Capítulo 2 - A Grande Oportunidade

Naqueles dias um grupo de famosos de todo o mundo reuniram-se no propósito de realizar uma viagem aos países do Continente Africano para atuarem como voluntários, oferecendo às famílias carentes todo o auxílio necessário para que pudessem amenizar a situação caótica em que se encontravam.

Os trabalhos voluntários destes grupos incluíam benefícios variados, entre eles a alimentação, saúde e educação que estava em total escassez entre as tribos mais carentes. Entre os que decidiram se voluntariar para este ato de amor e compaixão pelas famílias africanas que se encontravam em completo abandono encontrava-se uma celebridade do cinema e da televisão que pela primeira vez aceitou tal desafio.

E corajosamente ficou frente a frente com o mais terrível cenário de miséria já visto até então. Aquilo fez com que seu coração se comparecesse ao ver tantas crianças, jovens e adolescentes sob tamanha pobreza.

Por ser mulher de extrema fama, dona de uma fortuna quase sem limites, Lorena Braga Peixoto, solteira e sem filhos que pudessem herdar seus bens no futuro, tinha em suas mãos a capacidade de estender as mãos a um número incontáveis de necessitados e ajudá-los no que precisassem.

Dessa maneira, após presenciar tamanha desgraça na vida daqueles pobres diabos doou espontaneamente milhares de dólares para amenizar parte da dor daquela gente. Entretanto, numa de suas andanças pelas diversas tribos, vilas e povoados nas proximidades das cidades visitadas se deparou com uma adolescente que era vendedora de bolos pelas ruas estreitas, com acesso precário onde alçava bem alto sua voz, anunciando a venda de seus produtos aos que ali passavam.

Achou admirável o empenho daquela menina negra, de aparência um tanto arroxeada pelo intenso calor causado pelo escaldante sol que sem misericórdia lhe queimava a pele. Então, enquanto os demais do grupo de voluntários seguiram em frente ela prendeu o olhar naquela incansável batalhadora.

 E na sua persistência em querer a todo custo vender seus bolinhos de fubá. Compadecida ao ver que ninguém demonstrava interesse em ajudá-la tomou a iniciativa de cooperar com seu trabalho.

— Olá, menina, qual o valor dos bolinhos?

— Oi, senhora, custa vinte centavos cada

— Certo, então me venda todos eles, por favor

— Todos, senhora?

— Sim, quero levar todos eles, a não ser que você não tenha interesse em vendê-los

— Claro que sim, senhora, lhe venderei todos eles!

— Então pronto, irei levá-los

— Obrigado, senhora!

Imediatamente a menina cuidou em colocar dentro de um humilde saco plástico cada um dos bolinhos de fubá contidos na vasilha de alumínio levemente amassada pelo tempo de uso. Em seguida, após ter vendido todos o seu produto para aquela moça linda, de olhos azuis e de estatura tão alta que parecia bater nas nuvens, agradece gentilmente a ajuda e retira-se dali.

Retornou para casa imensamente satisfeita com o resultado de seu trabalho. Sua mãe ficaria orgulhosa com seu desempenho — pensava em seu íntimo. Durante o transcorrer do dia Lorena não conseguiu parar de pensar na negrinha esforçada de quem decidiu comprar uma quantidade enorme de bolinhos só para ajudá-la no seu trabalho, aliás, o restante dos integrantes do grupo adoraram o sabor daquela guloseima e indagaram onde havia encontrado.

 Até se propuseram a comprar uma quantidade maior da próxima vez, principalmente quando souberam que a vendedora se tratava de uma adolescente igual a muitas outras que se esforçava para sobreviver meio a tanta miséria. Aquela comitiva formada por dezenas de pessoas importantes vindas de todas as partes do planeta tinha como principal objetivo conhecer de perto a triste situação do povo africano.

 Pretendia ajudá-los de alguma forma em suas necessidades, portanto, cada um se prontificava para dar sua contribuição humanitária. Eles andavam sempre cercados de seguranças e contavam com a proteção policial, tudo para evitar sequestros ou coisas do tipo, afinal, tratava-se de celebridades e eram comparados a uma pepita de ouro, um diamante ou rubi lapidado, visto que eram donos de muitas riquezas, seus valores eram inestimáveis.

No entanto, a milionária Lorena decidiu se apartar do grupo e manter-se distante do cerco que os protegia, indo sozinha à procura de informações que a levasse a reencontrar a esforçada vendedora de bolos, pois sentia no peito a sensação de que era seu dever estender-lhe a mão mais uma vez e sabia que poderia ajudá-la bem mais do que fez à princípio, com isso os demais a criticaram.

