns dez minutos e você nem se mexer. A não ser esse belo sorriso em seus lábios... — ok, eu devo estar mais vermelha que um tomate agora. — Um café?

   — Sim... e-eu busco pra gente.

Se não fosse pelos saltos, eu teria saído correndo da livraria. Meu Deus, que vergonha! Meu pai acabou de descobrir, seja lá o que eu estou sentindo por Milena. Droga! E agora? Ela esbanja tanta naturalidade em seus gestos, em seu sorriso, que meus olhos se fixaram nela do mesmo modo natural. Tão natural, que eu nem percebi.

Compro os dois cafés e volto para a livraria que ainda permanece bem movimentada. Tenho uma pequena troca de sorrisos com Milena quando passo por ela, que conversava animadamente com uma senhora. Sigo para a sala de meu pai, que lia algo no jornal.

   — Aqui... — lhe estendo o copo. — com creme e canela. — ele sorri.

   — Obrigada, querida. — coloca o jornal sobre a mesa. — Sente-se.

Mentalmente torço para meu pai ter esquecido minha cena de alguns minutos atrás, mesmo sabendo que isso é praticamente impossivel. Ficamos em silêncio por alguns segundos e eu me concentro em encarar meu copo de café, como se nele houvesse algo muito, muito interessante.

   — Sabe, minha filha... — meu pai quebra o silêncio. — já faz algum tempo que não temos mais aquelas conversas de pai e filha. Aquelas que tínhamos antes, lembra?

   — Como assim, papai? — o encaro. — A gente se fala sempre, eu te conto tudo o que me acontece... o senhor sabe, praticamente, tudo sobre mm.

   — Claro, e eu sou muito feliz que você confie em mim, minha querida. — sorri e eu faço o mesmo. — Mas, e nesse coraçãozinho, o que se passa? Depois da su separação com Juan eu nunca te vi com mais ninguém... — me ajeito na cadeira, não desconfortável pela conversa, mas sim pelo assunto, que me fez lembrar sobre a traição. Maldito Juan Carlos.

   — Ah papai, sabe de uma coisa? Eu acho que estou até melhor desde a separação... mesmo que eu tenha precisado passar por uma traição para tomar coragem de pedir o divórcio, meu casamento com o Juan já estava por um fio. — sorrio fraco. — Além de ter sido traída, o que me entristece em lembrar, é o quanto me anulei por todo o nosso relacionamento e o quanto ele perdeu a consideração por Heitor. Isso me magoa muito. — sinto meus olhos marejados e seguro uma lágrima. — Meu filho não tem culpa de nada, e pergunta todos os dias por aquele filho da mãe...

   — Não gosto muito de falar isso, mas aquele crápula não merece o amor do pequeno Heitor. Porém vocês dois não tem culpa alguma... nem você, e muito menos o nosso menino. — segura minha mão, fazendo um leve carinho. — Você merece ser muito feliz, meu amor. Você é uma pessoa especial e merece alguém especial. — um sorriso preenche o rosto de meu pai.

   — Obrigada, papai. — retribuo com um sorriso tão grande quanto o dele.

   — E então, você sabe que tem um pai que além de preocupado, é extremamente curioso também... — diz, me fazendo rir.

   — Claro, Sr. Herrera. — coloco meu copo sobre a mesa e junto as mãos, encarando o senhor. — Siga em frente, apesar de eu já ter desconfianças do que queira saber.

   — Se você já sabe o que eu quero saber, creio eu então, que não será muito difícil me responder. Certo? — pergunta e eu dou de ombros.

   — Depende. — agora ele quem ri. — Mas vai lá, pode perguntar.

   — O que significa aquele seu olhar para a menina Milena? Aquele e muitos outros que eu já tenho percebido há um tempinho... — eu fecho os olhos por alguns e segundos e tento formar uma resposta. Não esperava que ele fosse tão direto assim na pergunta.

   — E-eu... eu não estava... e-eu... — ai droga! — Eu não estava olhando para Milena, papai. Só estava prestando atenção no movimento.

   — Clarinha, você nunca conseguiu me enganar, e não vai ser depois de vinte e nove anos que isso vai acontecer. — ai droga, de novo! — E como eu disse, não é a primeira vez que vejo você olhando desse jeito para ela.

