Por Hannah Luiza
Por volta das dez horas, Macla invade minha casa com seu kit de maquiagem, e começamos a nos arrumar para o baile. Assim que terminamos, Gigante buzina lá fora, e subimos em sua moto.
— Amiga, vamos nos acabar essa noite! — diz Macla, empolgada, quando chegamos ao baile.
— Com certeza! Não vim toda produzida para fazer menos.
Entramos no baile, e o DJ nos vê imediatamente, mandando um salve:
— Salve, salve, rapaziada, que a nossa rainha chegou!
Ele solta a música e, ao ouvir os primeiros acordes de “Vermelho” da Gloria Groove, arrasto minha amiga para o meio da pista, e começamos a nossa coreografia.
Descíamos até o chão e subíamos no ritmo da música. Os meninos nos aplaudiam e, quando olhei para o camarote, vi Matheus seguindo cada movimento meu. Eu sabia que estava arrasando, especialmente pelo jeito como Bruna e suas seguidoras me encaravam. Ela seguiu meu olhar até o camarote e fechou a cara ao ver Matheus me devorando com os olhos. Sorri debochadamente para ela e continuei a dançar.
Quando a música terminou, Gabriel e Gigante se aproximaram, e logo começou a tocar “Chama Ela”, da Lexa com Pedro Sampaio. Macla e eu puxamos os meninos para dançar. Estava de costas quando senti alguém me tocar, e pela reação do meu corpo, eu sabia exatamente quem era.
— Sua “mulher” está bem ali, nos olhando com cara de cú — digo apontando discretamente para Bruna.
— Minha mulher é você. Não sei por que não aceita isso. — Ele respondeu, alisando meu pescoço e deixando um beijo.
— Gosto disso — digo, me virando para ele, que me olha sem entender. — Quando você fala comigo sem aquela quantidade absurda de gírias.
Ele ri e, por alguma ironia do destino, “Malvadão” do Xamã começa a tocar. Matheus cola nossos corpos ainda mais.
— Você sabe que essa música é nossa, né?
— Sabia, não.
— Está sabendo agora. — Ele me vira e me dá um beijo na nuca. Puta que pariu, se ele continuar assim, não vai dar certo.
— Relaxa, gata! Todos sabem que somos um casal.
— As pessoas estão sabendo mais da minha vida do que eu.
— A gente já tem até uma filha juntos; só falta você dormir comigo.
— Meu querido, tira seu pangaré da chuva. — Digo, esfregando minha bunda contra ele, que solta um gemido.
— Porra, Halu! Se continuar assim, eu não aguento.
— Não usa nossa filha pra tentar me convencer de alguma coisa. E, aliás, pode esquecer esse negócio de dormir comigo.
— Eu disse que quero você comigo todo dia, Halu. Para de cú doce e fica comigo.
— Você foi o responsável pelo nosso término, querido. Mudando de assunto, preciso falar com você sobre a Bruna.
— Já sei o que ela fez. Carlinha me contou tudo, e pode ficar tranquila que ela não tem mais acesso lá na nossa casa.
— Corrigindo: sua casa.
— Não vai mesmo dar moral pro bandido aqui?
— Vamos parar de falar e dançar, que é a melhor coisa que fazemos. — Assim que digo isso, Matheus me puxa e me beija.
Eu deveria negar o beijo e sair de perto dele, mas o meu corpo traçoeiro me traiu, aprofundamos e beijo e em um momento de lucidez me afastei de que protestou.
— Amiga, larga seu homem um minutinho e vem comigo. — Macla me puxou para longe como uma salvadora.
— Eu precisava sair de perto de Mateus. — Digo a minha amiga que riu de mim debochada.
— Vocês estavam quase se pegando na frente de geral e agora tá me dizendo que precisava se afastar? Contar outra, miga que essa tá furada. — Minha amiga ainda ria. — Por que não pega a mão dele e assume logo, vocês se gostam e tem muito tesão acumulado.
— E muita tensão também. — Digo a ela.
Pegamos nossas bebidas e demos um giro pelo baile cumprimentando nossos conhecidos e conversando com algumas pessoas, fazia um bom tempo que eu não socializava assim com eles. E lembro de como meus pais adoravam vir ao baile e interagir com a comunidade e os parceiros de outros morros, sei que se passaram muitos anos, mas tem dias que sinto muito falta dos meus pais e hoje é um dia desses.
— Amiga, o que foi? Está tendo um flashback com você e o MT fodendo até o dia raiar? — Minha amiga gargalhava enquanto eu revirava os olhos.
— Não pense idiotices, vamos voltar para a pista de dança e curtir um pouco mais. — A puxei para que ela calasse a boca.
Quando chegamos no centro da pista o DJ pôs músicas animadas e demos tudo de nós na pista, minha amiga, depois de um tempo estavamos cansadas demais e sentamos para descansar um pouco.
— Por que não vamos para o camarote? — Minha amiga perguntou.
— Depois subimos lá, vamos aproveitar um pouco aqui.
Na verdade, não estava muito afim de estar lá em cima com Matheus naquele momento.