— Você só pode estar completamente fora de seu juízo, como pode fazer isso? Não percebe o risco que irá correr se distanciando dos seguranças? — Comentou um deles

— Que mal essa pobre gente poderá fazer contra qualquer um de nós?

— Um sequestro, por exemplo!

—  E irão me vender para quem? Como pedirão resgate para minha família lá no Brasil Se não possuem uma forma digna de comunicação nesse fim de mundo?

— Podem pedir ao governo!

— Querem saber, vocês só podem está me zoando

— Falamos sério, você está se expondo demais! — Outro acrescenta

— Está bem, Lorena, se está mesmo decidida a ficar na África e neste vilarejo por mais tempo além do que previmos, terá que ser por sua conta e risco. Como responsável por essa expedição exijo que assine um documento assumindo toda e qualquer eventualidade que vier a lhe ocorrer a partir deste momento

— Muito bem, farei isso!

A milionária seguiu o protocolo e sem se preocupar com o risco que estaria correndo ao andar por aquelas ruelas estreitas sem a menor proteção, ela saiu indagando a quem quer que fosse sobre o local onde residia a menina.

Não foi difícil obter a resposta que tanto desejava  e foi um dos muitos garotos que brincava por ali quem lhe conduziu até o barraco onde se encontrava Inês e  ABEBA, sua mãe, que tomou um enorme susto ao abrir a porta feita de tábuas apodrecidas e se deparar com aquela moça de aspecto deslumbrante, dando a impressão de ser um anjo, tão refinada era sua aparência física. Sua voz era delicada e gostosa de se ouvir.

— Olá, queira me desculpar, mas fui informada que a menina Inês mora nesta casa?

A mulher reagiu inicialmente cheia de desconfiança da visitante.

Passou o visto na estranha dos pés à cabeça com um olhar revirado, assustador, investigativo, era possível ver apenas o branco de seus olhos esbugalhados. Depois da avaliação respondeu a indagação sussurrando um idioma difícil de entender, mas para felicidade de Lorena surge logo aquela por quem estava à procura e sente um grande alívio.

— Senhora, que faz aqui?

— Nossa, que bom você está aqui menina, pois não consigo compreender nada do que essa senhora me diz

ABEBA indaga da filha quem era aquela estranha e de onde a conhecia, depois das devidas explicações, dando mais um olhar de desconfiança pra cima da moça a negra retorna aos seus afazeres, deixando as duas à vontade para conversarem.

— Afinal, que idioma estranho é esse que ela fala?

— Ela se chama ABEBA, é minha mãe, não gosta muito do inglês porque diz que devemos manter os costumes e tradições de nossos antepassados. O idioma que fala é do nosso povo. Mas entre, senhora, sente-se aqui...

— E de qual etnia é seu povo?

— Mamãe é da Etiópia e papai da tribo Zimbábue, meus avós são descendentes de escravos brasileiros que decidiram deixar o Brasil depois do fim da escravatura e retornar para sua pátria, então ele fala um pouco sua língua. Mas entre, sente-se aqui

— Bem arcaico, não compreendi nem uma vírgula. Seu inglês é ótimo, pouco sotaque, como aprendeu?

— Vocês não são os primeiros a vir aqui para nós trazer ajuda e instrução, muitos outros já fizeram o mesmo

— Sim, fui informada. Quantos anos você tem?

— Estou quase completando Catorze, senhora

— Vamos fazer um acordo de amigas?

— Sim, é claro senhora

— Muito bem, para começar meu nome é Lorena.

 E será assim que você passará a me chamar a partir de agora, combinado?

— É claro, senhora! Quero dizer, dona Lorena!

— Não precisa de tantas formalidades, basta me chamar pelo meu nome, Lorena, certo?

— Pode deixar, já entendi

— Nossa, estou muito admirada por você ser uma menina assim, tão comunicativa e por se expressar tão bem. Até parece que não pertence a esse lugar localizado no fim do mundo

— Interessante, eu também não me sinto parte desse lugar. É como se eu estivesse dentro de um corpo que não fosse o meu e habitasse num mundo totalmente inverso àquele ao qual realmente mereço pertencer

— Mas isso é sem dúvida uma verdade, minha querida, seu corpo é negro e nasceu nessa terra, mas com certeza sua alma é bem mais branca do que a de muitos europeus e não tem qualquer parte com esse lugar

— Pensa mesmo desta maneira a meu respeito?

