Cometa cheirou meu cabelo me fazendo rir. Isso sempre faz cócegas.
— Você está muito nervoso. Sabia que os cavalos sentem isso?
— Sim, mas ele...
— Ele gostou de mim. Pode morrer de ciúmes agora!
Guilherme riu quando falei isso e eu sorri.
— É a primeira.
— Segunda, ele já gosta de você. Não dá para entender isso, mas tudo bem.
— Você é implicante mesmo hein!?
— Ainda não viu nada — falei sorrindo e ele sorriu. Sorrindo é mais bonito ainda... Para com isso, Daniela! Que droga! Foco no cavalo!
— Vou te mostrar o resto.
— Tudo bem.
Segui Guilherme e ele mostrou os outros cavalos e o lugar onde eles passeiam e pastam. Paramos e ficamos observando o enorme lugar. Subi na cerca e me sentei para observar melhor. Senti que ele me encarava e olhei para o lado. Tinha uma sobrancelha levantada.
— O que? Que droga! Por que fica me encarando tanto?
— Não é nada demais. — Deu de ombros.
— E o que é então?
— Você parece bem mais à vontade aqui fora.
— E estou mesmo — falei olhando o horizonte.
Guilherme subiu na cerca para minha surpresa e se sentou ao meu lado.
— Eu também fico.
— Hum...
Ficamos em silêncio olhando o lugar. Ele é estranho... Ontem parecia ser o cara mais chato do universo e agora está tão legal. Dizem que a primeira impressão é a que fica, não é? Por isso vou continuar implicando com ele.
— Posso montar o Cometa?
— De jeito nenhum!
— Por quê?
— Você pode se machucar. Ele pode até ter sido simpático com você ali dentro, mas aqui pode te derrubar.
— Mas ele gostou de mim.
— Não.
— Você é um chato! — resmunguei.
— Tem outros cavalos lá dentro. É só escolher um e pode montar à vontade.
— Por que você não o monta então?
— Pra que? — Ele me olhou desconfiado.
— Quero ver se vocês têm sintonia.
— É claro que sim.
— Então mostra — desafiei.
Ele ficou me olhando em silêncio um longo momento. Senti vontade de desviar o olhar e não sei o motivo, mas me segurei e retribuí o olhar.
— Tudo bem. — Desceu da cerca e seguiu para onde o Cometa estava.
— Esperarei aqui.
Escutei uma leve risada e ele saiu de perto. Continuei olhando o horizonte enquanto ele não aparecia.
Um tempo depois ele apareceu puxando o Cometa. Fiquei observando ele fazer carinho na cara do cavalo e depois subir com uma maestria incrível. Eles combinam muito bem. Cometa é um cavalo lindo e Guilherme... Bem, ele é muito bonito também e os dois juntos ficaram perfeitos.
Cometa começou a correr pelo cercado e eu sorri quando vi Guilherme me olhando. Ele sabe mesmo o que faz. Mas é muito exibido!
Quando cansou de correr, ele tirou a sela de Cometa e o deixou solto, pastando. Logo se sentou ao meu lado de novo.
— E aí, o que achou?
— São uma dupla incrível.
— Você não quer montar?
— Você não quer me emprestar seu cavalo — falei carrancuda.
— Eu não vou deixar você fazer isso! Ele pode te machucar.
— Você não quer aceitar que ele gosta de mim, isso sim. Está com ciúmes porque ele nunca me viu na vida e me adorou
Guilherme riu.
— Pense o que quiser. Eu não quero ter que te levar a hospital nenhum depois dele te jogar no chão.
Enquanto a gente discutia, nem vimos que o Cometa se aproximou. Só notamos quando ele já estava ao meu lado. Guilherme segurou meu braço de novo, me apertando com força. Não me mexi e nem fiquei com medo. Ele está exagerando! Esse cavalo é manso! Cometa se aproximou de mim e cheirou meu cabelo de novo. Soltei uma risada e Guilherme afrouxou o aperto. Cometa cheirou minha mão e passou o focinho, pedindo carinho. Acariciei seu focinho e ele mexeu as orelhas para frente e para trás.
— Definitivamente eu não te entendo.
— Eu? — perguntei confusa.
— Ele. — Apontou para o cavalo.
— O que tem?
— Muitas pessoas dizem que o Cometa é um cavalo indomesticado.
— Jura? — falei olhando o cavalo todo carinhoso comigo.
— Sim. Só eu consigo montá-lo.
— Se você deixasse, eu também conseguiria.
— Quer parar de falar disso? Eu não vou deixar e acabou! — falou irritado.
— Chato — resmunguei e ele respirou fundo.
Cometa cheirou meu cabelo de novo e eu me encolhi por conta da cosquinha. Ele se afastou e balançou a cabeça. Arregalei os olhos quando Guilherme se aproximou e cheirou meu cabelo também.
— O que pensa que está fazendo? — falei histérica.
— Estou vendo o que tanto ele te cheira...
— É cavalo agora? — perguntei cínica.
— Não, mas deve ter um cheiro bom que atrai ele a todo momento.
Olhei para ele chocada e ele sorriu. Desviei o olhar rapidamente.
Por que me arrepiei inteira com a proximidade dele?
***
Estávamos sentados à mesa jantando. Não me atrevi a abrir a boca para falar absolutamente nada! Não sei o que foi aquela cena com Cometa e Guilherme lá no estábulo e não gosto de pensar nisso...
— Está tudo bem? — perguntou Alessandro.
— Sim.
— Parece chateada.
— Só estou cansada.
— Certo. Quero que leve ela para passear amanhã Guilherme.
— Por quê?
— Vai ficar aqui presa? Não, ela tem que sair.
— E por que eu tenho que levar? — perguntou carrancudo.
— Assim você sai também.
— Se ele não quiser me levar, você pode deixar Marcos ir comigo — falei com um largo sorriso. Alessandro riu.
— Pode ser.
Fiz sinal de vitória com a mão e Guilherme franziu a testa.
— Não quer que eu vá?
— Você já deixou claro que não quer ir.
— E se eu mudar de ideia?
— Você que sabe, mas o Marcos vai me levar de qualquer forma.
— De onde conhece ele?
— Do dia em que me ajudou com minhas malas.
— Ontem — disse com as sobrancelhas levantadas.
— O que tem de mau nisso?
— É filho, o que tem?
Ficamos em silêncio esperando a resposta dele. Percebi que ficou incomodado com o nosso olhar.
— Não tem nada — respondeu olhando sua comida.
— Vou falar com Marcos e ele te leva onde você quiser.
— Onde eu quiser é vago, não? Eu não conheço nada aqui.
Guilherme deu uma risada e eu o olhei carrancuda.
— Conheço um lugar muito bom — disse sorrindo. Não sei porque, mas não gostei desse sorriso...
— Ótimo! Combinado então! Marcos vai levar vocês dois nesse lugar que você conhece, filho.
Suspirei e continuei comendo para não falar besteira.
Depois do jantar, cada um foi para o seu quarto. Eu não podia me sentir melhor por Alessandro me deixar livre e ainda oferecer para sair. E principalmente me deixar dormir em um quarto sem a presença dele. Mas também é maravilhoso não ter obrigações com ele. Principalmente conjugais... Me tremo inteira só de pensar nisso. Imagina se ele resolve se aproveitar disso? Ainda não nos casamos e eu tenho medo de que depois de assinado, ele queira que seja sua mulher sim.
Como se já não bastasse ser obrigada a me casar, se for obrigada a perder a virgindade com esse homem, não vai ser agradável.
Aí terei que entrar em ação com meu plano de infernizar todo mundo.