Leonardo largou a guitarra no suporte e desceu do palco, sentindo o suor escorrer pelo rosto e a garganta arranhada pela entrega.
O show havia sido um sucesso estrondoso; a multidão ainda gritava seu nome lá fora, mas, por dentro, ele carregava um vazio que nem toda aquela energia conseguia preencher.
No backstage, as palmas ainda ecoavam quando algumas crianças, segurando bloquinhos e canetas, se aproximaram, tímidas. Nick sorriu, incentivando-as a chegar mais perto.
— Olha só quem veio pedir autógrafo, Leo — disse ele, piscando para o amigo.
Leonardo sorriu, cansado, e se agachou para assinar os papéis. Seu sorriso era gentil, mas seu coração doía.Queria muito que o filho estivesse ali.
Uma menininha de olhos castanhos o abraçou apertado, e ele quase perdeu o equilíbrio.
— Obrigado, mocinha — ele disse, tocando delicadamente o cabelinho dela.
Clara, que vinha logo atrás, cruzou os braços e fez uma careta de desagLeonardo encarava Clara, com as emoções fervendo. Como ela tinha coragem de tomar uma decisão dessas sem falar com ele?Clara estava sentada no sofá, calculando mentalmente como convencer o marido, mas agia como se o mundo estivesse perfeitamente em ordem.— Precisamos conversar — disse, sem rodeios, fazendo um sinal para dispensar a equipe. — Já falei com a Amanda. Assim que voltarmos, vamos direto para São Paulo. A casa já está organizada.Leonardo franziu a testa.— Como assim? Eu não falei que queria voltar para São Paulo.Clara suspirou, como quem fala com uma criança teimosa.— Léo, a temporada em Campinas não fez bem para a gente. Desde que fomos para lá, tudo virou uma confusão. Processos, fofocas, uma possível exposição desnecessária... Eu só quero recuperar a paz
Leonardo sentia o ar mais leve desde a discussão com Clara. Pela primeira vez em anos, não havia nada a perder em sua decisão — apenas a convicção de que precisava mudar de rumo.A conversa tensa, os olhos dela faiscando de ódio, as palavras cortantes... tudo ainda ecoava em sua mente. Mas ele não voltaria atrás.Na manhã seguinte, convocou uma reunião emergencial com a equipe da turnê.— Quero encerrar mais cedo — sua voz era firme, o olhar decidido. — Tenho algo importante em Campinas daqui a algumas semanas, e não vou chegar em cima da hora. Quero estar lá com tempo, quero estar inteiro.Ninguém ousou questionar. Mas sabiam que Clara reagiria.Ela apareceu minutos depois, os saltos ecoando como uma marcha de guerra pelo corredor. Entrou sem bater, os olhos vermelhos, porém frios.— Desculpem o atraso. Qual &e
Jéssica estava concentrada, preenchendo o sistema com as informações dos pacientes, quando foi surpreendida pela voz suave de Jonathan atrás dela.— Trabalhando muito, doutora?Ela se virou com um sorriso cansado.— Sempre. Mas hoje o sistema resolveu colaborar, então estou adiantando tudo antes que mude de ideia.Jonathan se sentou em uma das cadeiras ao lado, deixando o crachá pendurado no pescoço balançar levemente.— E em casa, como estão as coisas? Faz tempo que não vejo os pequenos.Jéssica suspirou fundo, sem conseguir disfarçar o cansaço emocional.— Complicadas. Desde que o Leonardo apareceu, a dinâmica da casa mudou muito. Ele semeou tanta discórdia que as crianças se sentem o tempo todo injustiçadas... Ninguém fala, mas fica evidente que é isso que todo mun
Mais tarde, com as crianças já dormindo, Jéssica e Hugo desfrutavam de seu precioso momento a sós.O ambiente estava acolhedor: luz baixa, música suave preenchendo o espaço e duas taças de vinho repousando sobre a mesinha de centro.Jéssica estava estendida no sofá, com os pés no colo de Hugo, que os massageava com carinho.— Eles estão mais leves, né? — comentou ela, soltando um suspiro relaxado. — Hoje foi tão diferente.— Estão. Parece que, mesmo com tudo o que o Leonardo tentou fazer, não conseguiu afastá-los de nós — ele respondeu com um sorriso calmo, focado nos movimentos delicados nos pés dela.— E pensar que eu cheguei a ter medo real disso... que ele plantasse uma dúvida tão profunda que os fizesse se virar contra a gente. — Jéssica se sentou para
