Capítulo 3

"Maick"

Sempre que a vejo forçando um sorriso me quebro por dentro. Aquela menina feliz e brincalhona já não existe mais, tudo que vejo é uma casca vazia que anda por aí sem rumo ou direção.

Ela dorme em meus braços, seu rosto parece tão magro, sem sinais de que tem se cuidado direito, mais uma vez ela está se afastando de todos e se afundando em si própria.

Quando isso vai parar? Já faz cinco anos, talvez até mais. Quando você vai voltar a ser minha menina travessa, aquela que nunca deixa ninguém em paz ou que some e aparece cheia de presentes.

Porque aquilo tinha que acontecer? Porque não consegui protege-la?

Respiro fundo e tiro ela dos meus braços lentamente, seu corpo magro e cheio de cicatrizes, seu rosto pálido de feição abatida, talvez eu nunca mais verei um sorriso verdadeiro nele.

Me levanto indo para o armário e pegando uma camisa, olho mais uma vez para a cama vestindo uma camisa, parece que dessa vez ela conseguirá dormir até umas onze horas.

Abro a porta do quarto já vendo algum movimento pelos corredores do prédio, fecho a porta e vou em direção as escadas, no meio do caminho paro vendo que esqueci minha carteira e chave do carro.

Merda, porque não coloco a cabeça no lugar, sempre estou esquecendo as coisas, me prendendo em coisas inúteis de novo.

Volto para o quarto abrindo a porta, me aproximo da cama onde tem uma pequena mesa ao lado, a carteira e chave estão do mesmo jeito que deixei.

Pego colocando no bolso da calça, olho Maila dormindo, em seu rosto uma lágrima escorre, engulo em seco.

-Cazzo. -falo baixo me aproximando e acariciando seus cabelos, vejo seu corpo relaxar ao meu toque.

-Por favor. -escuto baixinho seu sussurro. -Por favor, me mate. -minha mente despedaça totalmente.

-Nunca te deixarei morrer. -digo pra mim mesmo e dou um pequeno beijo em sua testa antes de me afastar.

Passo pela porta e pelo corredor como um raio, chego no estacionamento tao rapido que nem mesmo notei meus arredores, entro no carro rápido, encosto minha cabeça no volante e soco com força.

Egoísta, hipócrita, o que você vai fazer por ela? O que pode fazer para aliviar seu peso? Onde você estava quando ela estava sofrendo na mão daqueles merdas?

O que conseguiu fazer além de afasta-la do seu anjinho e ter mentido pra ela, o que você trouxe pra ela além de tristeza e dor? Escuto batidas na janela do carro e sem me dar ao trabalho de olhar abaixo o vidro.

-A mocinha dormiu? -ouço a voz de Camilo, ele é como um amigo, conselheiro e também um carrasco quando preciso.

-Sim, deixe ela acordar por si mesma, acho que ela não tem dormido ultimamente. -digo olhando pra ele, estou prestes a explodir mas não posso descontar nele.

-Beleza, vou esperar aqui então. -diz e vai se afastando em direção ao prédio grande.

Ligo o carro percorendo as ruas sem rumo, os primeiros raios de sol começam a sair clareando o caminho, paro o carro em um sinal e do outro lado vejo uma pequena padaria.

-Se depender dela hoje ela nem mesmo vai tomar o café da manhã. -procuro uma vaga pra estacionar e vou até a padaria, entro vendo o pouco movimento.

Tem que ser uma coisa leve e que ela possa comer rápido e no carro, também uma coisa fácil de digerir mas que seja uma coisa que ela goste. Vejo alguns sucos e iogurtes, vão ser esses, suco de uva e iogurte, agora pra comer uns sanduíches de queijo e presunto com alface, tomate e ovo. Acho que isso da, ela come como um passarinho quando tá desse jeito, por isso me preocupo tanto.

-Deu vinde dois e trinta. -pego três notas de dez entregando pra moça do balcão que me entrega o troco. -Obrigado pela compra.

Saio da pequena padaria sem nem olhar para trás, destravo o carro entrando e voltando pra sed, só vou entregar isso pro Camilo e ir encontrar com Sebastian no hospital, não é que não queira vê-la, só preciso colocar meus pensamentos no lugar.

Vejo os carros começando a aumentar, paro em frente ao prédio e entro vendo alguns homens já vestidos tomando café e outros jogando algum jogo idiota ao lado da cozinha.

-Camilo? -olho ao redor e não o vejo, onde se enfiou aquele cara enorme? Não é possível que eu não o ache quando preciso dele.

-Achei que ia embora. -me viro vendo Camilo com uma pistola em uma mão e uma xícara na outra. Sempre tomando café, vício total em cafeína.

