POV de Isadora
Seu corpo enrijeceu. O meu também.
Mas seus lábios eram macios. Surpreendentemente macios. E, por um segundo, nenhum de nós se moveu.
E então… eu não quis me mover.
Cassian provavelmente está transando com Alessia agora, me lembrei. Então, por que eu não poderia me divertir um pouco também?
Meus braços deslizaram ao redor do pescoço do estranho como se pertencessem ali. Sua hesitação se dissolveu como fumaça, e então ele me beijou de volta, com intensidade, fome, como se quisesse devorar cada pedacinho de mim.
Só percebi que ele me levantara quando senti minhas pernas balançando no ar. Seus lábios nunca deixaram os meus enquanto ele me carregava para fora, rumo ao seu veículo, presumi. Sua respiração roçou meu ouvido, profunda e perigosa.
— Não se arrependa disso amanhã, Isadora. — Murmurou. — Foi você quem escolheu brincar comigo desta vez.
Mesmo sob o efeito do álcool, eu sabia estarmos indo em direção a algo intenso. Algo que eu não poderia desfazer.
Aquela noite foi um borrão de calor e lençóis emaranhados.
Ele era a personificação do pecado, músculos firmes, mãos dominantes, uma boca que me arruinou da melhor maneira possível.
Não paramos. Não até que eu estivesse exausta demais para respirar, quanto mais me mover.
...
Acordei em um quarto de hotel na manhã seguinte, com a cabeça latejando e a boca seca. As cortinas estavam fechadas, lançando sombras por todo o ambiente.
Saí da cama cuidadosamente, vestindo meu vestido rasgado sobre o corpo dolorido. Nem sequer tinha visto claramente o rosto dele.
Nem queria. Isso seria apenas uma noite, nada mais.
Eu só precisava sair dali.
Quando finalmente consegui um táxi, me vi no retrovisor.
Meu vestido estava destruído. E meu pescoço era um campo de batalha de marcas de beijos e mordidas.
Perfeito.
Precisava chegar em casa e apagar essas evidências antes que meu pai, minha mãe ou Damian me vissem assim.
Mas, ao me aproximar da porta da frente, uma voz familiar ecoou pelo corredor.
— Onde você esteve a noite toda, Izzy?
Congelei. Droga. Cassian.
Só meu irmão me chamava de Izzy. Cassian costumava, uma vez, quando eu gostava demais dele para impedi-lo.
Agora, isso apenas me dava arrepios.
Ele estava encostado na parede, um tornozelo cruzado sobre o outro, casual como sempre. Seu olhar percorreu meu corpo e então se fixou em meu pescoço.
— Apenas fiquei na casa de uma amiga. — Respondi friamente, passando por ele.
— Não minta, Izzy. — Disse ele, estreitando os olhos.
— Eu não menti. — Senti minha paciência se esgotando.
Eles não estavam ocupados ontem à noite? Não deveriam estar desfrutando do pós-reencontro ou seja lá o que as pessoas fazem depois de se reconciliarem com seu amor verdadeiro?
Mas então percebi que ele também tinha marcas. Fracas, mas inconfundíveis.
E ele tinha a audácia de me questionar?
— Passei meu aniversário com amigos. — Disse, exibindo um sorriso afiado. — E você não tem o direito de me interrogar, Cassian. Você é amigo do meu irmão. Não meu guardião.
Olhei por trás dele.
— Onde está Alessia? Ela não passou a noite com você?
Sua mandíbula se contraiu.
— Eu te fiz uma pergunta, Isadora. Onde você esteve ontem à noite? E de onde vieram essas marcas?
Ele assentiu em direção ao meu pescoço, sua expressão indecifrável, mas algo ardia em seu olhar.
Levantei a mão, tentando esconder as marcas.
— Reação alérgica.
Cassian riu, frio, cruel.
— Você realmente espera que eu acredite nisso? Não se faça de boba. Eu sei o que você e Damian estavam planejando. Me embebedar. Me arrastar para o seu quarto. Esperar que algo acontecesse.
Eu o encarei.
— Cassian...
— Você queria uma noite comigo, e quando isso não funcionou, saiu e encontrou algum cara aleatório para terminar o trabalho? — Sua voz caiu, carregada de desprezo. — Achei que você fosse melhor que isso, Isadora.
Minhas mãos se fecharam em punhos.
— Pare com isso. Você está sendo muito rude agora.
Mas ele não parou. Se aproximou, a voz baixa e perigosa.
— Ou o quê? Você não queria que eu me importasse? É por isso que trouxe Alessia ontem à noite, esperando que eu percebesse algo depois que você se fosse?
Eu o encarei, atônita.
Então percebi.
Cassian ainda achava que eu era aquela garota desesperada que gostava dele, então cada movimento que fiz na noite passada deve ter parecido outro truque. Outra armadilha.
Talvez ele pensasse que eu havia orquestrado tudo para fazê-lo se sentir culpado por estar com Alessia. Que eu esperava que a culpa o fizesse se apaixonar por mim.
Por isso ele me zombou assim que entrei pela porta. Ele não me via como alguém de coração partido. Ele me via como manipuladora.
Algo dentro de mim ainda se partiu. Foi uma pequena, dolorosa tristeza, porque Cassian genuinamente acreditava que eu era capaz de manipulá-lo para me amar.
Em todas as vidas, ao que parece, ele pensava tão pouco de mim.
A voz de Cassian ficou mais fria, cortando meus pensamentos.
— Como você queria, dormi com Alessia. Somos um casal agora. Oficialmente. Talvez eu até me case com ela.
Forcei um sorriso, calmo e brilhante.
— Que ótimo. Parabéns.
Sua mandíbula se contraiu como se não esperasse que eu dissesse isso.
— Então, seja qual for o jogo que você acha que está jogando. — Disse, se aproximando. — Pare. Não interfira no meu relacionamento com ela.
— Como você quiser. — Respondi, espelhando suas palavras, minha voz doce como mel.
Virei-me para voltar ao meu quarto. Mas, antes de entrar, olhei por cima do ombro e acrescentei:
— A propósito... não gosto mais de você. Então pare de se achar. Não estou interessada na sua atenção, Cassian. Cansei de brincar.
— Você...
Fechei a porta na cara dele, selando o momento com uma sensação de finalização.
Perfeito. Tudo tinha saído conforme o planejado.
Cassian conseguiu o que queria: Alessia. E agora ele não tinha razão para me culpar, nenhum rancor a guardar.
Estávamos limpos.
Contanto que eu ficasse longe dele, finalmente poderia viver minha vida em paz.
...
Um estrondo alto ecoou pelo corredor.
Abri a porta a tempo de ouvir a voz do meu irmão se elevando em fúria.
— Por que diabos a Alessia está aqui? — Damian rosnou, parado do lado de fora do quarto de hóspedes. — E você? Dormiu com ela? No meu quarto de hóspedes?
Cassian estava encostado na parede, braços cruzados, expressão fria.
— Por que tão chocado? Com quem mais eu estaria dormindo? Com sua irmã?
— Não foi isso que eu quis dizer, idiota.
— Eu estava bêbado. — Disse Cassian, preguiçosamente. — Alessia apenas... cuidou de mim.
Foi então que Damian me notou parada na porta, pálida e silenciosa.
Ele franziu a testa, confuso.
— Izzy...?
— Não estou me sentindo bem. — Disparei, recuando para o meu quarto como se estivesse em chamas.
Deus. Aquilo foi constrangedor.