— Não vou pedir desculpas.
Minha voz cortou o burburinho da multidão.
Damien congelou. — O que você disse?
— Eu disse que não vou pedir desculpas.— Apontei para um prédio próximo. — Há um cristal de memória de segurança naquele prédio. Ele grava tudo. Que tal revermos as imagens?
A cor sumiu do rosto de Seraphina.
— Não... não precisa. — Disse ela com a voz fraca. — Deve ter sido só um acidente...
Mas suas palavras foram interrompidas por um gemido de dor.
— O rebote de energia! — Ela levou a mão ao peito, o rosto ainda mais pálido. — A energia de repulsão da árvore de louros está forte demais!
Damien a pegou nos braços no mesmo instante.
— Aguente firme. Vou te levar para os curandeiros.
Ele atravessou a rua correndo em direção ao centro de cura, sem sequer olhar para trás.
A multidão começou a se dispersar, mas os sussurros permaneceram.
— Essa Isla é tão fria...
— A pobre garota está grávida e ferida, e ela nem pediu desculpas.
— Não é à toa que o Alfa prefere a meiga.
Fiquei parada, encarando a direção do centro de cura.
Então me virei e fui embora.
...
No dia seguinte, era o último antes da cerimônia.
Pela manhã, despachei toda a minha bagagem.
Tudo o que restava era uma mochila pequena com o essencial e minha passagem de avião.
O voo era às três da tarde.
Às dez da noite, Damien finalmente voltou.
— Como está a Seraphina? — Perguntei.
— Estável. — Respondeu ele, com a voz gélida. — O curandeiro da alcateia disse que, se ela não tivesse chegado a tempo, poderia ter perdido o filhote.
— Que bom.
Damien veio até mim com passos firmes, a raiva ainda ardendo no olhar.
— Na cerimônia de amanhã. — Ordenou, com a voz sem espaço para discussão. — Você vai pedir desculpas publicamente a ela.
— Que cerimônia?
— Nossa cerimônia de Acasalamento. — Ele franziu a testa. — Esqueceu-se?
Olhei para ele e, de repente, senti vontade de rir.
— Você realmente acha que vai haver uma cerimônia?
— É claro que vai. Já avisei todos os Anciãos. — O tom de Damien se tornava cada vez mais impaciente. — Pelo bem da honra da alcateia, você precisa ser a pessoa madura.
Seu celular tocou de repente.
— Damien, eu não estou me sentindo bem. — Disse a voz de Seraphina pelo viva-voz. — Pode vir ficar comigo?
Damien se levantou na hora. — Estou indo agora.
Pegou o casaco e foi até a porta.
— Nove da manhã amanhã. Não se atrase. — Ordenou, sem olhar para trás. — A cerimônia vai acontecer como planejado.
Assim que a porta se fechou, deixei o silêncio tomar conta.
Então, falei para o quarto vazio, cada palavra um voto final, libertador:
— Eu, Isla, rejeito você, Damien.
Ele já tinha ido embora.
...
Esperei até de manhã.
Sentada à mesa de jantar, peguei o calendário marcado com a data da cerimônia.
Com uma caneta vermelha, escrevi no dia de hoje:
O Vínculo foi rejeitado.
Depois peguei minha mala e saí do lugar que um dia chamei de lar.
A caminho do aeroporto, enviei uma única mensagem ao Ancião-Chefe:
Inicie o Ritual de Rompimento. A Cerimônia de Acasalamento está cancelada.
Às 9h30 da manhã, meu avião já estava no ar.
Abaixo de mim, a cidade, a alcateia, meu passado, ele encolhia até ser engolida pelas nuvens.
Imaginei Damien naquele momento.
Provavelmente já teria chegado ao altar sagrado.
Vestido com seus trajes mais nobres, esperando por sua noiva.