-Vim trazer isso pra Maila, entrega pra ela pra mim quando ela acordar. -digo e ele me olha com uma sobrancelha levantada e sorriso no rosto.

-Ela já acordou. -diz e começa a andar pra fora do grande salão.

-Vou ir já, entrega pra ela. -digo enrolado colocando pendurado em sua pistola e saindo rápido.

Não que não queira vê-la, na verdade quero muito ver seu rosto, olhos, sua boca pequena, sentir seus cabelos e seu corpo em meus braços, mas não tenho estômago pra isso agora, minha mente está um tanto bagunçada depois de hoje mais cedo.

Saio em direção ao meu carro entrando e seguindo rumo ao hospital. Acho que prefiro ficar um pouco longe, só por algum tempo, só pra saber onde ela quer que eu fique e por quanto tempo tenho que estar lá.

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Fecho os olhos tentando esquecer suas palavras, mas é impossível, hora e outra vem aquela frase e seu rosto choroso em minha mente, mau consigo me ligar ao aí que acontece ao redor.

Meu celular começa a tocar e o pego sem olhar a tela e atendo, poucas pessoas sabem meu número pessoal, fora minha família e alguns amigos, outros nem sonham em tê-lo.

Fica um silêncio do outro lado, olho a tela vendo que número me liga, é o número da Maila, sera que aconteceu algo?.

-Oi, acordada boneca? - digo e minha voz sai grossa e rouca por causa do longo tempo sem falar.

-Maick? -a voz trêmula fala do outro lado da linha, meu coração dispara ja totalmente alerta.

-Ei, ei, ei, o que tá rolando? Onde você tá? -pergunto já me levantando e começando a andar pelo grande corredor do hospital da famiglia.

-Carro, estou com Camilo, mas estamos em problemas. -diz devagar, escuto buzinas e um longo suspiro de medo, uma pequena movimentação e silêncio.

-Camilo aqui, estamos em alta velocidade sendo perseguidos, precisamos de apoio ou não seremos capazes de chegar aí. -diz Camilo em tom sério.

-Vou m****r apoio, me fala em qual avenida vocês estão? -pego o celular colocando no viva voz e abrindo o mapa.

Dependendo da avenida temos apoio, mas se estiver vindo pela transversal, fica mais difícil chegar ate eles, Maila parece abalada demais, o que eu faço? Primeiro, respira Maick.

-Estamos na linha direta, indo para o hospital, acabei de passar pelo BarToon. -diz e suspiro aliviado, abro o aplicativo de mensagens mandando um alerta.

-Venha o mais rápido que puder. -digo desligando. Já estou na frente do hospital, algumas enfermeiras e médicos passam por mim mas não consigo focar em nada além de olhar para o portão da grande área onde fica o prédio do hospital.

Alguns minutos passam, mas pra mim parecem horas, cada segundo uma facada, cada minuto como um século. Respiro devagar tentando me acalmar quando escuto o barulho de pneus cantando e levanto minha cabeça.

Vejo o carro entrar em alta velocidade, atrás dele vem mais dois altamente armados, suspiro aliviado por ver nossos homens, Camilo estaciona ao meu lado e abro a porta do passageiro rápido.

-Maila! -digo mas ela parece não me ouvir, seus olhos estão desfocados como se estivessem presos em uma memória distante e feroz, tudo que vejo é medo e dor.

-Boneca, olha pra mim, eu estou aqui. -levanto sua cabeça, olho em seus olhos, meu coração bate rápido e descontrolado.

Vejo seus olhos ganhando foco, ela levanta os braços em direção ao meu rosto, quando confirma que realmente sou eu se joga em meus braços trêmula.

Sinto seu corpo tremer ainda mais, escuto seu choro forte e doloroso, aperto ela em meus braços tentando lhe dar conforto mas parece que só isso não é o suficiente.

Ela parece mole e sem forças, vejo o café da manhã que comprei hoje cedo derrubado no carro e sem pensar duas vezes a pego no colo para levar ela pra um lugar mais confortável.

Seu corpo pequeno treme em meus braços enquanto ela molha minha camisa em lágrimas, levo ela até um dos quartos vagos do hospital chamando uma enfermeira no processo.

Coloco ela na cama e a mesma desmaia, não sei se de fraqueza ou cansaço, seu rosto manchado de lágrimas me enche de tristeza e ódio.

Esses filhos da puta vão ser mortos assim que colocar minhas mãos neles. Não consigo mais ver ela nesse estado, mas esses ataques não ajudam em nada para que sua mente melhore, quando ela acordar tenho uma sugestão que quero fazer.

Ela não pode viver assim pra sempre. Temos que acabar com esse sofrimento o mais rápido possível e sei como fazer isso mesmo eu não querendo fazer isso.

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