Faltam cinco dias para a cerimônia.
Entrei na câmara do Conselho da Alcateia, vestindo um terno preto de corte impecável.
Todos os Anciãos já me esperavam.
— Isla, tem certeza disso? — Perguntou o Ancião-Chefe, com a voz grave.
— Tenho. — Coloquei o pedido formal sobre a mesa. — Estou peticionando a suspensão da Cerimônia de Acasalamento.
O silêncio caiu sobre a sala.
— Por quê? — Indagou o Segundo Ancião.
— Razões pessoais.
— Razões pessoais? — O Terceiro Ancião se levantou, indignado. — Estamos falando de uma aliança entre duas famílias poderosas!
— Esse é o problema de vocês. — Virei-me para sair. — Minha decisão é final.
Discussões furiosas explodiram atrás de mim, mas não olhei para trás.
Quando voltei para o prédio, vi o sedã preto familiar estacionado.
Eles haviam voltado.
As portas do elevador se abriram, revelando Damien e Seraphina.
Seraphina parecia bem, o rosto corado e saudável.
O braço de Damien ainda estava protetoramente envolto na cintura dela.
— Isla? — Os olhos de Damien se arregalaram ao me ver. — Onde você estava?
— Resolvendo alguns assuntos.
Subimos juntos, num silêncio tenso e sufocante.
— Você limpou o jardim de ervas? — Perguntou Damien, empurrando a porta do nosso apartamento e vendo a varanda vazia.
— Dei tudo embora.
— Por quê?
— Não preciso mais.
Damien franziu o cenho, mas não insistiu.
Seraphina caminhou até a varanda, fingindo surpresa.
— Uau, tá tão vazio. Aposto que era lindo antes.
— Era... razoável.
— Isla, sou tão grata pela sua compreensão. — Seraphina se virou para mim, um brilho estranho no olhar. — Que tal jantarmos todos juntos hoje? Eu adoraria te agradecer de verdade.
Apenas a encarei.
Ao perceber minha frieza, a expressão dela mudou de imediato, os olhos se enchendo de lágrimas.
— Eu... eu falei alguma coisa errada? — Ela se virou para Damien, a voz trêmula. — Eu só queria demonstrar minha gratidão...
O rosto de Damien se fechou imediatamente.
— Isla. — Rosnou ele, a voz carregada de autoridade Alfa. — Controle-se. Seraphina é nossa convidada. Você está deixando-a desconfortável.
Olhei para ele com calma.
— Tudo bem.
Durante o jantar, serviram o caldo nutritivo.
Damien o havia pedido especialmente para Seraphina.
Reconheci o aroma no mesmo instante, folha-de-coração, uma erva cujas propriedades só se ativam para uma loba vinculada ao Alfa que a serve.
Ele serviu uma tigela e a entregou para mim.
— Você devia tomar um pouco também. Faz bem.
Peguei a tigela e dei um gole.
Uma energia estranha e repulsiva colidiu com a minha, instantaneamente.
Meu corpo recuou, a rejeição foi física, uma dor pungente, prova irrefutável da traição dele.
Damien congelou.
Ele tinha se esquecido.
Aquela erva não funcionava mais comigo.
Meu celular tocou.
Ignorando Damien, fui até a varanda e fechei a porta de vidro antes de atender em voz baixa.
— Srta. Isla? Aqui é a secretária do Clã Laurel. Seu voo foi confirmado.
— Ótimo. — Minha voz soou firme, apesar da tormenta que me consumia por dentro. — A cerimônia está cancelada. Estou pronta para partir.
Assim que desliguei, uma voz profunda e autoritária ecoou atrás de mim.
— Quem é que vai partir?