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Meus dias ali naquele lugar foram só ladeira a baixo, Filipo me ignorava e passava a maioria do tempo, fora, eu me tranquei naquele quarto e tentava arrumar algum jeito de sair daquela situação.

No último dia da "Lua de mel" resolvi sair para caminhar e olhar o local onde estava, peguei uma bicicleta que ficava na porta de nosso quarto e fui passear pelas proximidades do hotel.

A praia era linda, a mais bela que já vi na minha vida, para falar verdade, o local que estava, tinham pouquíssimas pessoas, então pedalei por mais alguns minutos, e de longe, vi algo que me chamou a atenção.

Mesmo que estivesse longe, eu o reconheci, Filipo estava sentado, próximo ao que parecia ser um bar beira-mar, ele bebia e conversava ao telefone.

Sua feição era feliz, parecia estar curtindo a férias dos sonhos, não parecia ter nenhum resquício de remorso, por me deixar sozinha no hotel, deixei a bicicleta de lado e fui ao seu encontro, ao me ver, se despediu da pessoa com quem falava ao celular e mudou sua feição, como se minha presença ali, tivesse acabado com seu bom humor.

— O que faz aqui? — Disse num tom arrogante.

— Estou conhecendo o lugar, já que iremos embora amanhã.

— Então continue em sua tour. — Falou, colocando sua bebida na boca e me ignorando por completo.

— Filipo. — Chamei sua atenção, não sei se o que queria falar seria certo, mas como fiquei iludida todo esse mês, queria muito que nosso casamento desse certo, ele voltou seu olhar para mim, esperando que falasse.

— Eu sei que nosso casamento é por conta de negócios, mas, já que teremos que ficar juntos, por que não tentamos fazer isso tudo dar certo? Sei que não gosta de mim, mas se me der uma chance, posso mostrar que sou uma pessoa, por quem você possa se apaixonar futuramente.

Entretanto, diferente da atitude que pensei que ele teria, apenas começou a rir.

— Você acha mesmo, que me apaixonaria por uma mulher como você? Quão patética está sendo, se tivesse noção das mulheres com quem costumo me relacionar, veria o quão sem graça você é, além de tudo, esse seu jeito de chorar por tudo, me incomoda, então mais uma vez, deixarei bem claro, que não há nenhuma possibilidade deste casamento dar certo, você nunca, em hipótese alguma, seria o tipo de pessoa com quem me casaria realmente.

— Então, por que resolveu aceitar toda essa farsa? — Lágrimas caiam de meus olhos.

— Negócios, minha querida, negócios!

Levantou-se de onde estava e foi caminhar, me deixando mais uma vez, totalmente sozinha e vulnerável.

Voltei para o hotel desconcertada, e me doía de mais ser deixada de lado e desprezada desse jeito, queria fugir dali, mas para todo o lado que olhava, me via perdida, vi que todo o dinheiro que eu tinha em minha conta, havia sumido, todos meus cartões estavam bloqueados, meu pai planejou tudo perfeitamente, ele sabia que esse tipo de coisa aconteceria e que eu tentaria fugir, mas não havia como, sem dinheiro, não dava para ir a lugar algum, ele jamais me aceitaria de novo em casa, e não havia nenhum familiar que me ajudaria, pois tinham medo da influência que meu pai possuía.

Depois do fracasso que foi a minha lua de mel, fomos para a nossa casa, se é que eu poderia chamar assim, aquilo eu chamaria de inferno, pois seria o meu pesadelo durante três longos anos.

Meu pai me mandou uma mensagem, me deixando claro que se eu me separasse, me deixaria sem um tostão e na rua, o que me fez realmente desiludir de toda a minha vida, isso me fez crer que fui criada para isso, acho que essa foi a única utilidade que meu pai encontrou para mim e se eu não desse continuidade a seus planos, não serviria para nada.

Filipo não olhava nem na minha cara, e em momento algum, me dirigia a palavra, ele parecia mais um hóspede na casa, que eu mal via no cotidiano, a única pessoa que me fazia companhia, era Maria, uma funcionária, responsável por cuidar da casa.

Quando cheguei da fracassada viagem, fui para meu quarto e arrumei minhas coisas no meu closet, que era enorme, com minhas roupas, todas renovadas, tudo era novo, porque eu planejava impressionar meu "marido", achando que minha nova vida seria perfeita, que iludida que fui!

Filipo já havia dado ordens a Maria, para arrumar suas coisas em outro quarto, menos mal que seria assim, me sentiria péssima, tendo que partilhar a mesma cama com ele todas as noites.

Nossa casa ficava num dos bairros mais ricos da cidade, e por mais que fosse horrível a ideia do casamento, me sentia livre em relação à casa de meus pais.

Filipo não me impedia de sair ou trabalhar, na verdade, parecia que eu nem morava naquela casa, já que era ignorada por ele na maior parte do tempo, quando passava por mim, parecia que passava por um móvel ou enfeite da casa, era como se eu me tornasse invisível, me magoava demais, saber que ele não quis nem dar uma oportunidade para tentarmos ser felizes, meu peito doía, meu coração estava dilacerado, nada podia tirar esse sentimento de dentro de mim, e o pior, estava sozinha, não podia desabafar com ninguém, não tinha nenhuma amiga, já que todas as pessoas que conhecia não passavam de meros conhecidos .

