Capítulo 04

Alice terminava de vestir o pijama em Aurora que brincava com um chocalho, alegre e sorridente com o brinquedo. Porém, diferente da filha, Alice se sentia estranha como se o arrepio que sentiu mais cedo, o sentimento estranho ainda não tivesse passado.

— Não se preocupe atoa, Alice... Não há com o que se preocupar... — Ela disse para si mesma, pegando a bebê no colo.

O príncipe Jaze voltou para o quarto, pronto para deitar e dormir, mas antes foi ao encontro de Alice que balançava Aurora no colo para que pegasse no sono.

Fez um carinho em seu rosto com um sorriso sincero nos lábios, sussurrando um "eu te amo".

Quando Aurora adormeceu, Alice a colocou no berço e caminhou lentamente e silenciosamente até sua cama onde Jaze já havia se deitado. Ali se aconchegou nos braços do marido.

— Espero que ela durma a noite toda, estou tão cansada...

— Se ela acordar, não se preocupe, eu a nino novamente. — Jaze sussurrou fazendo carinho nos cabelos loiros da princesa.

— Sabe... Querido... Durante o dia eu tive... Um pressentimento ruim... — Alice comentou acariciando o peitoral do marido.

— Como assim? O que sentiu?

A princesa levantou seu rosto olhando para Jaze que franzia o cenho.

— Como se... Algo ruim estivesse prestes a acontecer...

— Não diga isso... Nada vai acontecer, eu estou aqui para proteger a nossa família.

— Eu sei... Na verdade não sei porque estou sentindo isso... Deve ser bobagens da minha cabeça...

Jaze sorriu acariciando sua mulher, a olhando docemente em seus olhos, logo depois olhou para o berço onde a pequena Aurora estava, e sussurrou novamente:

— Enquanto eu estiver com vocês, eu juro que sempre as protegerei de qualquer coisa ruim. Agora vem, vem cá... Deita aqui comigo. — Ele a aproximou fazendo com que Alice deitasse em seu peito.

E ali, se sentindo melhor, Alice pegou no sono junto de Jaze.

[...]

Dentro daquele quarto pouco iluminado, estava Kalí sentada de frente para Zadack que ainda perplexo, tentava reformular seu plano.

— Você não pode fazer isso, por que vai se arriscar tanto se já tem o que precisamos para fugir daqui?

— Não vou ir embora sem tirar alguma coisa daquela princesa. Eu só perdi meu tempo com ela, já que se casou com outro homem. Mas eu vou conseguir arrancar alguma coisa de valor. Talvez sua coroa...

Kalí se levantou nervosa, coçando sua cabeça pelo nervosismo. Isso era muito arriscado, ele facilmente poderia ser pego e levado preso na melhor das hipóteses...

— Zadack, por favor...

— Vou te dizer o que vamos fazer. — Ele disse pronto a explicar o novo plano, sem dar ouvidos ao pedido dela. — Você vai ficar aqui no quarto e vai juntar algumas roupas para você, pelo menos para viajarmos até a minha caverna.

Kalí ouvia atentamente o que ele falava, nervosa, porém ansiosa para sair dali definitivamente.

— Enquanto isso, eu irei até uma das mesas dos homens e vou dar início a alguma discussão, depois quando todos estiverem discutindo e se socando eu irei sair e irei fazer o "pagamento pela noite" como se eu não tivesse causado nada.

— Mas por quê isso?

— Assim o Gerúndio vai ter que apartar a briga, expulsar alguns homens, sei lá. O importante é que ele irá sair do balcão e é nessa hora que eu vou pegar todo o ouro.

Kalí continuava ouvindo cada parte, sem perder nenhum detalhe pois tudo era importante para que o plano desse certo.

— Você irá se trocar e pôr uma roupa menos chamativa para poder ir discretamente até a porta, e logo depois vou eu. Simples e fácil.

— Como podemos ter certeza de que vamos conseguir? E se o Gerúndio não for apartar a briga? — Kalí perguntou nervosa.

— Isso não vai interferir na sua parte do plano. Se ele não fizer o previsto, eu vou ter que achar um outro jeito.

— Mas e se você não...

— Kalí, — Ele a interrompeu. — Eu sou o ladrão mais procurado de todas as regiões! E nunca me pegaram até hoje. Eu sei o que estou fazendo. Não se preocupe.

Kalí suspirou, tentando tomar coragem para fazer isso. Ela sempre lutou pela liberdade, sempre sonhou com isso, um dia ser livre sem ter a obrigação de vender seu corpo para conseguir comer um prato de comida.

