Inesquecível Claire...
Inesquecível Claire...
Por: Tara Clear
Capítulo Um

A vista dos prédios altos em Manhattan do outro lado do rio East chamava minha atenção. Tentava focar na reunião que acontecia dentro da sala, mas meus pensamentos estavam longe.

– Jessie?

Ouvi meu nome sendo chamado e olhei para o rosto curioso de Ted.

– Sim. – respondi pigarreando e ele sorriu.

– Parecia estar longe querida.

– Só divagando um pouco.

– Certo, nós discutíamos sobre o tema para a edição de terça, você tem alguma ideia?

O celular de Savannah, uma das repórteres, vibrou em cima da mesa e eu tive uma inspiração naquele momento.

– E se nós fizermos uma matéria sobre o impacto dos aplicativos de celular na vida da mulher moderna?

Vi o olhar de Ted brilhar, mas como sempre, ele gostava de rodear a vítima como se fosse um predador à espreita.      

– Interessante, conte-me mais senhorita Marshall.

– Nossa vida hoje em dia, gira praticamente o tempo todo em torno disso aqui. – falei balançando meu celular. – Nós acordamos com ele, comemos olhando pra ele, usamos pra relaxar, e além da principal função que é falar com alguém que está longe no momento, usamos também para monitorar a quantidade que bebemos de água durante o dia e o intervalo apropriado para fazer isso, usamos para contar nossos passos diários, controlar nosso ciclo menstrual. Nós somos dependentes dessa pequena caixinha metálica. 

Vi os sorrisos de aprovação naqueles rostos ao redor da mesa.

– Essa é a minha garota. – Ted disse empolgado. – Quero você fazendo essa reportagem, vai ser a capa da edição, acho que podemos também entrevistar mulheres sobre isso, perguntar se elas usam esses aplicativos, quais usam, qual o impacto na sua vida depois que passaram a usar.

– Eu estava pensando justamente nisso. – comentei e ele sorriu mais ainda.

– Isso se chama sincronia garota, Nora você faz as entrevistas e ajuda a Jessie no que ela precisar.

– Certo chefe. – a garota sorriu confiante, feliz por estar tendo uma excelente oportunidade.

– Ok pessoal, a reunião acabou, dispensados, ótimo fim de semana e vejo todos aqui na segunda feira.

Ted saiu da sala acompanhado pelo seu séquito de bajuladores e eu dei graças aos céus por estar finalmente livre. Juntei meu material e peguei meu celular vendo que tinham algumas mensagens.

– Jessie?

– Sim.

Virei-me vendo uma Nora tímida e completamente acanhada, ela era nova na editora e não conversava com quase ninguém.

– Eu... Eu só queria dizer que estou a sua disposição, para o que precisar.

– Que ótimo, façamos o seguinte. – ela me observava concentrada. – Elabore algumas perguntas para entrevistar as mulheres e depois me mande por mensagem, eu vou avaliar se estão boas.

– Claro! Faço sim.

– Ótimo, anota meu telefone.

Depois de conversar com Nora, fui para a minha sala pegar as minhas coisas, neste momento eu só queria chegar em casa e tomar um relaxante banho quente. 

Alguém bateu na porta e eu ergui o olhar vendo Grey parado me olhando. Tentei não gemer de frustração e forcei um sorriso.

– Oi.

– E aí, vai fazer alguma coisa hoje?

Ele sempre vinha com as mesmas cantadas sem graça e a conversinha furada.  

– Vou direto pra casa. – respondi enquanto jogava o necessário dentro da bolsa e pegava meu notebook.

– Ah é, eu nem te perguntei, como vai à casa nova?

Olhei pra cara dele com vontade de mandá-lo sumir da minha frente. Faz uma semana que eu me mudei e hoje que ele veio perguntar, sem dúvida deve ter levado um fora da secretária e veio jogar charme pra mim. 

– Vai bem obrigada.

Saí da sala torcendo pra ele não vir atrás de mim, mas não tive muita sorte.

– Eu ouvi alguém comentar que fica no Queens, verdade? 

– Sim.

Parei em frente ao elevador e apertei várias vezes como se isso de algum modo pudesse fazer ele chegar mais rápido e me livrar daquele chato. Mais pessoas pararam esperando e Grey continuava tagarelando no meu ouvido, que o Queens isso, o Queens aquilo, e eu contando até dez pra não perder o restinho de paciência.

