05.Susto

Jéssy

Depois de tudo que aconteceu com minha tia eu só sentia estar dando trabalho para pessoas que não tinha responsabilidade nenhuma por mim, nem a tia Luíza tinha, mas me adotou e criou com muito amor e carinho, sinto tanto por não falar a ela tudo que ela foi para mim, a mãe incrível e amorosa, hoje sinto por não ter a chamado de mãe por todo esse tempo, queria dizer a ela que ela sempre foi uma mulher incrível e um dia eu gostaria de ser como ela, mas não ando vendo nem motivos para continuar vivendo.

Lívia e Mike entraram no quarto, mais a primeira coisa que ouvi foi a voz firme dele repreendendo Rick, eu não sei o que houve entre eles e ignoro, não me importo com mais nada, nem para mais ninguém, minha vida perdeu o brilho, os dias ficaram nublados, não tenho vontade de nada.

Para demonstrar o quanto sou especial, nem meu namorado me procurou, nem sei se ele sabe que minha tia se foi já que ele viajou sem ao menos me avisar, agora espero que continue assim, não faço nem questão que me procure.

Quando Mike pediu para ficar a sós comigo, eu lhe dei atenção porque sabia que ele era a pessoa que minha tia mais confiava em vida, mas ele parecia mais atormentado do que eu.

— Não sei por onde começar, Jéssy, estou me sentindo culpado por tudo isso. — Mike senta-se na cadeira ao meu lado com a cabeça baixa. Abaixei o olhar:

— Não se culpe, foi uma decisão minha. Não sei porque me trouxeram para esse hospital, para que se dar esse trabalho se estou sendo só um peso? — ele me olhou se negando com a cabeça.

— Não fale assim. Eu tinha que ter agido antes, não pensei que isso aconteceria e te peço desculpas.

— Não precisa se explicar Mike.

— Jéssy quero cuidar de você como a Luiza me pediu, eu sei muito bem como você era e ainda é importante para ela, eu gostaria que ela tivesse te explicado tudo que me pediu, mas não deu tempo. — diz de cabeça baixa me deixando confusa. — Ela te deixou várias cartas para serem abertas no momento certo.

— Do que está falando? Você cuidar de mim? — ele me olhou com um olhar perdido, parecia ainda estar em choque. Respirou com pesar e tentou se explicar.

— Fui egoísta, me afastei porque não queria acreditar que ela tinha ido embora assim, eu tô me sentindo perdido igual a você. Não pense que é só você que está se sentindo assim com um vazio e sem chão. — Ele fala me fazendo pensar, vi o quanto ele estava abatido e sentia estar sendo verdadeiro.

— Desculpa por ser egoísta, não pensei que estivesse assim.

— Não se desculpe, eu só tentei fugir da realidade. Jéssy não será nada fácil, mas vou começar pelo começo. — me ajeitei na cama olhando para ele que não me encarava. — A Luísa me pediu para eu ser o seu tutor. E nessa primeira carta ela explica isso. — ele me entregou a carta. — Espere para ler com calma e sozinha, muita coisa vai mudar de agora em diante, para você e para mim. — Enfim me olhou para entregar a carta, olhei para a carta não entendendo.

— O que é isso, um tutor? Olha Mike você não precisa fazer isso, por mais que fosse a vontade dela você tem sua própria vida, não precisa se preocupar comigo. — me senti invadindo sua vida com aquela história que ele me contava, mal tínhamos convivência e agora do nada ele será meu tutor?

— Foi os últimos desejos dela e eu vou cumpri-los, Jéssy. — diz calmo mais em tom firme. Tentei entender o lado dele que sempre foi um grande amigo dela, mas não via como aquilo poderia funcionar, nunca tive que lidar com nada disso.

— Entendi, vai me adotar também? — ele sorriu se negando com a cabeça.

— Não, não vou te adotar, você não tem mais idade para isso, mas terá que entender algumas cláusulas que ela nos deixou. — arqueei a sobrancelha ouvindo, cláusulas?

