Capítulo 5

JOANA

Depois de uma noite mal dormida, em que fiquei acordando de cinco em cinco minutos para verificar se a febre de Rebeca tinha ido mesmo embora, acordei ouvindo alguns resmungos vindo de dentro do berço e tive que me levantar para começar o dia.

Quando olhei dentro do berço, vi minha menininha segurando um dos pés para o alto enquanto reclamava, mas logo que me viu, ela abriu um largo sorriso. Ela era tão boazinha que nem chorava quando acordava e eu não vinha logo em seu socorro.

— Bom dia, minha bonequinha!

Em resposta, ela se segurou nas barras laterais do berço e ficou de pé enquanto fazia borbulhas de saliva com a boca. Peguei-a no colo e levei até o seu quartinho, onde troquei a fralda suja por uma limpinha e em seguida, a levei sala, onde a coloquei sentada no tapete da sala, cercada por almofadas e alguns de seus brinquedos enquanto ia preparar sua mamadeira e um pouco de café para mim.

Enquanto Rebeca tomava seu leite jogada nas almofadas, aproveitei para dar uma olhada no meu celular, ainda era cedo, tdava tempo de ligar para meu chefe e informar que eu não poderia ir porque minha pequena estava doente.

Depois de cinco toques, ouvi a voz rouca de meu patrão do outro lado da linha, tentei explicar o motivo pelo qual eu não poderia ir trabalhar, mas ele nem quis me ouvir e negou logo o meu pedido de folga. Droga! Jonas era um insensível, frio e sem coração. Não era a toa que ele não tinha família e nenhum de seus parentes vinha visitá-lo.

Peguei Rebeca do tapete e voltei ao meu quarto, enviei uma mensagem rápida para minha melhor amiga apenas para avisá-la de que deixaria Rebeca na casa dela e comecei a me arrumar porque não podia perder chegar atrasada e o caminho a percorrer era longo.

Depois de vestir uma calça jeans e a minha camiseta preta favorita dos Beatles, prendi os cabelos num rabo de cavalo e passei o básico de maquiagem para parecer apresentável depois de uma noite mal dormida. Dei um banho quentinho em Rebeca e arrumei sua bolsa para passar mais um dia na casa de sua madrinha.

Por sorte, estava um dia tranquilo na cafeteria, não tinha muitos clientes então estava conseguindo dar conta sozinha, já que a outra garçonete simplesmente não tinha se dado ao trabalho de aparecer. Aproveitei a calmaria para entrar no meu email, tinha esperanças de que alguma outra vaga de emprego que eu tinha me candidatado me desse uma resposta positiva.

Quando o sininho da porta soou, deixei o celular de lado, botei um sorriso falso no rosto e me aproximei do balcão para atender mais um cliente. Fiquei paralisada no momento em que meus olhos se cruzaram com o cliente em questão. Não podia ser acreditar no que estava vendo, o médico bonitao estava de novo na minha frente. Se eu fosse uma pessoa que acreditasse em destino, diria que ele aparecer pela segunda vez para mim, era um sinal.

— Oi.

— Olá. — Tentei manter o tom profissional. — O que vai querer pedir para hoje?

— Preciso de um café forte e sem açúcar e algumas torradas com geleia.

— Pode escolher uma mesa que já vou levar seu pedido.

Ele estava ainda mais bonito à luz do dia e sem aquele jaleco branco, que lhe deixava com um ar sério. Seus cabelos estavam penteados para trás formando um topete, agora podia observar seus olhos azuis, que mais pareciam duas pedras de aquamarine de tão claros. Idênticos aos de Rebeca.

Afastei quaisquer pensamentos a respeito do médico bonitão e me concentrei em preparar seu pedido. Servi um pouco de café recém coado numa xícara e coloquei as torradas um prato ao lado de um potinho com um pouco da nossa geleia de morango caseira.