Certo, não adianta. Heitor Herrera sabe tudo sobre mim. Meus gostos, desgostos, minhas manias e sinais. E além do mais, pra que mentir? Posso não saber, ainda, especificar o que Milena faz sentir. Mas se é bom, meu próprio pai merece saber.

   — Ok, você está certo. Sempre está. — suspiro. — Eu só não sei explicar bem o que significa aquele olhar, pai. Eu me perco no jeito, na beleza, na graciosidade de Milena... ela faz tudo de um jeito tão dela, ao mesmo tempo que se parece uma jovem como qualquer outra, ela se mostra única, diferente... — paro, mas ele acena, pedindo que eu continue. — Ainda não entendi o que essa garota tem, mas a forma que ela cativa a todos, com um simples sorriso, me acabou me cativando também. Ela trata Heitor de uma maneira que eu chego a me emocionar, eles têm uma conexão que me parece tão grande, tão profunda... — me levanto, enquanto meu pai me olha em silêncio por alguns segundos.

   — Você já viu a maneira que ela olha para você? — ele pergunta, após quase me matar do coração, de tanta agonia com seu silêncio. — Eu nunca vi olhos verdes tão brilhantes como os dela quando ela te olha, ou quando eu mesmo falo de você. — minhas pernas inquietas, me fazem andar de um lado para o outro. Uma mania minha quando fico nervosa.  — Você já percebeu o sorriso dela quando vocês se encontram? — concordo e por fim, acabo sorrindo feito uma idiota.

   — Ela chegou com aquele jeito de menina mulher e me conquistou, papai. — jogo meu corpo no pequeno sofá, próximo a porta. — Quando eu vi, as conversas com ela se tornaram tão necessárias... até em silêncio a presença dela me faz bem.

   — Sabe o nome disso, Clarinha? — apoio o rosto entre as mãos, e espero que ele continue. — Você gosta dela, está apaixonada pela Milena, minha filha. — se levanta de sua cadeira, e em segundos o vejo sentado ao meu lado.

Estranho como parecemos conviver pacificamente bem com o que sentimos, até sermos obrigados a admitir. Sinto a mão de meu pai fazendo um leve carinho em meus cabelos, delicadamente ele me puxa, para que eu deite a cabeça em suas pernas. Assim como eu adorava fazer quando mais nova. Heitor Herrera sempre conseguia apaziguar qualquer confusão em minha mente.

   — Eu tenho medo, papai. — digo alguns segundos depois, de olhos fechados. — A Milena é minha aluna, minha profissão está em jogo, minha carreira... e além do mais, eu não acho justo para ela, ter que ficar se escondendo por aí quando queremos ficar juntas.

   — Então isso passou de algo só de olhares? Vocês estão tendo alguma coisa? — pergunta e eu apenas concordo em silêncio. — O que exatamente?

   — Ah, não temos nada rotulado. Eu não falo o que sinto, e ela também não... nós estamos nos conhecendo. — abro os olhos e vejo que Heitor Herrera me olha atentamente. — Faz muito pouco tempo na verdade, tudo começou no dia do aniversário do Heitor.

   — Ela estava linda naquele dia, e eu vi os olhares de vocês se cruzando inúmeras vezes. — sorri, e eu fecho os olhos novamente.

   — E o que você acha disso, papai? — pergunto meio hesitante. — Quer dizer, você e mamãe me criaram para...

   — Nós te criamos para ser feliz, Clara. Você e Kelly são nossos bens mais preciosos. — deixa um beijo em minha testa. — E bom, o que eu acho... os olhares de vocês mostram tudo, mas o que você me disse nessa sala, só me deixa a certeza que você está feliz. Seja o que for que vocês estejam tendo, preserve. E sobre os perigos, por enquanto, só conte para aqueles que você confia, e tomem cuidado.

Me levanto e apenas com o olhar meu pai me entende e se levanta também, me envolvendo em um abraço apertado e carinhoso. Fecho os olhos e sinto meu coração se acalmar e a segurança que Heitor me traz, faz com que, mesmo com um pouco de medo, eu saiba que esteja no caminho certo.

   — E pai, por favor, deixe que eu conto sobre isso pra mamãe, tá bom? — digo e ele concorda.

(. . .)

Faltava pouco menos de dez minutos para às sete quando ouvi o som da campainha. Me apresso em abrir a porta e a imagem que vejo, tira um de meus melhores sorrisos.

   — Boa noite. — o anjo loiro, escorado no batente da porta sorri e me estende uma rosa vermelha.

