Depois de saber que Vinícius gostava de peixe, no dia seguinte Letícia foi até o tanque da propriedade da família. Queria pescar alguns peixes e treinar sua mão na cozinha — quem sabe, cozinhar para ele um dia.
Ela já havia escolhido os melhores quando, ao se virar, deu de cara com Larissa, que não se sabia como havia entrado ali.
Com os dedos entrelaçados e a expressão de falsa fragilidade, Larissa se aproximou com voz manhosa:
— Sra. Letícia… a senhora tá brava porque o Sasa se machucou protegendo eu, né? A culpa é minha, pode me culpar. Eu sei que a senhora é a noiva dele… eu sou só a filha da empregada… nem valho tudo isso.
O tom choroso e forçado fez Letícia franzir o cenho. Sem dizer nada, virou-se para ir embora.
Mas Larissa a segurou pelo braço e, sob o olhar confuso de Letícia, sorriu com malícia.
Antes que Letícia pudesse entender o que estava acontecendo, Larissa começou a se esbofetear com força, chorando alto:
— Sra. Letícia! Se quiser me bater ou gritar comigo, tudo bem! Só te peço que não fique brava com o jovem mestre… por favor, vai ver ele! Eu aguento tudo que quiser fazer comigo, juro que nunca vou reagir!
Letícia recuou um passo. Aquilo estava estranho demais. E antes que pudesse se soltar, escutou passos apressados — Isaac apareceu, furioso, seguido por um grupo de amigos.
— Letícia! Por que você bateu na Larissa?! Eu já disse que vou me casar com você, precisa mesmo bancar a ingrata?!
Letícia o encarou, fria:
— Eu não toquei nela. Tem câmera ali. Se duvida, vai ver.
Virou-se para sair. Mas Isaac, tomado pela raiva, ignorou completamente. A voz dele soou cortante:
— Antes eu achava que você era só mimada… agora vejo que você é simplesmente insuportável!
Em seguida, ordenou que os amigos a segurassem. E puxando Larissa pela mão, declarou em alto e bom som:
— Larissa, eu não vou deixar ninguém te humilhar. Vai, revida!
— Eu… eu não posso… — Larissa fingiu hesitar, mas com o incentivo de todos ao redor, sua máscara caiu. Ela deu um tapa violento no rosto de Letícia.
PÁ!
O rosto de Letícia se inflamou na hora, e sua testa — que ainda não havia cicatrizado — voltou a sangrar.
A dor foi aguda, queimando, fazendo seus ouvidos zumbirem.
Aproveitando-se do caos, Larissa empurrou Letícia direto no tanque, depois correu para fingir preocupação:
— Ai meu Deus, ela caiu! Vou tentar ajudar!
Isaac lançou um olhar indiferente e se virou:
— Deixa. A água é rasa. Ela não vai morrer.
Letícia ficou se debatendo sozinha por um bom tempo. Quando foi finalmente resgatada, mal conseguia ficar de pé.
Naquela noite, a febre veio com força. No dia seguinte, ainda não havia cedido.
Entre delírios e suores, Letícia revivia cenas da infância, murmurando palavras entre lágrimas:
— Tô com febre, Isaac… você não ia comprar aquele doce de feijão pra mim?... Por que não voltou ainda?...
— Foi culpa minha… me desculpa, Isaac… prometo que nunca mais escondo as cartas das meninas que gostam de você…
Isaac entrou bem nesse momento. Ao ouvir as palavras, parou, surpreso.
Por um instante, seu coração cedeu.
Lembrou de quando ela era só uma menina teimosa que vivia grudada nele — e ele achava graça. Até gostava.
— Se você não tivesse me forçado, eu teria te tratado como irmã a vida toda… — Murmurou.
Letícia ouviu. Estava tonta, mas ouviu.
Abriu os olhos lentamente.
Isaac, notando isso, voltou a seu tom arrogante:
— O velho ficou sabendo da sua febre e me obrigou a vir. Não se iluda. Eu só tô aqui porque me mandaram.
Logo atrás dele, Larissa entrou, tímida, e começou a se desculpar:
— Sra. Letícia… ontem eu passei dos limites. Me perdoa, por favor…
Letícia, ainda fraca, não tinha forças pra discutir. Tentou se erguer.
Foi nesse momento que percebeu Larissa encarando seu pescoço.
Ela levou a mão até lá — a corrente. O colar que Isaac lhe dera no aniversário de 18 anos.
Isaac também notou. Sabia o quanto aquele presente significava para Letícia.
Baixou os olhos e murmurou:
— Larissa… depois eu mando fazer um pra você…
Mas a frase foi interrompida.
Letícia arrancou o colar do pescoço e o jogou no chão.
Depois, cambaleando, foi até o canto do quarto, pegou a caixa com as lembranças de Isaac — que já havia separado dias atrás — e a colocou nos braços dele.
Isaac sentiu um aperto no peito.
— O que você tá fazendo?
Letícia respondeu, serena:
— Vou me casar. E não quero que meu futuro marido veja essas coisas e ache que tem algo mal resolvido entre a gente. Tô devolvendo tudo. A partir de hoje, entre nós… acabou.
Isaac ficou imóvel por alguns segundos. Depois, irritado, abriu a caixa e espalhou tudo no chão.
— Você bateu na Larissa e ainda vem bancar a vítima? — Gritou, com raiva nos olhos. — E quem você acha que é seu futuro marido, hein? Não sou eu?! Quero ver você manter essa pose no dia do seu casamento!
Gritou, bufou, e saiu do quarto puxando Larissa pela mão.
Letícia olhou para a bagunça no chão. Respirou fundo. E então disse, com um sorriso leve nos lábios:
— Joguem tudo isso no lixo. É só entulho.