Quando me aproximei da mesa dele com a bandeja, coloquei a xícara com café à sua frente juntamente com o prato de torradas e geleia, além da comanda. Já estava voltando para o balcão quando ouvi ele me chamar, respirei fundo e virei-me em sua direção.

— O senhor precisa de mais alguma coisa?

— Só queria saber como a pequena Rebeca está.

Ok. Ele se lembrava do meu nome e do nome da minha filha, mas talvez, só talvez, fosse porque tinha ficado traumatizado de me levar até em casa, num bairro nada tranquilo.

— Ela passou a noite bem melhor depois que tomou os remédios que o senhor passou e a febre cedeu.

— Fico feliz de saber. Seu marido ficou com ela para você trabalhar?

Era impressão minha ou ele estava se metendo na minha vida? Isso era um pouco incomum de acontecer, geralmente os clientes queriam somente o meu número de telefone.

— Não senhor, eu não tenho marido. — Eu não estava nada confortável de ter aquela conversa com um cara semi desconhecido. — Minha melhor amiga é que fica tomando conta de Rebeca.

— Desculpa se estou invadindo a sua privacidade. Só fiquei curioso.

— Deseja mais alguma coisa? — perguntei tentando desviar o rumo daquele pequeno diálogo incômodo.

— Será que podemos conversar um pouco?

— Eu estou no meio do meu expediente de trabalho, senhor.

— Não tem mais nenhum cliente aqui além de mim. — Ele olhou o salão todo. — Eu juro que vai ser rapidinho.

— É melhor não.

— E se for depois do seu expediente? Podemos sair para jantar.

Ele já estava me irritando com toda aquela insistência.

— Eu não acho uma boa ideia.

— Por favor, Joana. Eu só preciso conversar com você, mas será apenas um jantar de negócios.

Ele estava praticamente implorando para que eu, uma estranha, aceitasse jantar com ele. Pensei em recusar, mas depois dele ter atendido minha filha de graça, pensei que deveria retribuir a boa ação e, segundo ele, seria um jantar de negócios, o que me deixou bastante curiosa para saber o que poderia ser.

— Tudo bem, eu aceito.

— Que horas devo te pegar? — Ele pareceu quase aliviado.

— Por volta das oito.

— Maravilha. Prefere que eu te pegue na sua casa ou aqui no seu trabalho?

— Pode me passar o endereço que eu te encontro no restaurante porque não tenho roupas adequadas aqui comigo para jantar de negócios com um médico.

— Tudo bem.

Ouvi quando Jonas me chamou da cozinha e tive que voltar para trás do balcão, não sem antes deixar o número do meu celular anotado em um guardanapo para o Dr. Alexander. Ele terminou de tomar o eu café da manhã e foi para o caixa, onde meu patrão recebeu o dinheiro e vi quando o médico bonitão foi embora.

Enviei uma mensagem para minha amiga perguntando se tinha problema de Rebeca ficar até mais tarde na casa dela porque tinha surgido um compromisso de última hora e torci para que a resposta fosse positiva. Poucos minutos depois, senti meu celular vibrar, rapidamente olhei a tela e fiquei surpresa ao ver o número desconhecido. Alex já tinha me enviado o endereço do restaurante onde eu deveria encontrá-lo.

Na hora do meu almoço, fui para o cantinho do descanso, peguei meu celular no bolso do avental e vi que tinha recebido outra mensagem, dessa vez era da minha melhor amiga.

Lili: É claro que posso ficar com a Rebeca, mas o que aconteceu?

Joana: É uma longa história, amiga. 

Lili: Pode falar que tô com tempo.

Enviei uma mensagem de áudio para minha melhor amiga explicando toda a loucura e ela ficou mais eufórica do que eu e me incentivou a ir, mas como condição, eu teria que contar tudo para ela quando voltasse para buscar a minha filha.

Tentei me concentrar nas atividades no restante do dia, mas a curiosidade não me deixava quieta. Eu precisava saber logo que negócios seriam esses que o médico tinha para tratar comigo. Será que ele me iria me propor um emprego decente ou seria algo indecente?

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