   — Boa noite! — pego a flor de sua mão, e dou espaço para que ela entre.

Os olhos de Milena percorrem meu corpo, da ponta dos pés até chegar em meu rosto. Eu acho que nunca vou me acostumar com essas orbes esverdeadas me olhando com toda essa intensidade, como se pudessem me despir por inteira, em milésimos de segundos.

   — Então, estou preparando um jantar pra gente. — a puxo pela mão, rumo à cozinha. — Não é querendo me gabar, mas você precisa provar os meus dotes culinários. — digo e ela ri.

   — Eu tenho certeza que, sendo feito por essas mãos. — enlaça nossos dedos,  sorrindo. — É maravilhoso.

Volto minha atenção para o jantar a ser preparado. Ok, na verdade eu tento. Já que a todo momento sinto o olhar de Milena sobre mim, seus olhos me seguem enquanto eu ando por toda a cozinha.

   — Vinho? — pego a garrafa no balcão, Milena acena de maneira positiva.

Me aproximo da garota com a garrafa e duas taças, ainda posso sentir seus olhos capturarem cada movimento meu. Mas é quando ela bebe o primeiro gole do vinho, que eu passo a encará-la na mesma intensidade. O modo como ela captura algumas gotículas no canto de sua boca, a cor que o líquido deixa em seus lábios, parece brincar com minha sanidade. Percebendo meus olhares, ela sorri, maliciosamente, mordendo levemente seu lábio inferior.

   — Sabe de uma coisa? — coloco minha taça sobre o balcão. — Esse vinho é maravilhoso, mas com o gosto dos seus lábios deve ser ainda melhor...

Dito isso, Milena me puxa pela cintura, anulando qualquer distância entre nós duas. Realmente, a mistura do vinho com seus beijos é capaz de me fazer ir aos céus por alguns segundos. O beijo se intensifica, fazendo nossas respirações ficarem pesadas. Mas não, nenhuma de nós pensa em parar. Muito pelo contrário, sinto as mãos de Milena empurrando delicadamente, logo sentindo minhas costas em contato com o balcão. Logo nossas mãos, ainda que de forma meio tímida, estão passeando pelo corpo uma da outra, fazendo ambas suspirarem pesadamente.

   — Milena... — minha voz sai com certa dificuldade. — o jantar...

   — Acho que pode esperar um pouco, não? — seu sorriso extremamente provocativo, me faz concordar, acenando de maneira positiva.

Qualquer coisa pode esperar agora.

Qualquer coisa.

O contraste de minha mão meio gelada, com sua pele quente faz a loira se arrepiar, e um pouco mais ainda, quando deixo minhas unhas passarem por seu abdômen, arranhando levemente o local. Quando o oxigênio realmente se faz necessário, nos separamos, mas por poucos segundos. Milena logo inicia uma trilha de beijos molhados por meu pescoço, me fazendo arfar pesadamente.

Os beijos descem pelo decote da minha regata, até chegar em meu colo. O contato parece não ser o suficiente, e realmente não é, logo as mãos de Milena sobem por meu tronco, retirando a peça de roupa que para em um canto qualquer da cozinha.

Novamente eu tenho a sensação de seus olhos me devorarem, e isso faz meu corpo queimar. Sem pensar duas vezes, de novo, avanço contra os lábios da loira, a empurrando rumo a parede mais próxima. E durante pequeno percurso, sua camiseta ganha o mesmo rumo da minha. Um gemido escapa dos lábios de Emma, quando seu corpo se choca com a parede gelada.

Deixo meus olhos a contemplarem por alguns segundos, sua pele alva em contraste com a lingerie preta, com finos detalhes em renda, me fazem ter certeza que estou frente a frente com o verdadeiro retrato da perfeição.

Desse segundo em diante, chegar no meu quarto parece ser uma árdua tarefa, já que os beijos trocados por esse pequeno trajeto não têm pausas. Sentir as mãos de Milena passearem pelo meu corpo, parece me causar uma sensação única. Tudo parece tão quente, contrastando com a noite fria lá fora.

Com seu corpo sobre o meu, Milena me guia até a cama. Posso notar que seus olhos perderam o verde, agora ali, em suas pupilas dilatadas eu via prazer, luxúria, paixão. Novamente seus lábios fazem um caminho de beijos pelo meu pescoço, agora avançando com algumas mordidas até chegar no sutiã. Nossos olhares se cruzam por segundos, mas ela logo continua. Meu corpo todo se arrepia ao sentir os beijos molhados serem espalhados pelo meu tronco, abdômen, até chegar ao cós de meus shorts.