— Lógico que sim, caso contrário não estaria aqui a sua procura nem lhe falando todas estas coisas, não acha? Mas me fale, você e sua mãe sobrevivem da venda daqueles bolos deliciosos?

— Sim. Minha mãe prepara, assa no forno de barro que temos ali atrás e bem cedo saio para vender pelas ruas, na feira e na casa de pessoas que já são clientes certos.

Aliás, muito obrigado por comprar hoje cedo todos os meus bolinhos de fubá

— Que nada, gosto de ajudar pessoas como você que lutam com garra para sobreviver. Mas me diga, o que é fubá?

— Não sabe o que é?

— Juro que não!

— Então vem, vou te mostrar...

A menina segura fortemente numa das mãos de sua nova amiga, conduzindo-a ao interior do barraco velho de apenas dois cômodos. Ao caminhar em direção ao local pretendido por Inês Lorena se comovia no íntimo ao ver a triste situação em que aquela adolescente tão admirável, apesar da cor da pele e de sua aparência miserável, vivia ao lado de sua mãe naquele local que mais parecia um verdadeiro buraco.

Eram farrapos de panos, sacolas, bolsas velhas e muitas outras bugigangas espalhadas por todo o lugar que chegou a tropeçar numa delas ao ponto de quase cair. Após ver o lugar onde eram assados os bolos acaba por entender que fubá nada mais era do que farinha de milho seco, aí tudo ficou esclarecido. Depois elas se afastam rumo a um lado qualquer e a celebridade indaga mais sobre a vida da nova colega.

— E aqui moram somente você e sua mãe?

— Não, meu pai e meus irmãos mais velhos estão pra cidade a procura de trabalho, só voltam no final da semana

— E quantos vocês são, no total?

— Bem, somos sete filhos, mas somente eu de mulher

— E todos convivem juntos neste espaço tão pequeno?

— Sim, senhora

— Santo Deus!

Lorena fica perplexa com a situação vivida pela pequena vendedora de bolos e anseia muito poder ajudá-la, então lhe surge uma ideia um tanto absurda caso fosse colocada diante da visão dos demais colegas o que não se fez necessário, visto que ela tinha seus próprios recursos e em nada dependia deles para sua tomada de decisão. Assim, decidiu expor para aquela que atraiu tanto sua atenção o que pretendia fazer a seu favor.

— Inês, tenho algo para lhe propor e espero que você concorde comigo.

Porque desejo muito lhe proporcionar uma vida melhor

A adolescente demonstrou muita ansiedade diante da oferta, e a milionária completou:

— Você aceitaria ir comigo para o Brasil daqui a alguns dias, depois que eu e o meu grupo de voluntários concluirmos nossa missão aqui na África?

Inês emudeceu diante da proposta feita pela nova amiga, quase não acreditando no que ouvia. Seus olhos esbugalhados demonstravam o tamanho do espanto que teve com a notícia.

 E apesar de ser indagada sobre qual seria sua posição quanto a oportunidade que acabava de receber nada lhe foi possível responder, pois se encontrava com a língua presa na boca.

 Percebendo o susto causado na menina que permanecia muda à sua frente, Lorena a segurou pelos braços e, sacudindo-a fortemente, tentava despertá-la.

— Ei, garota, consegue me ouvir? Anda, diz alguma coisa!

Somente depois de alguns segundos ela parece se reconectar e finalmente responde ao clamor de Lorena, que já se encontrava tremendamente assustada com a situação.

— Hã, oi senhora...

— Minha nossa, menina, por acaso pretende me matar do coração? Mas que susto danado me deu!

— Desculpe, não sei o que aconteceu comigo, paralisei de repente

— Tudo bem, esqueça isso, venha cá, sente-se aqui...

Depois de acalmá-la e também se tranquilizar, volta a tocar no assunto que havia citado antes de toda aquela situação

— Agora que estamos as duas tranquilas, me diga se aceita a proposta que lhe fiz

— A de ir morar com a senhora no Brasil?

— Sim, mas esqueça esse negócio de senhora, afinal ainda nem cheguei aos trinta, assim vou me sentir uma idosa de uns oitenta anos de idade — ambos trocam risos e a conversa continuou — e então, como vai ser?

— Olhe, nada me faria mais feliz do que ir morar no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo, não importa, só quero poder sair desse inferno de lugar. Se você quer me dá a oportunidade de mudar minha vida como iria recusar? Isso é a realização de um sonho, por isso sim, aceito de todo o meu coração!