O tempo passava, e Filipo já havia começado a trabalhar na empresa do meu pai, e iria ser o novo Ceo de tudo em breve, graças a mim, e o ingrato nem para me tratar bem, por agradecimento, fazia.

Por meses, as coisas foram assim, e por mais que soubesse que ele não me amava, queria que nosso casamento desse de alguma forma certo, já estávamos ali, não podíamos nos separar, por que não tentar manter uma boa relação? E, no fundo, me sentia mal, pois ainda estava gostando dele.

Com o tempo, ele começou a chegar sempre tarde em casa, com cheiro de bebida forte, às vezes chegava nervoso, me dando piadas, caso eu tentasse conversar com ele.

Um dia, ele dormiu fora de casa, e chegou todo ignorante, me respondeu todo grosso, só porque resolvi perguntar onde ele havia pernoitado.

— Onde você passou a noite?

— Estava em reunião.

— Que reunião é essa, que acaba no outro dia?

— A reunião que acaba com uma bela mulher na minha cama! — Sorriu todo cínico.

Sua resposta me pegou de surpresa, sabia que nosso casamento era de fachada, mas não esperava que ele fosse tão sincero, em dizer que estava me traindo.

— Escuta aqui, você não pode me trair, entendeu? Eu não faço isso e exijo que me faça o mesmo, pelo menos, até esse maldito contrato acabar!

— Esse casamento nunca vai acabar, você é burra demais em pensar desse jeito. E sobre isso, é melhor ficar quietinha, eu sou homem e tenho minhas necessidades, acha que consigo ficar tanto tempo sem sexo?

— Você devia ter pensado nisso antes, se não queria nada comigo, era só não aceitar esse maldito casamento, eu exijo que me respeite, está ouvindo?

— Escuta aqui, quem você pensa que é, para dizer o que eu devo e não devo fazer?

— Se aproximou, segurando meu braço.

— Me solta, você está me machucando! — Ele soltou imediatamente.

— Eu vou dizer pela última vez, não se mete na minha vida, faz o seu papel de boa esposa, que eu faço o meu, e nem pense que daqui a três anos, você vai se ver livre de mim, pois já tratei pessoalmente com o meu sogrinho, que iremos renovar nosso contrato para o resto de sua vida, esqueceu-se de que prometeu que é até que a morte nos separe?

— Isso é uma ameaça?

— Não, só estou dizendo, que nosso casamento irá durar para a vida toda.

— Você não pode fazer isso! — Falei desesperada, não acreditava no que estava ouvindo, meu pai teria coragem de sacrificar minha vida por conta de dinheiro? Mas que pergunta absurda, é claro que ele faria, eu era moeda de troca para ele.

— Filipo, me ouça, eu não vou deixar que isso aconteça, está me ouvindo? Se aceitei este casamento, foi porque achei que você estava sentindo o mesmo que eu. E se estou nesta casa hoje, é porque você e meu pai planejaram tudo muito bem, não me deixando nenhuma escolha, irei respeitar esse tempo de três anos para não manchar o nome de minha família, mesmo que eles não estejam merecendo, seria um escândalo nos separarmos, dias após nos casarmos, até a minha reputação, estaria em jogo com isso. Mas quando esse contrato acabar, eu irei embora, independente do que você e meu pai resolvam! — Falei tudo gritando.

— Isso é o que veremos. — Me deixou sozinha e foi para seu quarto.

Eu não podia acreditar, depois de tudo que estou vivendo, mesmo meu pai sabendo que não estou feliz, morrendo de saber o que se passava na minha casa, ele teria a coragem de renovar o contrato? Eu não iria deixar isso acontecer.

Arrumaria um emprego, ganharia meu próprio dinheiro, e pouparia tudo nesses três anos que estivesse morando aqui, já que não tinha despesa com nada, iria guardar o que pudesse, para quando esse contrato acabar, ir embora daqui e não precisar voltar para a casa de minha família, nem precisar do dinheiro de meu pai.

Em meu quarto, com meu computador em mãos, procurei por empresas que estavam contratando na área em que havia estudado, por mais que não gostasse muito, foi o que acabei aprendendo a fazer, nesses cinco anos de faculdade, mas nenhuma delas estavam aceitando quem não tinha experiência.

O jeito, era tentar ser estagiaria em alguma delas, não era possível, que até quando saísse de casa, não conseguiria um bom emprego, tentaria de tudo, o que não podia fazer, era deixar que esse casamento fosse adiante, depois do tempo limite, se meu pai tentasse me impedir, eu jogaria tudo para o ar.

Se ele achava que o dinheiro era mais importante do que eu, então eu não teria que ter nenhuma consideração por ele, era a minha vida que estava em jogo.

Me senti uma tola, por todo esse tempo, nunca ter me preocupado com meu futuro, sempre vivendo as custas da minha família, nunca me preocupei com dinheiro já que tudo era me dado nas mãos, agora, entendo o porquê, eles usaram isso tudo para me manipular, e conseguiram direitinho.

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