Parecendo querer me castigar, ela faz o mesmo caminho de volta. Seus lábios escorregam até o vão de meus seios, deixando um único beijo ali. Em segundos suas mãos me livram do sutiã. Ela para, a forma com que olha meu corpo parece querer decorar cada pedaço ali. E assim ela o faz, não só com os olhos, mas também com seus dedos e lábios, me causando sensações indescritíveis.

A boca de Milena faz um belo trabalho em meus seios, meus gemidos, antes contidos, agora escapavam de minha boca entreaberta. Sinto minha intimidade pulsar, latejar de tanto prazer. Aproveito a perna de Milena posicionada entre as minhas e ainda com os shorts faço pequenos movimentos de meu sexo em sua coxa.

Com certa dificuldade, por não querermos quebrar o contato, o resto de nossas roupas é retirado, ganhando um rumo desconhecido. Visualizo agora, Milena Bianco com seu corpo coberto apenas pela roupa íntima. Não só meus olhos, mas todo meu corpo parece gostar do que vê. Seu físico delicadamente definido me faz esquentar mais ainda. Se é que isso é possível.

Até agora, o fogo do momento não me permitiu parar para pensar num único e pequeno detalhe. Eu nunca sequer, antes disso, havia beijado uma mulher e estava prestes a dar um passo além. Quando esses pensamentos me fazer parar, fecho os olhos por alguns segundos.

   — Clara, tudo bem? — sentada sobre meu abdômen, Milena me observa.

   — Sim, está tudo bem. — sorrio. — É só que... bem, eu nunca fiquei com mulheres e...

   — Então, faremos um trato... — retribui o sorriso. — vamos descobrir e sentir tudo isso juntas, ok? — a olho por alguns segundos, e antes que eu pergunte ela responde. — Sim, eu sou virgem.

   — Ok. — digo, vendo que a mesma parece ter ficado com vergonha de admitir o fato. — Vamos descobrir juntas. Deixaremos nossos corpos nos guiarem, tudo bem?

Uma troca de sorrisos, enquanto ela acena de forma positiva e voltamos as intensas trocas de beijos. Sem demoras os lábios de Milena se encontram novamente no cós da minha calcinha, onde ela deixa um beijo. Sinto o calor da boca de Milena próxima a minha intimidade.

   — Tão molhada... — aperta meu sexo, fazendo um gemido involuntário me escapar.

A certeza que Milena está me castigando aparece quando a loira faz um caminho de beijos no interior da minha coxa e vai subindo até chegar na virilha. Fecho minhas pernas com certa força, na tentativa de intensificar o contato. Em segundos minha calcinha também some pelo quarto, um gemido agudo sai da minha garganta quando sinto a língua de Milena passar levemente entre minhas pernas.

   — Milena...— minha voz falha.

Aperto os lençóis da cama quando Milena abocanha meu sexo, a maneira que tudo é conduzido me faz duvidar mesmo que a garota nunca fez nada disso. Sinto sua língua em minha entrada e minhas mãos automaticamente descem até seus, apertando e arranhando sua nuca. Percebendo meu estado, Milena começa um vai e vem com a língua, me fazendo ir a loucura em segundos. Como se estivesse procurando meu limite, a garota estimula meu clitóris com maestria e sem muita demora, sinto uma enorme onda de prazer explodindo em meu corpo.

Meus olhos continuam fechados, e eu busco ar profundamente na tentativa de normalizar minha respiração. Mas um suspiro pesado passa por meus lábios, quando sinto Milena sugar todo o líquido em meu sexo.

   — Você é tão gostosa, professora Herrera. — sua voz rouca me arranca um arrepio.

Sem aviso, a loira toma meus lábios, num beijo intensamente gostoso e logo sinto sua mão escorregar novamente entre minhas pernas. Com dois dedos, Milena me penetra e inicia as estocadas de forma lenta, involuntariamente meus quadris começam a se mexer e logo estamos no mesmo ritmo. Nossas gotas de suor se misturam e nossos olhares se chocam, Milena parece prestar atenção em casa sinal, cada resposta do meu corpo. Como da primeira vez, meus músculos se contraem e em seguida meu corpo cai sobre a cama.