Leonardo chegou em casa com a sensação de pertencimento pulsando nas veias. Estava feliz por estar de volta, especialmente por reencontrar Breno.Não quis perder tempo. Depois de um breve descanso, seguiu direto para a escola onde funcionavam as aulas do projeto.Queria ver com os próprios olhos como as crianças estavam se desenvolvendo e sentir, de novo, que estava fazendo parte de algo bom.Enquanto isso, Clara tomava uma decisão. A aproximação recente de Leonardo e Jéssica acendeu em seu interior um alerta que ela não ignoraria.Era hora de ver, com os próprios olhos, quem era Hugo — e entender exatamente com o que estava lidando.Juntou bastante coragem para chegar ao Grupo Novaes de surpresa, mas foi imediatamente impactada pelo que viu.A fachada imponente, o ritmo coordenado dos funcionários, a aparência organizada e sofisticada do ambiente
— Eu não permito que você se refira a ela dessa maneira! — Hugo tremia, tentando permanecer calmo.Clara tentou manter a compostura, mas por dentro algo se rompia. Cada elogio de Hugo a ela era como um punhal ferindo sua carne, afiando ainda mais o ódio que fervia em seu peito.Ele falava como se ela fosse uma santa, alguém acima de Clara em alguma coisa. Mas não ia dar o gostinho de se mostrar vulnerável. Não agora.Ela sorriu, um sorriso mal esboçado que mais parecia uma careta de desgosto. Sentou-se na cadeira de Hugo como se já fosse sua, com a postura de quem dominava a sala.— Você a elogia agora, Hugo? — A voz dela era gelada, sarcástica. — Preciso me lembrar dessa sua sinceridade... não acho que ela tenha algum atributo. Aliás, ela não passa de um nada, mas não vim aqui para brigar.Ele a observou, sem uma palavra. Ela
Clara refrescou o rosto com as mãos trêmulas, tentando conter o pânico que lhe queimava o estômago.A sala estava silenciosa, exceto pelas notificações insistentes pipocando no celular sobre a “treta do ano”, como os portais de fofoca estavam chamando o escândalo.— Achei que essa maldita cidade não tinha paparazzi! — resmungava, andando de um lado para o outro com o celular nas mãos.Ela acreditou, com toda a convicção do seu ego, que o público a defenderia. Que veriam a cena com Hugo como um caso clássico de violência doméstica.Que diriam “coitada da Clara” e cancelariam o homem que a empurrou porta afora. Mas a internet não era feita apenas de empatia — era feita de memória.Vídeos antigos vieram à tona tão rápido quanto foram esquecidos. A “fuga
Jéssica acordou às 5h40 com um barulho alto vindo da cozinha. Garantiu que Breno continuasse dormindo e foi ver o que estava acontecendo. Já podia prever a situação: Leonardo tinha chegado bêbado novamente. Essa situação se tornou frequente desde que se casaram.— Bom dia. — disse ela, chegando na cozinha para confirmar seu palpite. O marido estava caindo de bêbado. Mal se aguentava em pé. Tentava pegar um copo d’água, mas, apoiado na porta da geladeira, balançava muito e quase derrubou tudo o que tinha lá dentro. Um barulho que certamente acordaria o bebê.— Para com isso! — ela o sentou na cadeira e pegou a água para servi-lo, a fim de evitar o pior.— Meu anjo, Jéssica... — ele falava com a voz embargada pelo álcool. Não dava para saber se estava elogiando ou debochando da esposa. Ela o servia em partes para evitar o escândalo e, em parte, porque realmente acreditava que esse era o dever de uma boa esposa.— Qual é o problema com esse seu trabalho? Você é o único da banda que chega