Revelações - A Resistência dos Arcanjos vol. 1
Revelações - A Resistência dos Arcanjos vol. 1
Por: Hel J. L. Costa
1 - Gabriel

Gabriel despertou de repente, como se tivesse escutado alguém o chamar. Mas ninguém o acordaria num domingo à uma hora dessas, ele pensou, olhando a escuridão lá fora e por um instante pensou ter visto um movimento na árvore de frente para a janela de seu quarto, mas estava escuro demais e sua miopia muitas vezes lhe pregava peças.

Vasculhou a mesa de cabeceira em busca de seus óculos e seu smartphone, com o intuito de olhar que horas eram, mas estranhou ao ver que em seu aparelho marcavam oito da manhã.

— Deve haver algum erro de rede ou algo parecido — disse para si mesmo.

Seu quarto não tinha cortinas, e às oito, o sol já estaria batendo diretamente na sua janela.

— Que horas são? — disse ao aparelho, enquanto pressionava a tecla de pesquisa e, em resposta, recebeu a confirmação de que eram oito da manhã.

Levantando-se de sobressalto, foi até a cozinha e, abrindo a geladeira, pegou uma garrafa com água e bebeu avidamente do bico.

— Que loucura está acontecendo? — perguntou a si mesmo e se dirigiu ao quarto da mãe. 

— Mãe, a senhora já acordou? — gritou batendo de leve na porta. Tá tudo escuro lá fora e já passam das oito.

— Mãe? — chamou e bateu novamente depois de não obter resposta, mas novamente em vão.

Preocupado com a falta de respostas, Gabriel tentou abrir a porta, mas estava trancada por dentro, então a forçou até arrombá-la.

Entrando no quarto avistou a cama desarrumada, mas sem sinal de sua mãe e vasculhou também o banheiro, mas não havia ninguém.

Vendo que as janelas também estavam trancadas por dentro, ele entrou em estado de alerta. Não tinha como sua mãe ter saído daquele quarto. Será que isso tinha a ver com a escuridão que estava lá fora?

Precisava se acalmar e pensar, então se sentou na cama de sua mãe e ligou a televisão. No noticiário imagens de satélite mostravam o momento em que o sol simplesmente deixou de brilhar, como uma lâmpada que apagamos. A apresentadora do telejornal alertava também para outro fenômeno, que estava acontecendo em escala global — o misterioso desaparecimento de pessoas, que simplesmente sumiram, como se tivessem evaporado, deixando as roupas intactas no lugar em que estiveram por último.

Gabriel então observou que em meio às roupas de cama de sua mãe, estava também o pijama que ela usava na última vez que a viu na noite anterior. Sentiu o desespero crescendo em seu interior, mas lembrou do que sua mãe dizia:

"Na vida, como na matemática, devemos racionalizar os problemas, tentando achar soluções viáveis a cada caso"

Respirando fundo, eliminou a bolha de desespero em seu peito e levantou-se. Pegando o telefone, tentou ligar para o celular do pai, mas chamou até cair. Digitou então o número do laboratório e, depois de tentar várias vezes, uma voz feminina atendeu.

— Por favor — disse a moça do outro lado da linha, com um tom de urgência na voz —, eu preciso de ajuda! Muitos cientistas desapareceram, inclusive a minha mãe. Só sobraram os jalecos espalhados pelo laboratório. Eu não sei mais o que fazer!

— Fique calma — respondeu Gabriel tentando seguir seu próprio conselho, mesmo com o coração querendo sair pela boca —, respire fundo e me diga o seu nome.

— Raguel. — ela disse pausadamente, e depois de respirar fundo continuou — Meu nome é Raguel Williams e sou filha da doutora Jodi Williams. Eu recebi uma mensagem dela pedindo para encontrá-la aqui, mas chegando aqui só encontrei uniformes e crachás espalhados pelo chão. Muitos cientistas desapareceram, os seguranças e demais funcionários fugiram e eu estou perdida aqui.

— Raguel, — disse Gabriel, mantendo a calma, mesmo quase explodindo por dentro — Meu nome é Gabriel Rashford, e meu pai é o engenheiro químico chefe deste laboratório. Também estou assustado, mas isso não aconteceu só aí. Está acontecendo no mundo todo e eu preciso falar com ele.

— Gabriel — ela disse, interrompendo-o —, eu conheço o Dr Rashford, ele era chefe da minha mãe e eu encontrei seu uniforme e crachá também. Sinto muito!

Gabriel fez silêncio por segundos que pareceram uma eternidade. Em seu peito crescia o desespero. Desde que foi adotado aos três anos de idade, não sabia o que era estar sozinho. Por mais que o Dr e a Dra Rashford não se vissem muito, devido ao trabalho de ambos, eles nunca o deixavam sozinho e, quando um não estava presente, o outro estava.

Ele foi criado em meio às pesquisas de seus pais que eram importantes cientistas. Ela, uma renomada doutora em matemática e ele, um engenheiro químico conhecido no mundo todo.

Ambos eram chamados pelo governo para o gerenciamento de crises internacionais, e se saiam muito bem.

— Mas e essa crise agora — perguntou a si mesmo —, quem resolveria?

Ele era um jovem de dezoito anos, que sempre teve apoio dos pais para tudo e agora estava só e perdido.

— Como sua mãe reagiria? — refletiu, e então decidiu ser forte, por eles.

— Raguel, ainda está aí? — continuou, tentando passar calma e confiança.

— Sim, estou.

— Ótimo! — continuou ele — Preciso que você faça o seguinte: Procure por cientistas que não tenham sido afetados por "isto" seja lá o que "isto" for. Eu estou indo para aí e nós vamos procurar uma solução juntos. Posso contar com você? 

— Ok, combinado! — assentiu ela — Mas venha rápido, por favor!

Dito isso, ambos desligaram os aparelhos, e Gabriel, pegando as chaves do carro de sua mãe, saiu apressadamente rumo ao laboratório.

— Eu vou descobrir o que está acontecendo, mamãe — disse o jovem para o vazio, como se acreditasse que ela pudesse ouvi-lo de outro plano, ou talvez quisesse apenas encorajar a si mesmo.

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