Viro para o lado e vejo Milena de olhos fechados, sua respiração também está pesada. Com o olhar, sigo uma gota de suor que escorre em sua testa e morre em seus fios dourados. Preciso dar a ela as mesmas sensações que senti. Chegou a hora de deixar meus instintos também me guiarem.

Me sento sob seu abdômen com uma perna de cada lado, e um gemido baixo escapa de seus finos lábios quando meu sexo encosta em sua pele. Suas mãos seguram meu rosto e logo estamos unidas em mais um beijo, dos incontáveis dessa quente noite. Deixo meus lábios escorregarem, deixando alguns beijos molhados em sua clavícula, descendo por seu pescoço e colo até chegar em seus seios.

Me delicio por alguns segundos com a visão da loira se contorcendo na cama, segurando os próprios cabelos enquanto brinco com seus seios. Logo minha boca se junta as minhas mãos, fazendo seu corpo arquear sobre os lençóis, em conter a voz que se torna música para meus ouvidos.

A pele branca de Emma, ganha algumas manchas avermelhadas a medida que meus lábios deixam leves mordidas. Suas pintinhas são decoradas não só por meus olhos, mas também por minha boca. Sem muita cerimônia, logo nos livramos da última peça que cobria seu corpo.

O prazer presente no quarto, parece ser palpável. Sentir o cheiro de Milenafaz minha boca salivar, suas pernas levemente abertas me dão uma visão maravilhosa. Como se necessitasse do contato tanto quanto ela, passo a língua pela primeira vez por seus grandes lábios. Ela fecha o olho com força. Logo começo a explorar cada pedacinho de sua intimidade. E bom, pra quem nunca fez um oral em uma mulher na vida, ver a loira se contorcendo na cama, é impagável.

Começo a estimular seu clitóris e sinto Milena rebolar loucamente sob meus lábios. Eu mesma poderia gozar apenas com essa cena. Meus dedos brincam em seu ponto sensível, a fazendo dar alguns gritinhos demonstrando sua excitação. Sinto seu sexo se contrair e aumento o ritmo, e em logo me delicio com a cena de Milena se derramando sobre a cama.

Ela me olha, seus cabelos totalmente bagunçados e seu rosto corado são uma cena pra se guardar na memória. Subo com uma trilha de beijos, até chegar novamente em seus lábios. Minhas acariciam sua barriga, fazendo seu corpo se contrair algumas vezes. Novamente desço minha mão até seu sexo que ainda parece pulsar sob meus dedos.

   — Pronta? Vo-você tem certeza? — a olho e ela sorri tranquilamente, acenando de maneira positiva.

   — Sim...

Afasto suas pernas e sinto sua intimidade ainda bem molhada, o que facilita meus dedos escorregarem lentamente. Tento ser o mais sutil e delicada possível, mas mesmo assim me assusto quando um gemido, esse provavelmente contendo um pouco de dor, sai da boca de Emma. Meus olhos capturam cada expressão, cada sinal de seu corpo. As estocadas começam de forma lenta, a garota ainda parece ter um certo incômodo, mas quando vejo seu quadril se mexendo sob meu corpo. Mais gotas de suor, palavras ininteligíveis saem de sua garganta.

Seus olhos que antes estavam fechados se abrem, e agora tenho certeza que tudo se conecta ali. Aumento a velocidade das estocadas enquanto ouço os gemidos de Milena próximos de meu ouvido. Nosso ritmo aumenta a cada segundo, até sentir seu corpo explodir de prazer novamente. Me deixo cair sobre a loira. Exausta. Sinto seu coração bater forte, quando me deito sobre seu peito.

   — Tudo bem? Você está bem? — acaricio seu rosto, ela concorda e se acomoda.

   — Você foi maravilhosa. — sussurra, deixando um beijo em meus cabelos.

   — E você? — a encaro e vejo um sorriso se formar em seus lábios. — Começando a pensar que me enganou. — brinco e ela dá uma pequena risada.

Após uma risada da garota, ficamos em silêncio. O único som ouvido no quarto são nossas respirações. Me abraço a seu corpo, enquanto sinto seus carinhos em meus cabelos. E minha certeza é que nesse momento nada precisa ser dito, não com palavras. Nossos olhares, nossas sensações e nossos sentimentos presentes nesses quarto são quase palpáveis e capazes de dizerem tudo. 

Emanuelle Oliveira

Espero que gostem!

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