— Como assim? — eu me senti a mais burra das criaturas com tantas perguntas.

— Calma! Não vamos atropelar as coisas, primeiro você lê essa primeira carta e depois vai me dizer se entendeu, está bem, ela deixou o passo a passo.

— Não faço ideia do que ela planejou. — me neguei com a cabeça pensando no que poderia estar escrito ali.

— Nem eu sei direito, mas também vou começar a entender agora, mas de uma coisa tenho certeza, você não voltará para casa do Rick. — joguei minha cabeça para trás escorando na cabeceira da cama do hospital não entendendo, sera vão me mandar para um orfanato ou um convento? Minha mente vagava.

— E eu vou para onde? Vai me mandar para o Brasil? — perguntei, pois sabia que o tio Rick sempre falou dessa possibilidade mesmo a Luiza não aceitando.

— Não, Jéssy, não tem possibilidades de você ir para o Brasil. Você irá para minha casa, terá que se adaptar, vamos ter que nos adaptar. — ele fala em tom serio, não consegui dizer nada, minhas palavras foram engolidas com a saliva que desceu com dificuldade, eu terei que me mudar para casa dele? Por que não poderei ficar onde já moro? Sei bem que a casa não é minha, mas nunca invadi o espaço do meu tio e jamais faria isso. Agora vou morar com um estranho? E o que a namorada dele pensa disso?

Ai meu Deus, a Lívia! Será que minha tia pensou nisso? Espero não estar entrando numa fria. Respirei fundo e argumentei.

— Sei que tem boas intenções em me ajudar, mas o que a sua namorada pensa disso? Ela mora com você também. — afirmei.

— A Lívia não tem nada com isso, pode ficar tranquila. E ela não mora comigo há muito tempo.

— Posso fazer uma pergunta?

— Claro! Pergunte.

— Não estou sendo ingrata, não me entenda mal, mas, por que terei que ir para sua casa sem que moro com os meus tios a anos?

— Ainda não dá para eu te explicar direitinho, mas é o que a Luísa queria. Não será obrigada a ir mais é melhor do que eu ter que ir morar com vocês não acham? — arregalei os olhos não entendendo, por que isso tudo? Que possibilidade sem sentido!

— É, seria estranho! Mas está bem, vamos ver se isso dará certo.

— Sei que não sou das pessoas mais abertas para conversar mais o que quiser e precisar pode falar comigo, está bem? — diz pela primeira vez olhando para mim, Mike parece ser uma boa pessoa e não duvido disso, mas a namorada dele me assusta já que nunca foi amigável, mal me cumprimenta

— Sim, entendi. Obrigada Mike! O médico falou quando terei alta?

— Ainda não, mas provavelmente amanhã, você precisa de um acompanhante?

— Não, por favor, prefiro ficar sozinha.

— Ok, vou aproveitar e mandar organizar o seu quarto e algumas coisas que estão pendentes, tem algum detalhe que queira no seu quarto? — nunca pensei que ouviria isso dele, é estranho, muito estranho.

— Não, não se incomode, ainda não digeri as informações.

— Está bem, qualquer coisa me ligue, fique com este aparelho até eu trazer o seu, aí só tem o meu número. — Ele me entregou um aparelho celular e como sempre sério.

— Ok. Não se preocupe. — Percebi que ele estava enrolando, parecia sem jeito de ir e me deixar sozinha, enquanto eu estava curiosa para ler a carta.

— Eu…

— Pode ir Mike, não se preocupe. — peguei em sua mão, ele respirou fundo e me olhou.

— Leia a carta. Qualquer dúvida me ligue. — levantou.

— Obrigada por tudo.

— Não precisa agradecer, até mais. — Mike me olhou sem jeito e saiu.

Peguei a carta da tia Luíza em mãos, fechei os olhos me lembrando dela, mas o que será que tem aqui? Por que pediu ao Mike para cuidar de mim? Minha mente vagava.

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