As duas se abraçam e Lorena lhe faz uma promessa, sussurrando bem ao per do ouvido:

— Pois acredite, eu irei fazer que esse seu sonho se torne em realidade

Ambos saíram de mãos dadas de volta ao velho barraco de madeiras onde se encontrava ABEBA, preparando a massa de fubá de milho seco para que a menina vendesse no dia seguinte. Porém ela não fazia ideia das novidades que o destino havia reservado para a pequena Inês, o que a impediria de prosseguir na rotina da manhã do próximo dia.

Ao se aproximar da mãe a adolescente já trazia no rosto um largo sorriso que despertou curiosidade na mulher, sem entender ao certo o que estaria acontecendo depois que as duas ficaram por um bom tempo conversando no quintal, até que Inês lhe deixou a par de tudo.

A notícia de que sua única filha recebeu a proposta de deixar a tribo e partir com uma desconhecida para um país distante lhe causou uma terrível dor no peito. Foi um choque tão tremendo que precisou sentar-se num pequeno banco de madeira, encontrado num canto qualquer do lugar em que estavam. Não suportaria ficar distante daquela que durante tanto tempo foi sua única companheira.

Diante da situação a mulher passou a interrogar a filha e tentar colocar empecilho na sua decisão de seguir a estranha.

 — Você é meus pés e mãos na venda dos bolos que garantem nosso sustento enquanto o teu pai retorna para casa aos finais de semana, se for embora quem vai me ajudar? Ficarei sozinha nesse barraco a semana inteira sem ter com quem contar numa emergência. E se algo de ruim me acontecer? Afinal, estou com a idade avançada e não ando bem de saúde!

Depois de tantas indagações deixou a pequena vendedora de bolos confusa e preocupada em deixá-la sozinha, aquilo a fez ficar em dúvida quanto à possibilidade de aceitar ou não o convite da amiga. Depois de explicar a Lorena as incertezas da mãe, ela tenta mostrar-lhe o óbvio.

— Senhora, entendo sua insegurança e o medo do que possa vir a acontecer com a partida de sua filha, mas pare de pensar apenas em si mesma e pense no futuro dela, tente refletir sobre tudo de bom que isso poderá lhe trazer. Inês é uma moça diferente das outras que vivem nesse lugar, ela tem sonhos grandiosos e não vai conseguir ser feliz presa a um mundo que não parece ser o seu

— Dona Lorena tem razão, mamãe, jamais serei feliz aqui

A mulher baixou o olhar e pensou alguns segundos, parecia compreender que sua atitude estava mesmo sendo extremamente egoísta, pois considerava apenas suas necessidades e não às da filha e caindo em si mudou de opinião. Então parou de se expressar com seu idioma arcaico e fez uso do inglês para ser compreendida por Lorena.

— Tá certo, minha filha, pensando bem essa senhora tem razão, pode ir.

— Jura mamãe, a senhor permite que eu vá com Dona Lorena pro Brasil?

— Sim, mas com uma condição

— Qual?

— Vocês devem primeiramente aguardar o retorno de seu pai para ele dar a opinião dele, aí se ele concordar você poderá viajar

A menina olha para milionária, pedindo uma confirmação, depois fecha o acordo no nome das duas

— Combinado, mamãe, esperaremos por papai!

No final de tudo ficou acertado que a visitante aguardasse o retorno de ADOWA para que fosse decidido em comum acordo o futuro da filha, pois nada poderia ser resolvido sem seu consentimento.

Devido essa mudança em seus planos Lorena teve que permanecer na tribo “Tswa Na” , no Zimbabwe, até que tudo pudesse ser resolvido. Acontece que já havia chegado o exato momento em que o grupo de voluntários formado por diversos famosos retornassem aos seus países de origem e ela deveria se unir a eles para este fim. Porém, determinada a não sair dali sem sua pequena amiga africana optou em permanecer por conta própria e desligou-se dos demais da expedição.

 Dois dias depois o pai da adolescente retorna e fica a par da situação, decidindo enfim o destino da filha caçula. ADOWA se expressava muito bem, fazendo uso do português, pois nasceu no Brasil e veio ainda jovem morar naquela região, pouco tempo depois da abolição dos escravos.

— Então a senhora se afeiçoou a nossa filha e deseja adotá-la?

