Capítulo 4

Manhã de sexta-feira – Bernardo

O despertador tocou e eu quase que pego ele e jogou na parede, não acredito que já tá na hora de acordar, parece que eu não dormi nada, parece que fechei os olhos e abri de novo e o dia amanheceu, eu só queria mesmo era ficar na cama dormindo o dia todo, mas não posso, preciso ir resolver os problemas que não resolvi ontem... é, eu estou ficando velho mesmo, antes eu aguentava um dia e uma noite acordado, mas agora, agora eu chego em casa morto todos os dias... claro, meu trabalho antes era só m****r e m****r, e ver os outros fazendo o que eu mandava, mas agora não, agora eu tenho que me empenhar, na verdade o que eu tinha nem era trabalho, era escravizar os outros, principalmente as mulheres, e depois eu me divertia com algumas delas, desde quando isso é trabalho? Enfim, isso já acabou, agora eu tenho mais é que me matar trabalhando mesmo pra da a minha esposa e minhas filhas tudo que elas merecem.


Me levantei quase que me arrastando da cama e fui tomar um banho gelado pra acordar, depois me vesti como sempre e desci pro café.


As meninas já estavam tomando seu mingau junto com Lena.


- Bom dia pra minhas pequenininhas! Digo entrando na cozinha... Bom dia Lena.

- Bom dia Bernardo... diz ela.

- bom dia papai... respondem as duas.

- quem vai dar mingau pro papai? Pergunto e as duas levantam a mãozinha... que beleza, assim o pai fica fortão pra trabalhar... digo dando um beijo em cada uma.

- cadê a mamãe? Pergunta Laura.

- está dormindo ainda, mas daqui a pouco ela vem.

- papai me leva com voxe hoje? Disse Lívia.

- pai não pode princesa, mas outro dia o pai leva... digo me servindo.

- Bom dia meus amores... diz Manu entrando na cozinha.

- Bom dia mamãe! Elas dizem.

- mamãe diz pro papai me levar com ele hoje... disse Lívia.

- seu pai não pode te levar, ele tem muito trabalho filha... diz Manu.

- pufavo, eu julo que fico quetinha... diz ela e eu me levanto.

- hoje não dá princesa, pai promete que leva outro dia... digo pegando ela no colo e dando um beijo.

- papai eu também... diz Laura esticando as mãozinhas, e eu a pego também.

- minhas princesinhas vão se comportar bem? Pergunto.

- siiiiim! Elas dizem.

- então vou trazer uma surpresa pras duas... digo.

- Obaaaa! Elas dizem me abraçando.

Como era bom esse carinho, posso dizer que não há nada melhor no mundo do que ser pai, elas me fazem querer ser melhor todos os dias, pra elas, por elas, esse amor de pai é algo que eu nunca vou poder explicar.

- agora o pai já vai... eu digo colocando elas no chão... até mais tarde amor... digo dando um beijo em Manu.

- até lindo... ela diz.


Despeço-me de Lena e saio...

20 minutos depois eu já estava na empresa, subo até minha sala e entro na mesma, minutos depois minha secretária diz que tem uma pessoa querendo me ver, mas não quis se identificar, só disse ser um velho amigo... quem seria? Pedi que ela deixasse entrar, e para a minha surpresa era o filho de Rogério Torre, que foi meu cliente na época das minhas casas de luxo, se não me engano o nome dele era Pedro… claro, aquele Pedro que quase teve Manuela com ele, se não fosse aquele alarme de incêndio que eu disparei, disso me lembro muito bem, ali eu já morria de ciúmes dela e de amor também.


- Bom dia Bernardo, lembra do seu velho amigo não lembra? Ele disse.

- Bom dia Pedro... claro, como não... digo me sentando em minha cadeira.

- está surpreso com a minha visita?

- um pouco, mas diga, porque veio?

- Bom, eu vim porque preciso de umas dicas suas... ele disse.

- Dicas? Sobre? Pergunto.

- Sobre como ser um cafetão bem sucedido, ou melhor, como ser o melhor cafetão que a cidade do Rio de Janeiro já teve, e fazer isso às escondidas sem que ninguém soubesse... ele disse.

- como você pode perceber Pedro, eu não sou mais um cafetão, agora eu sou um arquiteto, e se você não está querendo saber sobre construção eu peço que você se retire... eu digo e ele dá risada.

- não seja mal educado Bernardo, não se trata assim os velhos amigos.

- é que, realmente eu não posso te ajudar uma vez que eu não tenho a vida que eu tinha antes... eu disse.

- eu só vim pedir a sua ajuda porque acabei de comprar as suas antigas casas de luxo, e agora eu to no seu lugar, faço exatamente o que você fazia antes, mas preciso de descrição, então eu vim pra que você me ajudasse.

- eu sinto muito, mas sobre esse assunto eu não falo mais, e nem me interessa falar.

- eu fiquei sabendo que você se casou com uma de suas submissas e que agora tem duas filhas lindas... disse ele e eu fiquei nervoso.

- é, foi isso, mas não estamos falando nem da minha mulher e nem das minhas filhas... eu digo.

- quer saber... eu te espero na minha casa de luxo do centro hoje a noite, que você conhece muito bem o caminho, pra conversarmos melhor... diz ele.

- é melhor esperar sentado Pedro... digo.

- pois eu acho melhor você ir, porque senão eu serei obrigado a ir na sua casa e será um prazer conhecer suas filhas e rever a sua esposa linda... disse ele e eu respirei fundo de raiva.

- deixa minha família fora disso Pedro... digo.

- então vá até lá, e aí eu resolvo com você.

- ok, estarei lá... digo.

- ótimo Bernardo, até lá então... diz ele saindo da sala.


Desgraçado! Eu penso... o que ele quer? Porque veio me procurar depois de anos? Eu não tenho mais nada a ver com aquelas malditas casas, e nem quero voltar a ter, mas não posso correr o risco dele fazer algo com Manuela e com minhas filhas, esse maldito não vale nada, é envolvido com muitas coisas e pode fazer mal a minha família, o jeito é ir, mas ir prevenido pois boa não vai ser essa conversa com ele.


Depois da visita desse maldito eu mal consegui me concentrar no trabalho, e os problemas que eu já tinha só deixei juntar com os outros que eu não consegui resolver hoje porque minha cabeça não parava de pensar no que me esperava... de jeito nenhum Manuela pode saber disso, terei que inventar uma desculpa pra sair, mas que droga, isso de novo na minha vida não, eu nem queria passar perto da onde era essa casa, quanto mais voltar a ir lá, as lembranças não eram boas, eram as piores possíveis, e agora encarar tudo de novo? Não sei se consigo, se posso, se vou aguentar, ainda mais se lá ainda tiver alguém que um dia eu fiz mal.

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