Ponto de vista de Lennox

 

Eu sentia meu coração disparado no peito enquanto seguia a empregada que me levava aos aposentos de Olivia. Queria agir com indiferença, como se não me importasse, mas não conseguia. Por mais que tentasse, não conseguia esconder a preocupação estampada no meu rosto.

Ao entrar no quarto, deparei-me com a visão de Olivia deitada sem vida em sua cama. Sua mãe ajoelhava-se ao lado dela, chorando incontrolavelmente, enquanto uma curandeira a atendia. No momento em que meus olhos pousaram na figura pálida e imóvel de Olivia, uma dor percorreu todo o meu corpo. Minha respiração ficou presa na garganta e me empurrei para a frente, em direção à cama.

“Por que ela não está respirando?” perguntei, com a voz trêmula.

 Sua mãe, chorando de angústia, levantou-se do chão e correu em minha direção. Antes que eu pudesse reagir, suas mãos agarraram minha gola e ela me puxou para baixo, me encarando com dor e ódio queimando em seus olhos.

 "Você e seus irmãos estão satisfeitos agora?", ela cuspiu, com a voz transbordando de dor. "Venham, comam o cadáver dela!"

 Engoli em seco, incapaz de dizer uma palavra enquanto a culpa apertava meu peito.

Ela apertou ainda mais a mão dela enquanto novas lágrimas escorriam pelo seu rosto. "Como você e seus irmãos podem odiar Olivia tanto assim?", ela perguntou, com a voz embargada. "Vocês costumavam adorá-la! Quando eram crianças, ela era o mundo de vocês. Ela os idolatrava, os seguia por toda parte. Ela teria dado qualquer coisa por vocês três. E você? Você a protegia. A estimava."

 Sua voz se transformou em um sussurro, cheia de agonia. "Mas agora? Agora você a despreza. Por quê? Porque o pai dela foi acusado de roubo? Porque ela é uma ômega? Porque ela não é mais filha de uma gama?"

 Minha garganta apertou enquanto eu engolia o nó que se formava ali. Lágrimas queimavam nos cantos dos meus olhos e, antes que eu pudesse contê-las, elas escorreram pelo meu rosto.

Não era por isso que eu a odiava.

Talvez meus irmãos tivessem seus motivos, suas próprias justificativas distorcidas para virar as costas para ela, mas eu? Meu motivo era diferente. Uma verdade egoísta e dolorosa que eu nunca conseguiria dizer em voz alta.

Outra lágrima escorreu pela minha bochecha e virei o rosto envergonhada.

 Então-

 Um som repentino e pequeno encheu a sala.

 Um espirro.

 Virei a cabeça bruscamente na direção de Olivia, com o coração na garganta. A curandeira ofegou, e sua mãe congelou, com a respiração entrecortada.

Outro espirro.

 E então, Olivia se mexeu.

Com o coração acelerado e os olhos marejados de lágrimas, observei-a abrir os olhos lentamente. Sua mãe, que ainda segurava meu colarinho, me soltou e engatinhou até Olivia, que havia recuperado a consciência.

 Não querendo que ela me visse chorando, me virei e saí do quarto. Mudei de ideia e não fui mais correr. Em vez disso, voltei para o meu quarto e encontrei Anita, Levi e Louis na cama. Louis e Levi estavam acordados, deitados ao lado de uma Anita exausta e adormecida.

No segundo em que meus irmãos me viram, eles perceberam que algo estava errado.

 "Lennox?" A voz de Levi estava carregada de preocupação enquanto ele se sentava e pegava sua cueca.

Passei a mão pelos cabelos, exalando trêmula enquanto fechava a porta atrás de mim. Meu peito ainda estava apertado, minhas emoções à flor da pele. O olhar preocupado de Levi permaneceu fixo em mim enquanto Louis se sentava, esfregando o rosto, cansado.

 "Lennox?", Levi perguntou novamente, com a voz carregada de preocupação. "O que aconteceu?"

 Eu queria ignorá-lo, fingir que estava tudo bem, mas não consegui. A imagem de Olivia deitada ali, imóvel, me assombrava. As palavras de sua mãe ecoavam em minha mente.

 Você e seus irmãos estão satisfeitos agora?

 Dei uma risadinha seca, balançando a cabeça. Satisfeita? Não. Eu me sentia sufocada sob o peso de algo que eu nem conseguia expressar em palavras.

 “Ela quase morreu”, murmurei finalmente, com a voz rouca.

 Louis endireitou-se, franzindo a testa. "Quem?"

 Engoli em seco. "Olivia."

 Levi e Louis congelaram. O silêncio que se seguiu foi denso, sufocante. Eu podia ver o maxilar de Levi se contrair, seus olhos cheios de medo e preocupação, por mais que tentasse esconder. Louis, geralmente o mais sereno, expirou bruscamente.

 "Como assim, ela quase morreu?", Louis finalmente perguntou, com a voz controlada, mas eu conseguia sentir a tensão nela.

 "Ela não estava respirando", admiti, com a garganta apertando novamente. "Ela parecia..." Parei, balançando a cabeça. Eu não conseguia dizer. Não conseguiria. "A mãe dela... ela perdeu a cabeça. Ela nos culpou."

 Levi zombou, passando a mão pelos cabelos. "Claro que sim."

'"Ela não está errada", respondi, surpreendendo até a mim mesma. Os olhos de Levi se voltaram para os meus e, por um momento, nenhum de nós falou.

 Louis expirou lentamente, balançando as pernas para fora da cama. "E agora?"

 "Ela acordou", eu disse, desviando o olhar. "Eu fui embora antes que ela me visse."

 Levi estreitou os olhos para mim. "Por quê?"

Cerrei o maxilar. "Porque eu não queria que ela me visse."

 Louis se levantou, espreguiçando-se antes de passar a mão no rosto. "Você está agindo assim porque ainda se importa."

 Dei uma risada amarga. "Se importa?", repeti, balançando a cabeça. "Eu a odeio."

 Louis arqueou uma sobrancelha. "Você?"

Levi cruzou os braços, me observando atentamente. "Tem certeza?"

 Não respondi. Não consegui. Porque, por mais que tentasse me convencer do contrário, eu sabia a verdade.

 Eu nunca odiei Olivia.

 Eu odiava o que ela me fazia sentir.

 "E você? Ainda não se importa? Vejo a preocupação no seu rosto", acusei Levi.

 Levi zombou, irritado. "Eu não ligo para essa vagabunda!", disse ele com ódio, e eu franzi a testa.

 Anos atrás, eu poderia apostar a minha vida que, assim como eu, meu irmão tinha sentimentos por Olivia. E então o que aconteceu? O que ela fez com eles para que a odiassem tanto?

 "Que bom que ela está viva", suspirou Louis, mas eu também ergui uma sobrancelha. Eu estava curioso, muito curioso para saber o que ela fez com eles cinco anos atrás para que a odiassem tanto.

 Fiquei tão curiosa que não consegui me conter e perguntei: "Louis, Levi... me digam... o que aconteceu? Por que vocês dois de repente odiaram a Olivia?"