— Sim, essa é minha proposta senhor ADOWA, gostaria muito de poder dá a está menina tão determinada e inteligente a oportunidade de construir um futuro melhor, tanto para ela mesma quanto para o restante da família

— Dona Lorena, com todo respeito, mas a senhora percebe que está nos pedindo para abrir mãos de nossa única filha? É nosso sangue que após ir embora não sabemos ao certo se voltaremos a vê-la.

 Isso para nós que a amamos de toda nossa alma é algo difícil de se fazer e aceitar?

— Eu consigo, sim, entender perfeitamente o que você e sua esposa estão sentindo, pois com meus pais aconteceu a mesma coisa. Nem sempre fui uma milionária, nasci numa família bastante pobre, oriunda de uma das regiões mais miseráveis do meu país.

Semelhante a Inês eu via a forma terrível em que nos encontrávamos, cercados de extrema pobreza e sonhava poder um dia ter a chance de sair dali  ir em busca de novos ares onde fosse possível mudar de vida e ajudar meus familiares a sair daquele sofrimento, dando a meus pais uma velhice mais digna.

Sendo filha única foi difícil para eles concordarem em aceitar que aquele casal me levasse de casa, pois por nos amar imensamente nossos pais sentem uma forte dor no peito ao nós ver partir.

 Porém, senhor ADOWA, se não fosse através de minha partida com aquelas pessoas eu hoje não teria chegado aonde cheguei nem ajudado toda a minha família e parentes a saírem daquele fim de mundo para viverem hoje em completo conforto na terceira maior metrópole do mundo.

Então, por favor não impeça a felicidade de sua filha, pois vai ser através dela que a vida de todos vocês irá mudar para melhor, acredite.

 Depois de ouvir as palavras da estranha, tanto ADOWA quanto sua mulher ABEBA se convenceram de que não poderiam continuar agindo de forma egoísta e deveriam concordar em deixar a menina seguir livremente o caminho que lhe estava sendo proposto pelo destino.

A partir daquele momento Inês foi entregue à responsabilidade de Lorena que iria trazê-la ao Brasil para em seguida adotá-la legalmente como sua filha legítima e herdeira  de todos os seus bens, visto que não possuía filhos e nem irmãos para ficar com toda sua riqueza, seus pais biológicos já eram muito idosos e os adotivos de nada precisavam, sendo eles também muito ricos.

Não foi necessário arrumar suas malas para a viagem, pois nada tinha para levar. Seus pertences não passavam de algumas roupas rotas e uma sandália de couro cru feito de qualquer jeito pelas mãos do pai, que não possuía a menor condição de lhe oferecer algo melhor naquele momento. A despedida da menina africana de seus familiares foi comovente, cheia de muita tristeza e lágrimas. Cresceu até aquela idade ao lado dos pais e seus outros seis irmãos, não seria fácil ficar por tanto tempo distante deles.

 Entretanto, sabia ser necessário partir. A viagem de volta ao Brasil feita num jatinho de sua propriedade deu-se numa manhã de sábado. Após ter partido inicialmente do Continente Africano até os EUA chegaram na metrópole paulista em algumas horas de voo.

Ao desembarcarem foram recepcionados por alguns dos seguranças pessoais da socialite que as aguardavam no aeroporto e depois levadas sob proteção até sua mansão que ficava num dos bairros mais sofisticados da capital paulista.

Inês observava tudo em silêncio, admirando cada local por onde passava dentro daquele carro enorme e espaçoso, nunca antes tinha sequer tocado num automóvel igual aquele, pois de onde vinha não existia algo parecido.

Por detrás dos vidros escuros torcia o pescoço na tentativa de olhar as partes mais alta dos arranhas céus localizados à direita da larga avenida por onde passavam. Seus olhos brilhavam ao ver o trânsito engarrafado, tantos veículos, tanta gente...

Do aeroporto até o local onde um helicóptero as aguardava durou várias horas, mal pisou no solo brasileiro e pôde comprovar o quanto o trânsito nas grandes capitais do mundo era um verdadeiro caos.

Mas tudo aquilo proporcionou para aquela menina que nunca teve a chance de ver de perto a vida agitada da cidade grande a possibilidade de se maravilhar com tantas novidades. Finalmente chegaram ao Heliporto onde trocaram de transporte e tão logo se deu partida na aeronave o pavor tomou conta da pequena africana que tremeu na base.

Ali percebeu ter medo de alturas. Deitada no colo da mãe adotiva ela fez toda a viagem de olhos fechados para superar o medo que a dominava, sendo acalentada por aquela que a amou desde o primeiro momento em que a viu

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