Suspirei aliviada quando as portas de metal se abriram e entrei primeiro indo para o fundo. Dei um tchauzinho para ele que fez um gesto pedindo para eu ligar, vai sonhando amigo.

O elevador parou em todos os andares até chegar ao subsolo e eu saí revirando minha bolsa procurando a chave do carro, maldita mania de já não sair com ela na mão.

Destravei o alarme e fui para a minha vaga, abri a porta jogando tudo dentro e entrei tirando aquele salto que tava me matando, meus dedinhos agradecem.

Saí para o trânsito movimentado da Franklin Street, estava no horário de pico e como hoje é sexta feira, atenção e paciência redobradas. Fui em direção a Avenida Greenpoint e liguei o rádio pra ouvir música.

Meu celular começou a tocar e atendi colocando no modo viva-voz. Era a Gabby, uma das minhas melhores amigas.

– Oie amore.

– Hola mi amor!

Ela tinha nascido em Cuba e se mudado para os Estados Unidos ainda criança. Adorava falar na sua língua nativa e era um furacão latino. Os longos cabelos negros, a pele morena e os olhos amendoados faziam dela uma mulher exuberante.

– Oi sua doida.

Sua risada escandalosa fez eco dentro do carro.

– Onde você tá?

– Indo pra casa.

– Já saiu do Brooklyn?

– Quase, ainda tô em Greenpoint, por quê?

– De a volta no carro e venha pra minha casa, Becca já está aqui. Podemos ir para alguma balada e beber muita tequila.

Tentador, mas não. Ainda tem muita bagunça na minha casa pra arrumar, isso sem falar que o Chase tá lá sozinho.

– Valeu amiga, mas fica pra próxima, tô exausta e ainda tem caixas e malas pra arrumar da mudança, e ainda tem o Chase que tá sozinho e sem ração, vou passar no mercado pra comprar.

– Ok, dessa vez eu vou perdoar porque você mudou recentemente e eu sei bem como é toda essa confusão.

Segurei o riso. Ela não passava mais do que seis meses em uma casa, por causa do seu temperamento, arrumava confusão com os vizinhos, com os proprietários e era sempre expulsa, era assim também com os empregos. A família morava na Pensilvânia e ela se recusava a pedir ajuda pra eles. Mas lá no fundo ela era uma pessoa maravilhosa e de bom coração, e eu a amava por isso.

– Obrigada meninas, venham me visitar, vocês só foram lá uma vez.

– Sempre trabalhando né amiga, quase não sobra tempo, vou ver aqui com a Becca. Adios mi amor. Besos. 

Ouvi a voz de Becca ao fundo também me mandando beijos.

– Beijos meninas e divirtam-se.

Rebecca Allison, minha outra melhor amiga. Nascida e criada no Brooklyn, mora sozinha em um apartamento dado pelos pais que são cheios da grana, a Gabby passa um tempo lá com ela quando não tem pra onde ir. Loira, olhos verdes, formada em medicina e exercendo a profissão com louvor. Reservada, tranquila e centrada, completamente o oposto da Gabby, e eu costumo dizer que eu sou o meio termo entre as duas.

Conhecemo-nos em uma noite de bebedeira muito louca quando eu tinha descoberto que o meu ex-namorado não valia nada e nos tornamos inseparáveis, indispensáveis uma para a outra. Quando falei que me mudaria para o Queens, elas me apoiaram prontamente, diferente da minha família, em especial minha mãe que surtou.

Abaixei o volume do rádio e fiz o retorno na pista, precisava passar no mercado. Estacionei e coloquei meus saltos novamente, peguei a bolsa e saí.

Peguei um carrinho grande na entrada e fui olhando a listinha no celular do que tinha que comprar, se eu não fizesse, esquecia tudo. Ta aí mais um assunto pra matéria.

O supermercado não estava cheio e fiz minhas compras o mais rápido possível, meu bebê estava em casa sozinho e quase com fome, eu sou uma péssima mãe.

Bayside não é tão movimentado quanto o Brooklyn e eu cheguei em casa em tempo recorde.

Chase já estava na porta e quando eu abri, ele pulou em cima de mim quase me derrubando.

– Oi meu amor.

Entre latidos e lambidas e toda aquela festa, consegui arrastar o enorme saco de ração até a cozinha e enchi a vasilha dele que já estava vazia.

Deixei-o comendo na cozinha e fui tomar banho, eu necessitava disso.

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