Luiza ficou surpresa e desviou o olhar.
- O quê?
- Você não gosta do Miguel, não é? - Clara perguntou, lançando um olhar rápido para Miguel, como se estivesse observando a reação dele.
Miguel permaneceu impassível, mastigando um pedaço de peixe.
Luiza soltou um riso autodepreciativo e disse em voz alta:
- Claro que não.
- Não mesmo?
Clara não acreditava muito, nesses últimos dias, ela ouviu muitas histórias sobre eles, ouviu dizer que Luiza estava loucamente perseguindo Miguel. Onde quer que Miguel fosse, ela o seguia, sendo até apelidada pelos amigos de Miguel como “a perseguidora do Miguel”.
Ela se sentia um pouco preocupada com isso.
- Eu era jovem e tola, fazia isso só por diversão. - Luiza sorriu levemente.
Naquela época, ela agia impulsivamente, insatisfeita com um casamento de fachada, passeando sem rumo e depois ligando para Miguel, alegando estar perdida e pedindo que ele a levasse de volta.
Às vezes Miguel aparecia, outras vezes não, mas mesmo quando ele não vinha, enviava seu assistente para buscá-la.
Naquela época, ela sentia que ainda tinha esperanças, pelo menos o Senhor reagia de alguma forma a ela.
- Entendi. - Clara sorriu ao ouvir a resposta de Luiza e olhou para Miguel. - A Luiza estava brincando com você antes, você não levou a sério, né?
Miguel respondeu com um grunhido indiferente:
- Eu não sou tão tolo.
Luiza se sobressaltou. Era verdade, ele sempre achou que ela estava enganando ele.
Depois que seu pai foi para a prisão e a empresa passou para as mãos de seu tio, ele sempre a mandava agradar Miguel.
Ao contrário do esperado, isso fez Miguel pensar que ela estava tentando seduzi-lo por dinheiro.
Assim, Miguel nunca acreditou no que ela dizia.
Luiza se sentiu um pouco abatida e colocou a colher de lado, se levantando:
- Estou satisfeita, podem continuar comendo.
Ela subiu para tomar seu remédio.
Clara a seguiu, olhando com ternura para ela.
- Srta. Clara, precisa de algo? - Luiza perguntou, segurando a maçaneta da porta.
- Este é o quarto de você e do Miguel? - Clara indagou.
Luiza franziu a testa, mas logo retomou a calma, seu olhar caindo sobre a barriga de Clara:
- Srta. Clara, o bebê em seu ventre é do Miguel?
Clara mostrou uma expressão culpada por um momento e depois assentiu:
- Sim, é do Miguel.
O olhar de Luiza escureceu, tudo estava decidido, não valia mais a pena se preocupar:
- Fiquem juntos, vocês formam um casal bonito e combinam bem.
- E você e o Miguel...
- Eu e ele não temos sentimentos um pelo outro, provavelmente nos divorciaremos em breve. - Luiza falou, decidida. Mesmo que Miguel não quisesse o divórcio, ela o faria. A decisão não era só dele.
Os olhos de Clara brilharam:
- Sério?
Luiza assentiu com a cabeça:
- Seu olhar estava distante. Você não precisa se preocupar comigo, sou apenas uma figura sem importância.
De qualquer forma, Miguel disse que nunca a amaria, então ela desistiu.
Luiza voltou para o quarto, tomou um remédio para o estômago e baixou uma cópia do acordo de divórcio da internet, planejando imprimi-lo.
Pegando seus documentos, ela desceu as escadas.
Clara já tinha ido embora.
Mas Miguel ainda estava lá, falando ao telefone junto à janela. Sua estatura quase de um metro e noventa lhe dava uma aura imponente.
Luiza fingiu não vê-lo e caminhou com o rosto fechado em direção à porta.
- Pare! - Miguel a chamou com uma voz grave.
Luiza se virou, confusa:
- O que foi?
- Você não tem gastrite? Vai sair para quê?
- Vou trabalhar.
- Não permito.
- Você não manda em mim. - Luiza respondeu irritada. - A partir de hoje, não vou mais ouvir você. Vou me mudar, não vou mais morar aqui.