Ser dona de si mesma e poder dormir sem sentir medo do amanhã. A promessa de liberdade que Zadack a fazia era o céu para ela, e tudo o que ela mais temia agora era que se tornasse o inferno se não desse certo.

A noite mais perigosa de sua vida estava começando. Kalí estava no quarto esperando a deixa para poder sair daquele lugar tenebroso.

Roía as unhas sentindo seu coração acelerado, enquanto se balançava de um lado para o outro no pique do nervosismo.

Ela já estava com sua bolsa com algumas coisas dentro. Não era muita coisa, pois precisava sair sem chamar atenção.

Ela escutou enfim o barulhão de homens brigando e gritando, e esse era o momento perfeito para sair do quarto. A essa altura Zadack já devia estar no balcão.

E como ela imaginava, lá estava o homem. Ela deu uma rápida espiada nele antes de seguir caminhando como deveria, enquanto Zadack fazia sua parte do plano.

Ele entregou o dinheiro, mas foi interrompido pelo dono impaciente.

— Ah, espere um só momento, Zadack, aqueles desgraçados vão quebrar as minhas mesas!

E dito isso, ele saiu gritando com todos, enquanto Zadack sorrateiramente fazia o que de melhor ele sabia.

Com as instruções de Kalí, ele roubou grande parte do baú que ficava escondido embaixo da bancada.

Pegando grandes quantias e as guardando, ele enfim saiu dali e foi em direção a porta enquanto todos se esbofeteavam e gritavam uns com os outros.

Saindo do estabelecimento, encontrou Kalí do lado de fora escondida, e sorrindo, ela correu até ele e então os dois começaram a correr dali.

Esse tipo de trabalho não era permitido no reino, por isso o local ficava praticamente fora dos portões da cidade, então foi fácil sair dali sem ver os guardas rondando.

Livre. Enfim Kalí podia dizer isso e sentir essa sensação.

Quando estavam a uma boa distância, ela começou a pular e levantar os braços, rodopiando e rindo contente de terem conseguido sair daquele lugar. Enquanto ela festejava, Zadack sorriu a vendo tão feliz. Ele não imaginou que ficaria tão emotivo com a cena, mas o fato é que aquilo mexeu com ele.

Mas ele ainda precisava voltar naquela mesma noite para roubar a coroa, então ele só iria instalar Kalí em sua caverna e voltaria para o reino. Mas Kalí não se lembrou disso ou sequer pensou.

— Estou tão feliz! Então esse é o gosto da liberdade? Ah! Que delícia! — Ela dizia rodopiando.

— Você não está tão livre assim... Você ainda é minha. — Ele brincou ainda sorrindo.

— Ah, mas isso é um bônus para mim!

E com isso, Kalí se enroscou no pescoço do mais alto, lhe encostando os lábios para iniciar o primeiro beijo da liberdade.

[...]

Quando chegaram a caverna, Zadack largou suas coisas e preparou uma cama para que Kalí dormisse.

— Espero que seja assim todas as noites. — Kalí brincou fazendo ele rir.

— Pronto, você pode descansar agora, deve estar exausta do caminho até aqui.

— Você também... Vem, venha deitar comigo!

Zadack diminuiu o sorriso, e Kalí percebeu isso.

— O que foi?

— Eu vou voltar para Óligun.

— Como assim? Zadack, nós já temos o suficiente!

— Eu preciso! Eu quero subir naquele quarto e roubar aquela coroa...

— Zadack... E se você for...

— Eu não vou ser pego, Kalí. Eu nunca vou ser pego.

Kalí nervosa, segurou suas lágrimas com medo.

— Não... Por favor, não vá...

Zadack se abaixou em sua frente, pegando nas mãos da mulher a olhando nos olhos.

— Escute bem, eu juro a você, que eu vou voltar vivo, e com aquela coroa. E nós dois vamos embora desse lugar, para sempre.

— Ah Zadack...

— Eu juro...

Ela o olhou por alguns segundos longos, vendo que ele não iria desistir. Então ela teria que ceder... E isso estava a machucando.

— Roube outra coisa dela então... A coroa é perigoso demais...

Zadack sorriu de lado, concordando com a cabeça, sabendo que só assim ele poderia ir a deixando mais tranquila.

Dando um beijinho na testa de Kalí, e outro em seus lábios, eles se despediram e então ele partiu de volta para o reino. Dessa vez, para roubar diretamente a princesa.

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