Aurora e eu repousávamos lado a lado no hospital da matilha.

O ambiente estava envolto em um silêncio denso.

Ela devia ter escutado o furioso desabafo de Alexander.

Aurora se esforçou para se sentar, então estendeu a mão e segurou a minha.

Seu rosto, antes vibrante, agora estava pálido como a luz da lua, desprovido de cor por conta da intoxicação de prata. As palavras cruéis de Alexander haviam trazido novas lágrimas aos seus olhos.

Essas lágrimas caíram sobre as costas da minha mão enquanto ela sussurrava:

— Se ao menos nunca tivéssemos nos unido aos gêmeos Alfas.

Ela estava preocupada comigo, mas eu estava mais preocupada com ela.

Ela já havia sido a Beta fêmea mais promissora da matilha, destinada a ocupar os postos de elite dos guerreiros.

Agora, por causa da intoxicação de prata que a impedia de se transformar, seria rebaixada ao status de Ômega.

Abri a boca para consolá-la quando a chamada de seu companheiro veio através do celular.

— Meu irmão disse que a Aria quer interromper a gravidez? Foi você quem a convenceu? Não conseguem parar de ser histéricas por um dia? — A voz de Ethan estalou pelo alto-falante.

— E já te avisei ontem que estava rastreando os lobos que sequestraram a Vicky. Isso é importante. Já te falei para não me incomodar. Está surda?

— Eu não sei por que nos unimos com vocês duas no início. Sempre tramando juntas, ameaçando divórcio e interrupção! Quem vocês acham que estão assustando? Se querem ir embora, então vão. Ninguém está implorando para que fiquem!

A chamada foi abruptamente encerrada.

Aurora apenas sacudiu o celular e deu de ombros para mim, tentando parecer indiferente.

Mas então, seus olhos se encheram de lágrimas novamente.

Apertei sua mão fria e disse:

— Não fique assim. Estamos vivas, isso é o que importa. Talvez não fôssemos destinadas a ficar juntos. A Deusa da Lua está nos mostrando que precisamos nos separar.

— Vamos descansar por agora. Quando estivermos mais fortes, sairemos daqui. Isso está bom para você?

Aurora engasgou com um simples “Tudo bem.”

Finalmente, incapaz de segurar mais, as lágrimas começaram a cair em grandes gotas de seus olhos.

Ela se inclinou contra o meu ombro, e nos abraçamos, chorando incontrolavelmente. Medo, raiva e desgosto, emoções que tínhamos reprimido por tanto tempo, finalmente se soltaram.

Pensamos que tínhamos encontrado nossos companheiros destinados, mas, em vez disso, encontramos nada além de miséria.

Lembrava-me de quando me uni à Alexander. Toda a matilha invejava como minha irmã Aurora e eu nos unimos aos gêmeos Alfas.

— Duas irmãs unidas a dois irmãos, essa é a maior bênção da Deusa da Lua. — Diziam.

— A união dupla perfeita para fortalecer os vínculos sanguíneos da matilha.

Lembrei-me do dia em que Alexander realizou a cerimônia de união. Como seus olhos brilharam com o que eu pensei ser amor enquanto ele me marcava. Como Ethan olhou para Aurora com a mesma devoção. Como acreditamos que os gêmeos Alfas nos protegeriam para sempre.

Mas a bolha de felicidade estourou três meses atrás, quando a meia-irmã dos gêmeos, Victoria, rompeu o vínculo com seu companheiro.

Alexander começou a ignorar minhas ligações e passou todas as noites patrulhando as fronteiras.

Ethan estava ainda pior, bebendo pesadamente todas as noites e participando de reuniões intermináveis da matilha sem Aurora.

Foi só então que minha irmã e eu percebemos a verdade: nossas uniões não passaram de vingança dos gêmeos contra Victoria.

Todas as declarações de amor, todas as promessas de "para sempre", nada mais do que cálculos egoístas dos irmãos gêmeos!

Eles diziam que Victoria era "apenas uma meia-irmã", mas, na realidade, ela era a única que os gêmeos realmente amavam.

Que patético que Aurora e eu tivéssemos sido enganadas por tanto tempo.

Observamos em silêncio enquanto eles recebiam Victoria de volta na casa da matilha, os dois irmãos de repente atentos e carinhosos de maneiras que nunca haviam sido conosco.

Dois poderosos Alfas negligenciando seus deveres de matilha, ignorando suas companheiras grávidas, sem se preocupar com seus herdeiros. Tudo isso enquanto giravam em torno de Victoria como luas ao redor de um planeta.

Esses três meses, Aurora e eu tecnicamente tivemos companheiros.

No entanto, não houve surpresas nas datas especiais, nem flores, nem romance.

Eles estavam fisicamente presentes, mas o amor deles não estava em lugar nenhum.

Ignoramos o óbvio: o afeto deles havia se voltado para outro lugar.

Ou talvez, nunca tenha existido amor algum!

A Deusa da Lua devia ter rido da nossa ingenuidade.

— A curandeira disse que a prata danificou permanentemente a minha loba. — Sussurrou Aurora contra meu ombro. — Nunca mais vou me transformar.

Acariciei seus cabelos suavemente.

— E eu nunca mais vou conceber.

— Parece que ambas perdemos as partes mais preciosas de nós mesmas por companheiros que não mereciam a gente.